O universo organizado, que propicia inteligência e
vida, só é viável mediante a observância de leis. São acontecimentos
obrigatórios. Fora deles é o caos. No mundo físico, não são interpretáveis.
Valem sob um único sentido. Sem o posicionamento da terra no exato ponto do
sistema solar não haveria vida em nosso planeta, assim como não há em outros
astros do sistema, aparentemente. O mundo, contudo, está repleto de galáxias e
sistemas centrais.
Habitamos a periferia da Via Láctea. Se não há, por
insuficiência evolutiva do homem, correlação entre a exatidão das leis cósmicas
e das leis dos homens, talvez seja essa a causa de nossos sofrimentos. O
saudoso professor do Largo São Francisco Goffredo da Silva Telles percebeu esse
liame que soa insólito aos positivistas, ao estudar o tempo e o espaço na
formação das leis humanas e escrever seu belo e incompreendido livro "O
Direito Quântico".
As leis que governam o universo estão em perfeita
sintonia na emergência da vida humana. Se a força da gravidade fosse mais
forte, as estrelas teriam exaurido seu combustível de hidrogênio mais
rapidamente e a vida humana não teria tido tempo de evoluir. Ou a água poderia
estar ausente, se as forças que ligam os átomos fosse milimetricamente maior.
Discute-se se nossa consciência medita sobre um sistema aleatório ou se seria
totalmente improvável, sem a determinação dessas leis, nossa existência. Se o
universo é resultado de um fim inteligente, o que envolve a existência de um
ser superior e poderoso, é tema que até hoje abala os fundamentos da ciência e da
filosofia.
Contudo, o importante é verificar que, sem a absoluta e
quase que inacreditável exatidão dessas leis, não estaríamos escrevendo essas
linhas. Desse postulado é possível estudar as sociedades humanas, suas
incongruências e seus devidos graus de desenvolvimento, e, particularmente,
nosso atual Brasil.
Nosso país, antes tido como "país dos
bacharéis", devido às primeiras Faculdades de Direito em São Paulo e
Olinda (1827) e a fluência unilateral do conhecimento no campo do direito,
voltado sobretudo a uma direito civil posto a serviço do domínio senhorial,
encontra-se imerso num ordenamento jurídico caótico, em primeira plana, e, em
segunda, à sua violação corriqueira.
À falta de coisas melhores, cresceu imoderadamente o
número de nossas leis.
E, quanto mais multiplicadas, mas multiplicados são os
atos de sua violação. Um paradoxo do excesso. Acabamos sendo, como é curial, o
"país da impunidade".
Exemplos: o Código de Defesa do Consumidor
criou portentosos direitos, sobretudo às pessoas humildes, que não podem
adquirir um liquidificador com um pequeno defeito, não fosse pelo justo pelo
dinheirinho contado; empresas de grande porte, entretanto, não raro se negam a
observar os direitos dos compradores. Os direitos consumeristas constituem
grande parte de nosso judiciário atravancado. Criaram-se em nosso país agências
reguladoras. Seria interessante verificar seus marcos normativos para se
constatar que tais agências acabaram firmando um compromisso societário com
grandes empresas monopolistas, remetendo ao custoso judiciário - ou às calendas
gregas - as violações cometidas contra a população. Nossa previdência oficial
faz cálculos de benefícios incorretos, sempre a seu favor, como se fosse um
comerciante ardiloso aos nos dar o troco. O país precisa de insólitas
"Justiças Previdenciárias".
Essas são as violações menores, partidas do próprio
Estado, responsável pelo maior número de ações judiciais em tramitação e,
muitas delas, quando terminam, em favor do cidadão, percorrem a "via
crucis" dos precatórios, ao que se sabe única no mundo, para blindar um
Estado cronicamente inadimplente.
Inadimplente há décadas. Porque há décadas a corrupção, o
verme que corrói a estabilidade interior deste planeta, existe, em enorme
escala. Se houvesse condições de somar todos os valores derivados do erário
público, num período de meio século, pelo menos teríamos consciência do porquê
somos um país inviável. Nos últimos tempos, a corrupção aumentou e assustou
porque medrada no campo de um partido supostamente de trabalhadores, que gerou
fundadas esperanças e decepções aos mais pobres. Toscas, vieram à luz.
Claro que há outras causas de nossa pobreza política, mas a corrupção é a
determinante. As operações levadas a cabo pelo juiz Sérgio Moro, com prisões
muitas vezes inopinadas, foi a primeira medida saneadora deste país. Em face da
insólita blindagem dos políticos por um foro por privilégio de função, não será
abolida a impunidade e, graças a isso, a praga, que Rui Barbosa já comparava à
saúva e a cachaça, persistirá a derruir esta significativa parte do planeta
terra.
Filósofos renomados afirmaram que a estabilidade das leis
cósmicas propiciou a evolução das espécies na Terra. Uma única derrapagem seria
o suficiente para o planeta secar. "Um milagre", disseram. Em seu
interior, porém, e principalmente em nosso Brasil, o "milagre"
estaria na consciência de todos de que não podem distanciar-se um milímetro da
ética e do direito. Lamentavelmente, um milagre impossível. Ocorrente numa
enormidade de outros países, também; dada a correlação da vida humana e das
leis cósmicas, com melancolia constatamos que provavelmente este será nosso
último século, numa experiência histórica fugaz. A esperança está em que átomos
da amizade - que a física quântica denomina de bósons - por sua capacidade de
entrosar-se com outros corpos cósmicos -, persistentes após a morte dos seres
humanos, criarão novos mundos. Sem Estado e sem leis.
Amadeu Roberto
Garrido de Paula - Advogado e membro da Academia
Latino-Americana de Ciências Humanas.
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