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Hoje vamos abordar
sexualidade na terceira idade. Cerca de 90% dos casais na faixa etária de 60 a
64 anos são sexualmente ativos. No entanto, esses números caem brutalmente com
o avançar dos anos. Ao chegar aos 80 anos, apenas 29% dos homens e 25% das
mulheres continuam com a vida sexual em dia.
Para alguns, a
idade avançada é um período de liberdade, em que há menor pressão com o
trabalho e com as obrigações do dia a dia. E isso pode contribuir positivamente
para a vida sexual. Para outros, é um momento de não se importar tanto com a
atividade sexual e buscar outras formas de companheirismo e compartilhamento
interpessoal.
De um modo geral,
com o avançar da idade podem surgir algumas disfunções sexuais, entre elas uma
dificuldade maior na excitação (resposta mais lenta), disfunção erétil
masculina, conhecida como impotência (relacionada, principalmente, a doenças
como hipertensão e diabetes), desejo hipoativo (perda da libido) e dispareunia
(dor à relação sexual) devido ao ressecamento vaginal.
A diminuição do
desejo e as disfunções sexuais podem estar relacionadas tanto à queda dos
níveis do hormônio testosterona quanto a doenças como diabetes, que prejudica a
circulação sanguínea, ou depressão, que contribui para perda de autoestima e
falta de disposição, além do uso de medicações para controle de doenças
crônicas que apresentam efeitos colaterais. Pode também ocorrer vergonha do
corpo e mesmo a perda da intimidade sexual com o parceiro com passar dos anos.
Mas, por que se
manter sexualmente ativo? Estudos mostram que homens que têm mais de dois
orgasmos por semana têm índices de mortalidade mais baixos. Esses números
demonstram uma correlação entre atividade sexual e longevidade, mas não provam
que o sexo prolonga a vida. O que provavelmente ocorre é que as pessoas que
estão bem e saudáveis tendem a se envolver mais em atividades sexuais. Ou seja,
saúde física, psíquica e intelectual estão relacionadas e para se manter
engajado sexualmente, é necessário que a saúde como um todo esteja bem.
Além disso, além
de promover o bem-estar, a atividade sexual contribui para a manutenção de uma
autoestima elevada e o espírito jovem!
É importante
salientar que não há problema algum quando o idoso está sexualmente inativo e
se sente feliz e pleno desta maneira. Mas, quando desejar retomar ou aprimorar
a sua vida sexual, algumas medidas podem ser tomadas:
1.
É importante estar com a saúde em dia. Realize
exames preventivos e mantenha bom controle das doenças crônicas. É recomendável
o acompanhamento com um geriatra, cardiologista, ginecologista ou urologista;
2.
Para as mulheres, no caso de secura vaginal, um
tratamento médico será essencial para evitar dor ou lacerações durante a
penetração. São indicados lubrificantes à base de água ou creme vaginal com
estrogênio, caso a paciente não apresente contraindicações;
3.
Se houver diminuição do desejo, é possível utilizar
medicações, como o hormônio testosterona ou outros, sempre com avaliação
médica;
4.
Atente aos medicamentos que podem prejudicar o seu
desempenho sexual. Converse com o seu médico se há possibilidade de
substituí-los por outros que não interfiram ou que ajudem na função sexual.
Deixe-o saber que a atividade sexual é importante para você;
5.
Muitos homens hesitam em ir ao médico, mas
principalmente no caso de dificuldade de ereção, o tratamento pode ser simples.
Adiar a avaliação médica só prolongará o sofrimento. Nesse caso, o médico mais
indicado é o urologista, que saberá identificar doenças ou medicações que podem
interferir na função sexual e oferecerá o tratamento mais adequado.
6.
No caso de sintomas depressivos ou ansiosos, é
importante passar por avaliação psicológica e psiquiátrica;
7.
Caso não haja contraindicações, a prática de
atividade física regular, tanto aeróbica quanto a musculação e alongamento, é
muito benéfica. Melhorar o condicionamento físico, aumentar a massa muscular
para prevenir lesões e aumentar a flexibilidade ajudam na hora da atividade
sexual.
Estando com a
saúde em dia, para melhorar a vida sexual de um modo geral, o segredo é estar
disposto, ser flexível e capaz de adaptar-se às mudanças impostas pelo
envelhecimento. Algumas dicas podem ajudar nesse processo:
1.
Autoestimulação: é a melhor forma de se conhecer e
de ficar à vontade com o próprio corpo. Algumas pessoas podem apresentar alguma
resistência por questões culturais, mas a questão de ser flexível e ser capaz
de adaptar-se começa aí!;
2.
Desacelere: perceba que a excitação sexual demora
mais e requer mais estimulação manual, tente controlar a ansiedade!;
3.
Aproveite ao máximo as preliminares. Muitas vezes
não é necessário chegar à penetração para a obtenção de prazer. Isso vai tirar
a pressão por desempenho;
4.
Comunique-se: compartilhe o que faz você se sentir
bem com seu parceiro;
5.
Aproveite todos os órgãos dos sentidos: explore a
habilidade tátil, visual, auditiva e até mesmo olfativa;
6.
Reserve um momento para preparar uma experiência
especial - experimente iluminação, música, velas, óleos, perfumes e incenso.
Tente um novo lugar.
Se você estiver
interessado em ser sexualmente ativo, com ou sem envolvimento na relação
sexual, e as sugestões acima não forem suficientes para ajudá-lo a atingir o
nível de atividade que você deseja, peça ajuda. Seu médico urologista ou
ginecologista pode ajudá-lo (a) ou encaminhá-lo (a) a um terapeuta sexual. Não
caia na armadilha de pensar que o sexo é apenas para os jovens. A sexualidade
tem a ver com quebrar estereótipos, comunicação aberta, escolhas individuais e
embarcar em um caminho de autodescoberta maravilhosa.
Dra. Nelly
Kobayashi (Sexóloga) - Formada pela faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (USP) com residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital das
Clínicas da FMUSP, a Dra. Nelly possui título de especialista em Ginecologia e
Obstetrícia (TEGO) pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (FEBRASGO) e em sexologia pela Universidade de Pisa (Itália). Já
atuou como médica colaboradora no setor de sexualidade no ambulatório de
Ginecologia do Hospital das Clínicas da FMUSP e atualmente é médica da Clínica
VidaBemVinda e pós-graduada em sexualidade humana pela Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP).
Innuendo