Estudo liga medo de agulhas das crianças ao
comportamento dos pais
Mais
da metade das crianças tem medo de agulhas. Os pesquisadores da Universidade de
York, no Canadá, encontraram uma forte conexão entre esse medo antecipado e o
comportamento dos pais durante as vacinas infantis.
Os
cientistas investigaram fatores que contribuem para a ansiedade que as crianças
experimentam antecipadamente à dor das vacinas. O estudo descobriu que o comportamento passado
e presente dos pais é o maior motivo para esse sofrimento.
Eles
observaram como as crianças se comportavam antes das vacinas com agulhas e
depois delas, quando eram pequenas e pré-escolares. Também observaram como os
pais interagiam com os filhos e o tipo de coisas que eles diziam às crianças,
durante a infância e na idade pré-escolar.
“Para
algumas crianças, o medo de agulhas e vacinações, antes de receber a injeção, é
tão grave que elas experimentam mais dificuldades relacionadas à dor, logo após
a vacinação, e também aprendem a evitar futuros procedimentos e compromissos
médicos”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP
36.349).
Os
pesquisadores analisaram dados de 202 pais na região da Grande Toronto e 130
crianças entre quatro e cinco anos - essas crianças estavam entre as 760 que
foram acompanhadas durante a primeira, a segunda, a quarta e a sexta imunização
até os 12 meses.
O
objetivo deste acompanhamento foi vincular a regulação da dor aos resultados de
saúde mental, de acordo com os pesquisadores. O estudo para descobrir o que
leva as crianças a desenvolverem o medo da agulha, intitulado "Previsão de dificuldade antecipatória
relacionada à dor pré-escolar: a contribuição relativa de fatores longitudinais
e concorrentes", foi publicado no jornal Pain.
Os
pesquisadores estavam interessados em saber se o comportamento dos pais, durante
a infância, refletia-se no medo de agulha das crianças, na
pré-escola. Profissionais de saúde também foram observados, antes de as
crianças receberem as vacinas.
“Esta
é uma grande preocupação de saúde pública e enfatiza a importância de entender
o que leva ao medo da agulha em crianças pequenas e como podemos prevenir isso.
As descobertas evidenciam a importância de intervenções para ajudar os pais a
apoiarem e auxiliarem melhor seus filhos durante os procedimentos médicos
doloridos, desde suas primeiras experiências com injeções, ainda bebês”,
enfatiza o pediatra.
Reduzindo
a dor durante a vacinação
Uma
nova orientação canadense visa
garantir que a dor durante a vacinação seja minimizada em crianças e adultos. A
diretriz, publicada no CMAJ
(Canadian Medical Association Journal), é direcionada a todos os
prestadores de cuidados de saúde que administram vacinas.
“A
dor das vacinas é comum e pode fazer as pessoas hesitarem em se vacinar
novamente, mesmo adultos. Isso pode colocar as pessoas em risco de contrair
doenças infecciosas que são em grande parte evitáveis através
da vacinação”, afirma Chencinski.
Esta
orientação ampliada e atualizada inclui recomendações para crianças e adultos.
A orientação de 2010 era focada apenas em crianças. Um grupo multidisciplinar
de 25 pessoas de todo o país (equipe HELPinKids & Adults) com
experiência em dor, medo, vacinas, enfermagem, epidemiologia e outros campos
relacionados revisou a literatura para desenvolver a diretriz.
“Muitas
dessas recomendações podem ser usadas em uma variedade de configurações onde as
vacinas são realizadas, seja no consultório de um médico ou num ambiente de
saúde pública, como uma escola ou um local de trabalho”, defende o pediatra.
Principais recomendações:
Todas
as idades:
- A aspiração não deve ser utilizada durante injeções intramusculares em pessoas de todas as idades. (A aspiração é puxar para trás a seringa para garantir que a agulha não entre em um vaso sanguíneo);
- Injete a vacina mais dolorosa durante consultas diferentes.
Crianças:
- Crianças menores de 2 anos devem receber aleitamento materno ou fórmulas, durante a vacinação;
- Abrace as crianças de 0 a 3 anos, durante as injeções, para proporcionar conforto;
- Recomenda-se uma posição vertical para crianças e adultos com mais de 3 anos, porque proporciona uma sensação de controle e pode diminuir o medo. A retenção de crianças não é recomendada;
- Aplique analgésicos tópicos antes da injeção em crianças menores de 12 anos;
- Os pais de crianças com idade inferior a 10 anos devem estar presentes durante a vacinação para reduzir os níveis de angústia da criança.
Os
autores também recomendam educar pais, crianças mais velhas e adultos sobre o
que esperar da vacinação, o que podem sentir e o que eles podem fazer para
gerenciar a dor.
“Nenhuma
intervenção única nesta diretriz é capaz de prevenir toda a dor (ou seja,
alcançar um nível de dor de "0"). As intervenções individuais podem
ser combinadas, conforme apropriado, para melhorar o alívio da dor. Para
crianças menores e em idade escolar, devido aos altos níveis de angústia em
relação às vacinas, por meio de injeção, e maior potencial de danos, em longo
prazo, (como, por exemplo, desenvolvimento de medo de agulhas e prevenção de
cuidados de saúde), recomenda-se uma abordagem mais abrangente e consistente”,
diz o médico.
No
entanto, faltam evidências para grupos específicos. Houve uma diferença notável
nas evidências de pesquisas para populações de adolescentes e de adultos. Os
esforços devem se concentrar em tornar as campanhas de vacinação uma
experiência de saúde mais positiva para as crianças.
Moises
Chencinski
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