Dados do CAT da 1ª Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência, em São Paulo, mostram que entre abril e junho, o número de pessoas atendidas passou de 30 para 134; foram registrados 39 Boletins de Ocorrência nesse período
Levantamento do
Centro de Apoio Técnico (CAT) da 1ª Delegacia de Polícia da Pessoa com
Deficiência, em São Paulo, releva que o número de atendimentos, que havia caído
de 136 em janeiro para 30 em abril, voltou a subir, assim como o montante de
Boletins de Ocorrência. Segundo o documento, em maio, foram 109 pessoas atendidas,
presencial ou remotamente. Em junho, foram 134. Em relação aos Boletins de
Ocorrência, foram registrados 12 em abril, 10 em maio e 17 em junho.
Para Cleyton Borges,
supervisor do Centro de Apoio Técnico (CAT) -- que é gerido pelo Instituto Jô
Clemente (antiga Apae de São Paulo) --, esses números refletem um cenário
preocupante. "Nós percebemos que no início da quarentena houve uma queda
considerável no número de atendimentos por conta do isolamento social, que
impediu que as pessoas com deficiência pudessem vir até a delegacia ou entrar
em contato para denunciar casos de violência. Agora, com a flexibilização da
quarentena, mais pessoas estão nos procurando, tanto em atendimentos remotos
como em atendimentos presenciais", diz.
A supervisora do
Programa Jurídico-Social do Instituto Jô Clemente, Luciana Stocco, explica que
durante os primeiros meses da pandemia, muitos casos de violência não foram
observados em razão do isolamento. "A pandemia tirou as pessoas com
deficiência da escola, do trabalho e de outros lugares que costumavam
frequentar, pela necessidade de ficarem em casa para se protegerem do novo
coronavírus. Com isso, muitos casos de violência que acontecem em casa, por
exemplo, não foram observados por professores, psicólogos, colegas, entre
outros grupos", comenta. Segundo ela, "muitas vezes, as denúncias
surgem após observação de pessoas com as quais eles convivem fora de casa. Sem
essa convivência, a violência continua acontecendo, mas não é notada",
afirma. Este mês, o Instituto Jô Clemente, em parceria com o Fundo Municipal da
Criança e do Adolescente (FUMCAD), lançou uma campanha nas redes sociais para
informar a população sobre a importância de se denunciar a violência contra
pessoas com deficiência.
Para a titular da
Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, Célia Leão,
"precisamos entender que o cenário no planeta hoje é outro. A América
Latina, Brasil e Estado de São Paulo também fazem parte desse contexto".
Segundo ela, "os problemas aumentaram e as ações têm que ser reinventadas.
O número de denúncias de violência contra pessoas com deficiência aumentou,
assim como de forma geral contra as mulheres, e isso também se refletiu nas
mulheres com deficiência", diz a secretária.
A psicóloga do
Instituto Jô Clemente, Daniela Farias, que atua na equipe de atendimento do
Centro de Apoio Técnico, afirma que "parte da população acredita que a
violência só acontece quando deixa marcas, mas não é só isso. Violência é toda
forma de agressão, seja, psicológica, patrimonial, sexual, física ou violação
de direitos humanos. Quando falamos em pessoas com deficiência não podemos
esquecer que o ambiente familiar, o mesmo que promove o cuidado, pode por vezes
propiciar situações de violências, devido à ausência de uma política de cuidado
que acaba sobrecarregando a família", explica.
Disque 100
Em 2019, o Disque
Direitos Humanos (Disque 100), coordenado pelo Ministério da Mulher, da Família
e dos Direitos Humanos, registrou 12,9 mil denúncias de violências praticadas a
pessoas com deficiência em todo o país. Esse número representa um aumento de 9%
em relação ao ano anterior. Segundo o levantamento, apresentado pelo Ministério
em 4 de junho, o agressor é, na maioria das vezes, alguém do convívio familiar
ou próximo da vítima, sendo 29% das violências praticadas por um irmão, 17% por
filho, 11% pela mãe e 7% pelo pai. O documento mostra ainda que 54% das vítimas
são do sexo feminino e 46% do sexo masculino, sendo a maior parcela (58%) com
deficiência intelectual. Pessoas com deficiência física agredidas somam 19%.
"Precisamos que
a sociedade ajude a denunciar qualquer tipo de violência contra as pessoas com
deficiência, principalmente porque é comum que essas pessoas encontrem
barreiras para denunciar o que ocorre com elas, infelizmente", comenta
Cleyton. "Além disso, é preciso que o poder público trabalhe cada vez mais
no combate a qualquer tipo de violência", finaliza.
"O trabalho
conjunto da 1ª Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência, junto com o
Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria dos Direitos da Pessoa
com Deficiência, busca conter essa violência com ações concretas, como o novo
‘Programa Todas in-Rede’ no combate à violência contra a mulher com Deficiência
e o Centro de Apoio Técnico (CAT) com profissionais capacitados para acompanhar
de perto os casos que requererem maior atenção", finaliza a secretária
Célia Leão.
Além do Disque 100,
existem outros que podem ser usados para se fazer uma denúncia:
§ Disque 180: serviço telefônico
de recebimento de denúncias de violência doméstica
§ Conselhos
Tutelares:
órgãos responsáveis por receber e encaminhar denúncias de violência contra
crianças e adolescentes
§ Delegacia
Eletrônica: acessar pelo site www.delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br.
A denúncia pode ser feita no campo ‘Outras Ocorrências’
§ 1ª Delegacia de
Polícia da Pessoa com Deficiência: durante o período da pandemia, a 1ªDDPD está
atendendo, presencialmente, pessoas com deficiência, vítimas de homicídio,
sequestro, estupro e violência doméstica. A delegacia está localizada na rua
Brigadeiro Tobias, 527 - Luz - São Paulo/SP, e conta com números de telefone
para contato:
WhatsApp para
pessoas com deficiência, exceto pessoas surdas: (11) 99918-8167 / WhatsApp
exclusivo para pessoas surdas (com Intérprete de Libras): (11) 94528-9710 /
Telefone fixo: (11) 3311-3380
Sobre o Instituto Jô
Clemente
O Instituto Jô
Clemente é uma Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos que há 59
anos previne e promove a saúde das pessoas com deficiência intelectual, além de
apoiar a sua inclusão social e a defesa de seus direitos, produzindo e
disseminando conhecimento. Atua desde o nascimento ao processo de
envelhecimento, propiciando o desenvolvimento de habilidades e potencialidades
que favoreçam a escolaridade e o emprego apoiado, além de oferecer assessoria
jurídica às famílias acerca dos direitos das pessoas com deficiência
intelectual. Pioneiro no Teste do Pezinho no Brasil e credenciado pelo
Ministério da Saúde como Serviço de Referência em Triagem Neonatal, o
Laboratório do Instituto Jô Clemente é o maior do Brasil em número de exames
realizados. Por meio do CEPI - Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação do
Instituto Jô Clemente, a Organização gera e dissemina conhecimento científico
sobre deficiência intelectual com pesquisas e cursos de formação. Mais
informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 5080-7000, pelo site www.ijc.org.br
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