Mais de
70% dos funcionários de empresas consideram o plano de saúde o principal
benefício que recebem. Não é incomum que pessoas aceitem trabalhar até por
salários mais baixos, apenas para terem direito ao convênio médico, já que
depender da saúde pública é praticamente inviável por diversos motivos já
conhecidos. Mas, o alto custo do serviço acaba se tornando um pesadelo tanto
para quem não tem o benefício e precisa contratar de forma particular, como
para o empregador, que tem este item como o de maior custo em sua folha de
pagamento, além das próprias operadoras, que disponibilizam, comercializam e
administram os planos de saúde, mas que pagam caro, principalmente pelos
procedimentos hospitalares.
Do ponto
de vista econômico, podemos citar alguns fatores que encarecem o serviço, por
exemplo, o que se conhece por “inflação da saúde”, índice que mede os custos
das operadoras, e que no ano passado subiu mais de 18%, isso sem falar nos
reajustes autorizados pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Sobre
esses aspectos há pouco ou nada que possa ser feito para reduzir os valores.
Mas, há
uma questão de comportamento sociocultural, que envolve todos os personagens deste
tema, e que pode ser considerada um motivo crucial para os altos preços dos
planos de saúde: a falta de conscientização da importância de uma política de
prevenção a doenças, e que seja levada a sério por todos os envolvidos:
pacientes, empregadores, operadoras e até mesmo os hospitais e profissionais da
saúde.
Imaginemos
o seguinte cenário: Se ao invés de procurar o pronto-socorro várias vezes por
ano para ser atendido por causa de crises alérgico-respiratórias, o paciente
fosse uma única vez ao alergologista, ele certamente sairia de lá com pedidos
de exames para investigar o motivo da doença e com uma indicação de tratamento
para o mal crônico. Ainda que isso não trouxesse cura imediata, certamente
preveniria tantas crises e, consequentemente, diminuiria as idas ao
pronto-atendimento, o que contribuiria sensivelmente para uma diminuição de
custos, além, é claro, de atingir o mais importante, que é a melhora da saúde
do paciente.
Esse
comportamento multiplicado milhões de vezes impacta visivelmente os custos dos
procedimentos. Os atendimentos em prontos-socorros costumam ser os mais
onerosos. Os médicos generalistas muitas vezes solicitam uma quantidade de
exames até maior do que o necessário, já que precisam se cercar de dados para,
então, encaminhar o paciente ao especialista adequado ou simplesmente medicá-lo
paliativamente para amenizar a crise. E quando o paciente se sente melhor,
normalmente não procura o especialista, e acaba voltando ao pronto-socorro na
próxima crise.
De alguma
maneira, há um pensamento geral e equivocado sobre a utilização dos serviços
dos planos de saúde que pode variar na forma, mas são iguais na essência.
Funcionários que recebem o benefício, pensam: “é de graça, então posso usar
bastante”; pacientes privados pensam: “estou pagando, então posso usar
bastante”; empregadores pensam: “já que ofereço plano médico, meus funcionários
podem usar bastante”; médicos pensam: “já que o plano médico cobre, vou pedir
vários exames”, e assim cria-se um ciclo vicioso que só faz encarecer o
mercado.
Uma ação
efetiva de conscientização da importância de ações de prevenção de doenças,
aliada a uma reeducação na forma de utilizar os serviços, certamente
resultaria, a médio prazo, na redução dos valores cobrados pelas operadoras de
planos de saúde.
Os planos
de saúde funcionam de forma semelhante às seguradoras. Quanto maior o risco de
sinistro, mais alto o valor da apólice. No caso dos convênios médicos, se a
demanda dos pronto-atendimentos e pedidos de exames for grande, isso reflete
diretamente no alto custo dos serviços.
Se por um
lado o acesso a serviços de saúde de qualidade no Brasil é insuficiente ou
pouco acessível, por outro, os avanços científicos têm aumentado
consideravelmente a expectativa de vida. As pessoas estão vivendo por mais tempo,
mas sem uma cultura de prevenção a doenças, envelhecem com pouca qualidade,
adoecem mais, utilizam os serviços médicos com maior frequência e, por isso,
não apenas pagam mais caro devido à sua faixa etária, como também alimentam a
cadeia comportamental que onera o sistema.
No Fórum
de Saúde promovido pela Câmara Americana de Comércio recentemente em São Paulo,
este tema foi abordado pelo diretor presidente da ANS (Agência Nacional de
Saúde Suplementar), Leandro Fonseca. Ele apontou a inadequação na gestão de
saúde entre as operadoras dos planos, dizendo que das 900 empresas do país, 125
respondem por 80% dos beneficiários e, em sua opinião, os consumidores realizam
muitos exames sem necessidade por falta de orientação.
Como a
maioria dos usuários de planos de saúde são funcionários de empresas que
oferecem este benefício, se os empregadores implantarem programas efetivos e
contínuos de prevenção a doenças, não apenas estarão investindo em melhor
qualidade de vida dos seus colaboradores, como estarão construindo uma mudança
fundamental no sistema financeiro da saúde privada no país.
Marcus Vinícius Gimenez - médico cirurgião cardíaco formado
pela UNIFESP e CEO do Consulta do Bem, plataforma/app que oferece uma ampla
rede de serviços particulares de saúde, pagos por uso e a preços econômicos, e
que conta com mais de 2 mil clínicas, quase 30 laboratórios e cerca de 10
hospitais cadastrados e em expansão diária.