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terça-feira, 21 de março de 2023

O poder emocional para enfraquecer a Esclerose Lateral Amiotrófica?


De acordo com dados da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) a Esclerose Lateral Amiotrófica acomete cerca de 40/50 mil brasileiros e é considerada a segunda causa de incapacidade neurológica no país.

O psicoterapeuta Dr. Angelo Monesi, da equipe multidisciplinar de reabilitação do Dr. Beny Schmidt, afirma que estar emocionalmente saudável, feliz com as conquistas de toda a trajetória e grato pela vida é uma arma potente para inibir a progressão da doença.

“Quanto mais a pessoa estiver preenchida dela mesma contando a sua história e ouvindo de outras pessoas um feedback sobre suas conquistas, a pessoa fica preenchida dela mesma. Se o eu próprio estiver preenchido, a doença não entra, ela não cresce. Ela não progride. A pessoa precisa se preencher da própria história, porque a biografia de cada pessoa é sagrada”, pondera Monesi.

Segundo Monesi, a evolução da ELA está diretamente ligada a condição psicológica. As restrições físicas vão surgir, por ser um diagnóstico que atinge a capacidade motora, mas a saúde emocional e capacidade cognitiva podem ser preservadas. E até a capacidade motora pode ser trabalhada com a inteligência neuromuscular para retardar a fraqueza e a atrofia muscular.

Conversamos com o Dr. Angelo Monesi para aprender a trabalhar melhor o nosso emocional e inibir a progressão da ELA:
 

Dr. como é possível estimula a saúde emocional para pacientes com a ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica)?

Primeiro é preciso fazer uma revisão serena da biografia da própria pessoa. Os pacientes recebem o diagnóstico como se fosse um câncer e automaticamente vem o momento do enfraquecimento. A primeira coisa é a negação, depois vem o momento de blasfemar “por que eu?” e depois entra em uma outra fase que é a busca pela culpa “sou eu o culpado pela doença?”. São processos que não levam a nada. O início do trabalho terapêutico é de desmistificar essas coisas e de dizer que o diagnóstico não é um diagnóstico de finitude. Ninguém está determinando um tempo de vida. Tem pacientes que receberam diagnóstico de 6 meses de vida e hoje estão com 8/9 anos de evolução de tratamento. Estão hígidas. Estão mentalmente saudáveis, conseguem se comunicar. As pessoas vão tendo restrições físicas ao longo do tempo, por conta da doença do neuromotor, mas a capacidade cognitiva está preservada. A pessoa está totalmente lucida.

 

O tratamento pode ser realizado remotamente?

Quando você vai para a terapia, você precisa digerir o que foi falado. Eu tenho pacientes que moram longe de São Paulo e normalmente levam 1 hora para chegar ao consultório. Eu sugiro a eles que gravem a consulta. Eles gravam e quando retornam, ouvem a consulta de novo. Então, ele faz a mesma consulta duas vezes. Essa segunda vez que ele ouve, ele está digerindo a consulta. E se ele quiser, na próxima consulta, ele pode ouvir de novo para absorver ainda mais tudo que foi falado na última sessão. Esses pacientes melhoram em uma velocidade meteórica. Já o paciente on-line ele fala com você, mas olha a tela porque está recebendo mensagem do WhatsApp. E para piorar, quando acaba a consulta ele já está conectado ao trabalho ou comendo um lanche. Enfim, ele não digeriu. A minha recomendação para pacientes com ELA é sempre fazer a terapia presencial.

 

E quando a coordenação motora avança e o paciente fica nervoso pelas dificuldades de falar e se locomover?

Por isso é importante iniciar a terapia anteriormente para auxiliar nesse processo. O que a gente precisa fazer antes desse estágio é descobrir caminhos de comunicação. Isso, como terapeuta, nós começamos a criar formas de se comunicar. Uma vez eu recebi um paciente e ele não abriu a boca. Nesse consultório, eu tinha duas gatas e por alguma razão essas gatas entraram na sala. Uma se colocou debaixo da cadeira dele e a outra subiu no colo. Minha assistente queria tirar, mas ao ver a reação do paciente eu pedi para deixar. Ele começou a fazer carinho no animal. Eu questionei se ele gostava de animal e ele balançou a cabeça que sim. Então, perguntei se ele tinha algum animal e ele, com dificuldades, respondeu que sim. E assim consegui fazer a consulta. Foram 50 minutos de conversa e eu consegui tirar toda a história que eu queria. Mas essa é uma situação convencional? Não. Foi um acidente. Mas foi impressionante a forma de conseguir mobilizar esse paciente. Esse paciente que vai se restringindo fisicamente, você muitas vezes consegue quebrar essa barreira de forma inusitada ou de forma criativa. O trabalho é provocar a conscientização de que, quanto mais você reduz a matéria, mais você eleva o espírito. Ou seja, quando mais você percebe a restrição física, fica nítido a importância do trabalho terapêutico para dar esse suporte. Chega um momento que o paciente tem a necessidade da terapia, eles aguardam as sessões, por ser uma forma de fortalecê-los emocionalmente.
 

Quais atividades no dia a dia podem fortalecer a saúde emocional do paciente?

Água cura. Sono cura. Musica cura. Passear com cachorro cura. Tomar banho de sol é remédio. Brincar com animal é remédio. Conversar com o amigo é remédio. Caminhar ao ar livre é remédio. Então, se nos mantermos aberto a tudo isso a nossa expansão continua e uma vez expandido e preenchendo os espaços dentro de você, a doença não entra. Você não permite que esse espaço para que ela evolua. Se a gente abre espaço para essas curas, não deixamos as doenças se proliferarem. 

E para finalizar, o Dr. faz um apelo público para ajudar esses pacientes. “É importante lembrar da questão financeira desses pacientes. A evolução desses casos demanda muito esforço da família. E vale um alerta ao poder público da necessidade de fazer projetos sociais para cuidar dos pacientes acometidos pela Esclerose Lateral Amiotrófica”, conclui o especialista.


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