As notícias frequentes sobre o aumento desenfreado de contaminação pelo coronavírus levam a população, de forma geral, a ter mais receio de seguir com seus exames de rotina e de diagnóstico para doenças de tratamento mais complexo. Na área de saúde e seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), entendemos que ainda é momento de ficar em casa e manter as regras de isolamento social e prevenção, mas não podemos deixar o tratamento nem a prevenção de doenças de lado. Por medo da contaminação, os cancelamentos de procedimentos não urgentes, como exames, consultas e cirurgias também crescem e a recusa de pacientes com outras doenças ou sintomas em procurar um hospital ou clínica por medo de pegarem o coronavírus têm dado a tônica do comportamento dos pacientes. A palavra de ordem deve seguir sendo prevenção. É importante que a sociedade tome ciência de que não é necessário se preocupar com a ida aos laboratórios, pois os melhores locais estão preparados com tecnologia e procedimentos de segurança para evitar contaminação e para que os pacientes possam continuar a fazer os seus acompanhamentos e a se cuidar.
Sobre a queda dos exames
preventivos e de diagnósticos, dados apontados pelas Sociedades Brasileiras de
Patologia e de Cirurgia Oncológica, por exemplo, indicam que, desde o início da
pandemia de Covid-19 no País, ao menos 50 mil brasileiros deixaram de ser
diagnosticados com câncer. Outros milhares de pacientes, já com o tumor
detectado, tiveram os tratamentos suspensos. Só em abril, cerca de 70% das
cirurgias de câncer foram adiadas, por exemplo. Tão graves quantos os óbitos
decorrentes da COVID 19 são os casos de mortes por ano de doenças
cardiovasculares. Segundo dados reunidos pelo Our World in Data, 56 milhões de
pessoas morrem por ano no mundo. A principal causa de morte são as doenças
cardiovasculares -por sua culpa, perdem-se quase 18 milhões de vidas, quase um
terço do total. E, se forem agrupados em uma única categoria, os tipos de
câncer são responsáveis por quase 10 milhões de mortes. Além disso, sabe-se
também que a demora para o diagnóstico pode ser ainda mais grave. Dois meses
podem fazer com que o paciente saia de um cenário reversível, com
possibilidades de cura da doença, para um cenário sem volta, restando apenas o
tratamento paliativo.
Os diagnósticos de
câncer, com os quais também trabalhamos em nossas clínicas e laboratórios de
imagem em todo o país, tiveram uma redução entre 50% a 90% no Brasil nos
últimos dois meses. A estimativa foi feita pela Sociedade Brasileira de
Patologia (SBP) e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). Dito
isso, a consequência da falta de diagnóstico é que tumores acabam sendo
descobertos em estágios mais avançados. Nestes casos, tratamentos com intuito
curativo já não são mais eficazes, e as opções ficam mais restritas e
agressivas, o que pode ser evitado com a manutenção da realização dos exames de
prevenção, de seguimento oncológico. É importante preveni-lo ou tratá-lo de
forma mais inicial possível. Um estudo inglês recentemente publicado pelo The
BMJ (The British Medical Journal) constrói um cenário preocupante: a
mortalidade por câncer pode aumentar 20% por causa da pandemia.
Uma forma que
encontramos de driblar este receio da ida aos laboratórios foi a criação do
formato drive-thru em muitas das nossas unidades para oferta do teste de
diagnóstico de COVID-19. Assim, conseguimos evitar que pessoas que estão no local
para outros exames não relacionados à fase aguda do novo coronavírus tenham
contato com esses pacientes com suspeita da doença. Podemos dizer inclusive que
ações como esta somadas às medidas de reforço com a higienização dos
equipamentos e treinamento dos colaboradores e profissionais de saúde nos
laboratórios, tornam as idas às unidades de diagnóstico mais seguras do que,
por exemplo, ir ao mercado.
Desta forma, e sob o
risco de que a retomada aos exames de rotina e de prevenção extrapole a
capacidade dos sistemas na retomada da "normalidade", se torna ainda
mais necessário que as pessoas se conscientizem e mantenham seus tratamentos em
dia, mantendo a programação de exames e consultas. O cuidado com a saúde deve
ser redobrado agora e a procura pelos serviços de saúde para execução dos
exames periódicos e preventivos se tornam tão importantes quanto as medidas de
prevenção à contaminação contra o Covid-19.
Doutor Juan José Cevasco Jr. - Diretor Médico do Grupo Alliar.
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