Durante três décadas como psicopedagoga em escola pública,
período somado aos 17 anos como gestora do Instituto Gabi - ong que atende
pessoas com deficiência na zona sul de São Paulo – constatei uma triste
realidade: o filho com deficiência fica, na grande maioria das vezes, única e
exclusivamente sob a responsabilidade da mãe.
Ainda vivemos em uma sociedade patriarcal, na qual impera a
máxima de que “cabe à mulher gerar filhos normais e saudáveis”. Ela ainda é
impelida assumir a educação e os cuidados diários dos filhos, quase sempre, na
sua totalidade. Muitas mulheres ainda precisam dar conta das relações afetivas
e econômicas da família. Se o filho não é só dela, por que ela ainda sofre a
pressão social de assumir todas ou grande parte das demandas do filho?
Sinto que a mulher que tem um filho com deficiência
enfrenta outros desafios. Não há a oferta adequada de recursos de
acessibilidade. O acesso a informações que podem ajudar este filho a viver com
mais qualidade de vida não está tão disponível. E cuidar de uma pessoa com
deficiência requer recursos que nem todas as famílias têm e o Estado oferece. A
mulher se fragiliza, com toda certeza, mas não tem tempo a perder. Ela precisa
seguir adiante.
É importante lembrar que, quando se fala em deficiência,
ainda se perpetua o paradigma da incapacidade, inferioridade, anormalidade e
diferença. Compreender esses conceitos historicamente construídos se faz
necessário para o rompimento de ideias e comportamentos que colocam a mulher,
geradora de um filho com deficiência, na condição de responsável maior pelos
cuidados e sobrevivência desse ser.
Minha vivência com mães de crianças, jovens e adolescentes
com deficiência do Instituto Gabi, e nas escolas onde trabalhei, demonstraram a
necessidade de se intervir nessa realidade. Primeiramente, a maioria dessas
mães relatou a dor e o sofrimento que sentiram ao receber a notícia de que seus
filhos tinham deficiência - Síndrome de Down, paralisia cerebral, deficiência
intelectual e autismo, entre outros diagnósticos. Mais doloroso ainda é que,
muitas vezes, essas mulheres sofreram com o abandono de seus parceiros e
tiveram de enfrentar a solidão nos cuidados com a criança.
Em seus relatos, elas trazem a percepção do despreparo dos
profissionais neste momento de revelar a condição do filho, quando, o que
necessitavam, era de orientação. O desconhecimento sobre o diagnóstico do
filho, somado à falta de informações, as levou, em muitos momentos, ao
desespero e sofrimento.
Não saber claramente o que o filho tem – e como lidar com
ele, segundo estas mães – dificultou, em alguns casos, a convivência durante os
anos iniciais da criança.
Algumas enfrentam dificuldades até hoje ... O apoio
de uma equipe multiprofissional teria facilitado a trajetória de vida da pessoa
com deficiência e de seus familiares.
A efetividade e a continuidade dos serviços públicos de
educação inclusiva é outra faceta da realidade que mãe de um filho com
deficiência se depara. A baixa oferta de
serviços públicos tanto ao deficiente como à sua família dificulta sua inserção
familiar e social. E continua contribuindo para fortalecer a ideia de que ser
diferente não é normal.
Neste Dia Internacional da Mulher, peço que as pessoas
olhem para esta mulher em especial, a mãe de um filho com deficiência. Aquela
que, de acordo com o olhar da sociedade, precisa ser forte. Mas, de verdade, o
que ela realmente precisa é de apoio.
Iracema
Barreto Sogari - psicopedagoga, fundadora e gestora do Instituto Gabi. Convida
todos a conhecer e apoiar o serviço de inclusão social da pessoa com
deficiência do Instituto Gabi: www.institutogabi.org.br; no Facebook @InstitutoGabi.
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