As únicas pessoas interessadas na posse
de Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho são ela mesma e seu pai Roberto
Jefferson. Um caso de família. A incompatibilidade entre a parlamentar e a
pasta não se estabeleceu em virtude de estar respondendo a ações trabalhistas,
pois essa é uma quase incontrolável fatalidade nacional. O que a desacredita
para a função é a natureza das reclamatórias e da condenação que já sofreu. O
presidente Temer mantém a indicação por dever de ofício: o PTB é importante
para a base do governo no Congresso e não convém desagradar seu principal
líder. Então, certo, certo. É bom que Cristiane Brasil suma e não assuma.
No
entanto, essa é uma decisão da fração política da pirâmide do poder. As
revelações surgidas não constituem pauta para o Poder Judiciário fora do âmbito
em que já tramitam – a Justiça do Trabalho. A Constituição é muito clara ao
afirmar que nomeação e exoneração de ministros de Estado são atos de
competência exclusiva do presidente da República. Trata-se de um dos muitos
preceitos onde a única “leitura conforme a Constituição” é a que se faz na
própria Constituição. Ao avocar a si o poder de vetar a nomeação de um ministro
de Estado, o magistrado empurrou sua cerca para além da divisa natural,
institucional. Temos visto sucessivos e excessivos exemplos desse tipo de
comportamento para não ficarmos preocupados quando ele se manifesta. Em grau de
recurso, o desembargador do TRF2, por sua vez, não examinou o mérito da
questão; apenas disse não haver no caso “manifesto interesse público”. É de
interesse público, sim, Excelência. Ninguém quer um governo de juízes.
***
Muito pertinente o protesto das atrizes e
dos atores que se vestiram de preto na entrega do troféu Globo de Ouro em Los
Angeles. São verossímeis os relatos que nos últimos meses desabaram sobre o
mundo hollywoodiano contando histórias de assédio e de carreiras construídas
entre as câmeras e as camas. Simetricamente, se afigura igualmente verossímil
que alguém busque nos microfones a fama que não obteve nas telas. Imagino que
nem metaforicamente seja prudente pôr a mão no fogo pela sanidade dos
bastidores do mundo do cinema. Então,
certo, certo. Como dizem as militantes do movimento, “Time’s up!”.
No
entanto, não posso deixar de conceder razão a Catherine Deneuve quando
condena o estupro e a violência contra a mulher, mas denuncia um feminismo
muito em voga, que converte o homem num malfeitor potencial e toda tentativa de
sedução em assédio. Temos visto sucessivos e excessivos exemplos desse
feminismo socialmente nocivo. Ele é bem qualificado pela escritora iraniana radicada na França, Abnousse
Shalmani, em matéria do jornal El país: “O feminismo se transformou em um stalinismo
com todo seu arsenal: acusação, ostracismo, condenação”. Essa definição se
encaixa no feminismo que vejo promovendo manifestações públicas nas ruas de
nosso país; feminismo grosseiro, nudista, apelativo, feio como o diabo,
expressando repulsa a tudo que seja masculino (misandria). Então, certo, certo. Catherine tem razão.
No entanto, é preciso
reconhecer que ela e suas amigas, no manifesto que assinam, põem foco no que
denominam liberação sexual, que não se tem revelado benéfica, dada a dissolução
que provoca nos laços familiares, respondendo diretamente por altíssima e
crescente quantidade de famílias monoparentais das quais sumiu a figura
paterna.
Então, certo, certo.
Prudência, moderação, justo discernimento, bom senso, limites, são virtudes e
qualidades sempre necessárias e de benéficos resultados.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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