As crianças e os jovens de hoje estão enfrentando
desafios novos na sociedade do conhecimento, da informação, da tecnologia e do
virtual. A escola não pode mais se limitar a ensinar a ler textos escritos em
livros, jornais, revistas. Não basta decifrar letrinhas e captar a mensagem que
a superfície escrita (impressa ou digital) apresenta. Tem que cuidar do que
traz real impacto para a vida dos aprendizes.
Os gaúchos têm um ditado interessante: “pato novo
não mergulha fundo”. Querem dizer que a experiência vem com o tempo. Ocorre que
a velocidade da sociedade digital-midiática exige que nossos aprendizes possam
mergulhar já um pouco mais na superfície para saber se não estão diante de
notícias falsas (“fake news”). O que é verdadeiro no que estão lendo? Ser mero
operador adestrado não permite a um profissional dar cumprimento aos desafios
que, presentemente, a vida na comunidade e nas organizações apresentam.
Não é mais suficiente que os aprendizes recebam
informações, notícias e definições sobre “fatos”. Eles precisam ser desafiados
a buscar o entendimento das causas do que está sendo mostrado. Chuvas
assustadoras e enchentes nunca vistas antes? Incêndios devastadores na
Austrália, na Califórnia ou na Amazônia? Crises econômicas e sociais? Aquele
meteoro perigoso que estaria vindo por aí? E a avalanche de notícias falsas que
estariam a encher as mídias sociais? É preciso discernir entre o que é fato e o
que é mentira, bem como captar o significado para a vida deles.
Da mesma forma, pode-se afirmar que eles devem ser
preparados para reconhecer o que é relevante para a construção das competências
de que carecem (e de que precisarão) para dirigir suas vidas e a vida do grupo
social em que inseridos. Sócrates propôs, há quase três mil anos, que a vida
exige que nós passemos tudo por três peneiras: “as peneiras da
sabedoria”. Cada ser humano tem o desafio de estar em busca de
três valores fundamentais. Para tanto, basta responder se o que você diz, faz,
ou aprende está baseado, de modo correto, na verdade, na bondade e na
utilidade.
Instituições de ensino reconhecidamente bem
sucedidos já se deram conta do desafio atual de mudança e inovação e estão
caminhando voltadas para essa nova direção. Diversas escolas no mundo e no
Brasil estão criando hoje essa nova realidade. Avaliações indicam que já há
colheita de consequências benéficas para os aprendizes, no relacionamento
interpessoal, na autoconfiança, no respeito à diversidade, e na atitude de
autonomia aliada à de pertencimento. Além da já tradicional excelência na
construção de conhecimentos e habilidades, têm sido ampliadas as condições para
que eles desenvolvam atitudes virtuosas, conquistando competências
amplificadas.
Na sociedade atual, em que assumimos diferentes
papéis e em que se exige a convivência e a cultura do diálogo, é fundamental
que a escola e os professores possam permitir que os aprendizes dialoguem,
questionem, duvidem, tenham atitudes e posicionamentos. A nova geração, com
maior facilidade de acesso às informações e de contato com outras culturas,
deve ser desafiada e orientada ao livre questionar, criar e participar. Afinal,
é ela a autora da aprendizagem e construção ativa do exercício de cidadania. A
escola tem o dever de assegurar que isso ocorra de modo efetivo.
Eduardo Emmerick -
professor de Filosofia e Sociologia do Colégio Positivo. Jeff Freitas é
professor de Literatura e Arte do Ensino Médio do Colégio Positivo.
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