Não
há como negar a correlação direta entre os alimentos e a saúde. Nosso corpo
depende do aporte dos nutrientes que são essenciais para a vida. À medida que
faltam, ou que algo seja consumido em excesso, nossa saúde deteriora.
Em
torno do ano 400 antes de Cristo, Hipócrates, considerado por muitos o pai da
medicina, junto com seus alunos, registrou suas observações sobre saúde,
evidenciando esta relação. Tanto é que o procedimento mais recomendado por ele
foi colocar o paciente em jejum, para depois iniciar uma alimentação adequada,
antes de aplicar qualquer remédio que fosse. Aliás, uma das maiores
preocupações de Hipócrates era que o médico não deveria receitar uma droga, ou
iniciar um procedimento, que pudesse resultar em um mal maior para o paciente.
E isso continua valendo!
Vamos
ao que nos preocupa: se nos alimentarmos mal, mesmo antes que apareça alguma
doença decorrente, o corpo manda sinais. Sintomas como azia, refluxo,
dificuldades no sono, dor de cabeça ao acordar, irregularidades intestinais,
são indicações infalíveis de uma alimentação inadequada. É claro que estes
problemas resultam em sensações que influenciam nosso humor e, por
consequência, o modo como encaramos a vida e seus desafios. A disposição para o
trabalho muda, com repercussão na produtividade e na satisfação com o ambiente
de trabalho. O impacto nas relações com os colegas é grande, mas não vem
sozinha. Também sofrem as relações com amigos e familiares. A vida fica mais
difícil.
O
problema maior com uma alimentação inadequada é que os efeitos negativos, na
maioria, demoram muito para aparecer. Um deles, fácil de se perceber, embora
nem sempre acenda em nossa mente como um alerta, é o sobrepeso. O sobrepeso é,
atualmente, um problema mundial: 82% por cento dos norte-americanos estão acima
do peso ideal, 42% estão tão acima deste peso, que são considerados obesos. No
Brasil 60% das pessoas está acima do peso, 27% são obesas. É pouco? Um em cada
quatro brasileiros é obeso!
Hoje
em dia, segundo a Organização Mundial da Saúde, o mundo como um todo tem mais
problemas por excesso de peso do que pela falta de alimentos ou desnutrição.
Veja que estes problemas não são um só: a falta de alimentos é quando as
pessoas passam fome. Desnutrição é quando se come errado e falta algum
nutriente essencial, de forma que a pessoa adoece. Por outro lado, excesso de
peso somente surge quando se come errado. A repercussão do sobrepeso e
obesidade são inúmeras. Na atual pandemia da Covid-19, ficou evidente que a
obesidade é o segundo maior fator de mortalidade (ou comorbidade). Só perde,
até o momento, para a idade. Ou seja, quanto maior seu sobrepeso, maior a
chance de ter quadro grave da Covid-19, ou mesmo ir a óbito. O quadro mais
importante, entretanto, está no fato de que as evidências científicas apontam
para a obesidade como a base da grande maioria das conhecidas doenças crônicas
não transmissíveis, que são pressão alta, esteatose hepática (gordura no
fígado), Diabetes Tipo 2, doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, insuficiência
renal crônica, demência, Alzheimer e diversos tipos de câncer, se não a
maioria. Veja que, somando tudo, estas doenças são a causa de 71% das mortes a
cada ano, no mundo. Pior que estas mortes são precoces, ou seja, se
conseguirmos evitar as doenças crônicas, podemos pensar no aumento de em até
quinze anos na longevidade da população mundial, que hoje está em 73 anos e
caindo cada vez mais. Uma pessoa com uma destas doenças tem uma pior qualidade
de vida com o avanço da idade, e com altos custos com os tratamentos médicos,
além da incapacitação para o trabalho. Também de acordo com a Organização
Mundial da Saúde, a expectativa de tempo de vida saudável, sem doenças
crônicas, é de 63 anos, é a média mundial e também no Brasil. Ou seja, é bem provável
que ao se aposentar a pessoa já esteja doente. Triste, não?
O
sistema de saúde evoluiu para curar as doenças. Por mais que se fale da
necessidade da prevenção, ninguém consegue desconto no plano de saúde por ter
um estilo de vida saudável e índices de saúde irretocáveis. Isso quando você
pode pagar um plano de saúde...
