Uso excessivo de
celular, divisão das tarefas domésticas e excesso de críticas estão entre os
principais motivos
O romântico “enfim, sós”, na prática, não é tão sedutor assim.
A convivência entre o casal é permeada por conflitos de todos os tipos:
pessoais, financeiros, conjugais, emocionais... E saber lidar com eles é um
desafio diário, afinal, não existe um “Manual de Instrução” do matrimônio e,
talvez por isso, os “contos de fadas” sempre terminam depois do “sim”.
Para entender quais os motivos desses conflitos durante o
isolamento social, o Instituto do Casal (IC), organização que se dedica a
práticas, estudos e educação em relacionamentos e sexualidade humana, realizou
uma pesquisa e comparou os resultados com outro levantamento feito em 2018, que
também apontava as principais razões das brigas de casal. O objetivo é analisar
o comportamento dos casais durante a pandemia.
Os dados revelam que o uso excessivo de celular subiu para
a primeira posição dentre os principais motivos de briga apontados por 33% das
pessoas. Em 2018, esse mesmo motivo ocupava o terceiro lugar. “No atual
contexto, é provável que os casais tenham flexibilizado os valores quanto ao
uso do celular, pois é por meio dele que estão se conectando com o trabalho,
amigos, família. Essa flexibilização, sem limites, tornou-se um conflito e
precisa ser administrado”, analisa Marina Simas, cofundadora do Instituto e
especialista em Terapia de Casal e Família.
A divisão das tarefas domésticas também subiu de posição e
veio parar no segundo lugar, apontada por 32% dos respondentes. Em 2018, estava
em quinto. Em seguida veio o excesso de críticas, que há dois anos estava em
quarto lugar e, agora, é motivo de brigas de 31% dos casais. A falta de
diálogo, por sua vez, caiu da segunda para a sexta posição durante o
isolamento: apenas 24% apontaram este motivo de briga na relação.
A pesquisa também revelou a frequência dos conflitos: 31%
responderam que brigam, pelo menos, uma vez por semana; 20% mais de uma vez por
semana e apenas 19% afirmaram que raramente têm conflitos. E para resolvê-los,
60% preferem conversar no mesmo dia sobre o problema, sem deixar para depois;
35% conseguem resolver a briga depois de alguns dias e 2% procuram logo um
terapeuta para resolver a situação.
Para Denise Figueiredo, também especialista em Terapia de
Casal e Família e cofundadora do IC, o fato de os casais passarem mais tempo
juntos, precisam aprender a negociar, por exemplo, a nova rotina, ritmos de
sono, atividades, humor, espaços, tarefas domésticas, entre outras coisas.
“Toda negociação pode gerar tensão, estresse e desconforto. A melhor maneira é
escolher que discussão vale a pena começar. Em uma relação, nem tudo necessita
ser discutido. Se for algo relevante, então é bom escolher a melhor hora e
conversar com o(a) parceiro(a) sempre na primeira pessoa: ‘eu sinto...’, ‘eu
penso....’, isso diminui a chance de quem escuta criar resistências. O diálogo
e o acolhimento são essenciais para essas resoluções de conflitos”.
Para
53% dos casais, o isolamento social trouxe mais ansiedade para a relação;
outros 52% afirmaram que ficar em casa o dia todo alterou a rotina e 35%
apontaram mudanças e desconfortos na área financeira. O humor e o sono também
foram afetados pelo isolamento, sendo indicados por 31% e 30% dos
participantes, respectivamente. Quando o isolamento acabar, o que os casais
mais querem fazer é viajar (18%), rever os amigos (91%) e sair (7%).
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