O tipo de acidente mais frequente é a queimadura
química.
Em meio à pandemia de
coronavírus, crianças em casa multiplicam lesões nos olhos. Segundo o
oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier,
algumas acontecem por travessura, outras por acidente. Entre crianças a causa
mais frequente de ferimentos oculares são as queimaduras químicas por produtos
de limpeza ou medicamentos, afirma. “Logo no começo da pandemia atendi um
menino que pingou produto de limpeza no olho e nem conseguia abrir as pálpebras
quando chegou ao consultório”, conta. Há alguns dias, viralizou na internet o
depoimento da mãe de Bento, atendido no hospital por Natalia Belo quando deixou
cair álcool no olho.
Álcool ou qualquer outro
produto que caia no olho, recomenda lavar abundantemente, não instilar qualquer
remédio, evitar esfregar os olhos e buscar atendimento oftalmológico
imediatamente. A dor só é intensa,
explica, quando o produto atinge a córnea, lente externa do olho que é
comparada ao vidro do relógio por estar situada na frente do globo ocular. O
desconforto é leve, mas também perigoso, quando a parte atingida é a conjuntiva
que recobre a porção branca do olho.
Por sorte, apesar de ter
atingido a córnea, a queimadura nas duas crianças foi superficial e a
recuperação rápida. O problema, adverte, é que nem sempre o final dos acidentes
é feliz. Prova disso, é que as lesões e doenças na córnea são a terceira maior causa
global de deficiência visual. Só perdem para a catarata e glaucoma. Anualmente
somam 1,5 de novos casos de perda da visão.
Prevenção
Queiroz
Neto afirma que a melhor forma de prevenir acidentes nos olhos dos filhos
durante a pandemia é seguir a recomendação dos fabricantes de medicamentos e
produtos de limpeza – mantenha fora do alcance das crianças. Dentro de casa é
mais indicado lavar as mãos com água e sabão..
Tratamento
O
especialista afirma que o tratamento varia de acordo com a gravidade da
queimadura. Nos casos leves, depois de examinar e higienizar a superfície do
olho, o médico faz um curativo com
anti-inflamatório para diminuir a irritação e aliviar a dor. A recuperação
acontece em até 3 dias.
Dependendo
do tempo de exposição, o álcool pode provocar ulcerações na córnea. Foi o que
aconteceu com um universitário que seguindo uma moda lançada nos EUA derramou
vodca no olho para embriagar mais rápido. “É claro que não conseguiu o
objetivo. No olho só cabe uma gota de vodca e ninguém fica alto com uma dose dessas”,
afirma. O problema é que o estudante insistiu na técnica. O estrago foi tamanho
que depois do uso de colírio. Queiroz Neto teve de fazer um transplante de
córnea no estudante.
Não
menos graves, comenta são as queimaduras em acidentes de trabalho como foi o
caso de um motorista que queimou o olho na explosão de uma carga. Para
recuperar a visão do paciente Queiroz Neto conta que implantou na área lesada
células-tronco retiradas da membrana amniótica, parte interna da placenta. O
oftalmologista explica que a técnica só é possível porque as células da
membrana amniótica conseguem se diferenciar para reconstruir a superfície do
olho. Além disso têm propriedade anti-inflamatória e cicatrizante. Entretanto,
a técnica cirúrgica não é indicada para todos os casos porque a membrana se
transforma em vários tecidos, mas não em todos.
O que
vem por aí
Queiroz
Neto afirma que em várias partes do mundo cientistas buscam por um hidrogel que
substitua o transplante de córnea. Isso porque, as doações são menores do que a
demanda por transplante no mundo todo. O último hidrogel desenvolvido no Canadá
pode ser usado em perfurações totais, é injetado no olho em um procedimento
ambulatorial e seca em cinco minutos. Ainda não está disponível no Brasil e
apesar de ser menos invasivo que um transplante convencional, para ele a
prevenção que mantém a integridade do olho é sempre melhor.
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