A
prevenção de doenças tem um lado complicado, pois tem relação com crenças
pessoais, religiosas e culturais, assim como esbarra no interesse comercial das
indústrias de alimentos e das indústrias farmacêuticas.
Médicos
são ensinados a diagnosticar doenças e tratá-las, e não a preveni-las. Como já
dizia Hipócrates, “que o teu alimento seja o teu remédio”. Falava isso não como
se ele considerasse o alimento como uma droga, que cura os males em curto
prazo, mas considerava que as doenças, em sua maioria, são o resultado de uma
alimentação inadequada. O avanço da ciência e as estatísticas mundiais atuais
lhe dão razão.
Sabendo
de tudo isso, por que não se parte imediatamente para a ação? Já se fez isso,
porém se tomou o caminho errado. A nutrição como ciência é recente e altamente
contaminada por interesses comerciais. A grande maioria do que foi feito nos
últimos setenta anos é de baixa qualidade e não conclusivo e, o que é pior, muitas
hipóteses não se confirmaram, mas infelizmente não foram abandonadas. Só servem
para prejudicar a saúde, pois ainda fazem partem de programas governamentais de
recomendação nutricional e prevenção da saúde. Ou seja, muito do que se
acredita ser uma alimentação saudável, de fato, não é. Assim como nenhum
programa de atividade física pode compensar uma alimentação inadequada. Não
quero dizer que não se deva fazer exercícios, ao contrário, eles nos trazem
dezenas de benefícios. Mas, mesmo os atletas, quando mal alimentados, têm seus
problemas. Só para concluir este assunto: o resultado das prescrições
dietéticas e recomendações nutricionais iniciadas nos anos 1970, baseadas no
medo da gordura saturada e na proposição de substituir sua energia pela
proveniente de carboidratos resultou na atual pandemia de sobrepeso e
obesidade.
A
saída está em estudarmos como o ser humano evoluiu como espécie, a Antropologia
Evolutiva. E aí identificarmos os alimentos que nos levaram a nos
diferenciarmos dos outros primatas, que continuam a se alimentar
predominantemente de frutas e vegetais. Esta diferenciação permitiu o
desproporcional crescimento do cérebro que tivemos, assim como permitiu o
desenvolvimento das relações sociais, culturais e de trabalho que realizamos.
Existem hoje inúmeros trabalhos científicos de comprovada qualidade que apontam
este caminho e que permitem indicar os alimentos saudáveis. Aqueles que não
irão nos tornar doentes.
Adotar
a prevenção da saúde como estratégia empresarial é importante, uma vez que os
colaboradores chegam na empresa com hábitos alimentares formados e, como
apontamos, a manutenção ou melhoria da saúde tem uma relação direta com eles. A
intervenção na alimentação é superimportante, pelo diagnóstico e
aconselhamento, ou seja, pela oferta de alimentos realmente saudáveis no
suprimento de refeições aos membros da empresa.
Aí
está uma das bases de sustentação, se não a mais importante, da HSPW, em sua proposta de atuar como linha de frente na
prevenção da saúde. O levantamento de hábitos alimentares de forma individual
permite aos gestores empresariais avaliar os excessos, as carências e as
inadequações alimentares de forma geral, possibilitando as ações corretivas e o
aconselhamento nutricional. Também individualmente, de forma efetiva e
imediata, a plataforma possibilita a correção dos hábitos alimentares, com
efeitos impactantes para o resto da vida de cada um dos colaboradores.
A
plena saúde permite a cada um explorar suas potencialidades, possibilitando a
superação de metas pessoais, em todos os campos da vida. Não existe maior
satisfação do que cumprir com sucesso uma missão, qualquer que seja, e ser
reconhecido por isso, mesmo que este reconhecimento venha só de você. Melhor
ainda quando o reconhecimento também vem dos outros, das pessoas que o cercam.
Aí está a verdadeira felicidade!
Mari Abreu -
Com formação em nutrição clínica e atuação destacada na área de prevenção de
saúde, Mari é fundadora e coordenadora do Serviço de Checkup Executivo Baiasul.
Ela também é Presidente da Associação Catarinense de Saúde Preventiva, Membro
da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Membro da Associação Brasileira LowCarb
e Diretora de Bem-Estar da HSPW.