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quarta-feira, 17 de maio de 2023

Doação de leite humano deve ser mais estimulada

depositphotos.com.br/Petunyia
Semana Nacional e Dia Mundial visam conscientizar sobre a importância de doar o alimento e estimular o aleitamento materno

 

“O leite humano é considerado um alimento completo para bebês até os seis meses de vida, que não precisam sequer de água neste período”. 

Com o slogan ‘Um pequeno gesto pode alimentar um grande sonho: doe leite materno!’, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) celebram o Dia Mundial de Doação do Leite Humano, em 19 de maio. Na mesma data, o Brasil também realiza a Semana Nacional de Doação do Leite Humano. Ambas as iniciativas têm como objetivo sensibilizar a sociedade para a importância da doação e estimular o aleitamento materno. 

Segundo dados da OMS, o leite humano é capaz de reduzir até 13% de mortes evitáveis em crianças menores de cinco anos de idade, protege contra diarreias, infecções respiratórias e alergias, e reduz o risco de desenvolvimento de hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade na vida adulta. “O leite humano é considerado um alimento completo para bebês até seis meses de vida, que não precisam sequer de água neste período”, afirma a nutricionista Adrianne Machado, do Departamento de Ciências e Pesquisas da Yakult do Brasil. 

O alimento contém carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas, minerais, imunoglobulina A (principal anticorpo que fornece proteção contra infecções nas mucosas), enzimas (proteínas que têm como função regular as reações metabólicas que acontecem nas células) e interferon (proteínas com função imunorreguladora), além de fatores moduladores de crescimento. Os ácidos graxos são o macronutriente mais variável no leite humano e têm um papel reconhecidamente importante no desenvolvimento físico e cognitivo da criança. 

No estudo ‘Os ácidos graxos do leite materno e sua importância no desenvolvimento da linguagem em crianças prematuras’, publicado em 2013 no Journal of Human Growth and Development, pesquisadores investigaram a relação entre o aleitamento materno de prematuros com a cognição e o desenvolvimento motor e da linguagem. Os resultados mostraram que o leite humano, a partir da primeira semana pós-parto, apresentou proporção elevada de ácidos linoleico: alfa-linolênico, que foi positivamente associada com medidas de linguagem receptiva. 

A amamentação também é um fator de fundamental importância para a colonização microbiana no intestino humano logo após o nascimento. No estudo ‘Key bacterial taxa and metabolic pathways affecting gut short-chain fatty acid profiles in early life’, pesquisadores do Instituto Central Yakult, em Tóquio, mostraram que a microbiota intestinal inicial tem perfis distintos dos adultos, e sua diversidade em composição e função aumenta ao longo dos primeiros anos de vida. “Os autores destacaram, ainda, que a amamentação tem sido associada ao desenvolvimento de uma microbiota com domínio de Bifidobacterium, que favorece a diminuição do pH intestinal e impede a multiplicação de microrganismos patogênicos, contribuindo para menor incidência de diarreia”, sinaliza a nutricionista da Yakult. 

Para avaliar se a duração da amamentação estava associada ao quociente de inteligência (QI), anos de escolaridade e renda, pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, desenvolveram o estudo ‘Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age: a prospective birth cohort study from Brazil’. Lançado em 1982, o estudo registrou informações sobre amamentação na primeira infância de 3,5 mil recém-nascidos. Quando completaram 30 anos, os pesquisadores avaliaram o QI, a escolaridade e a renda dos participantes e concluíram que a amamentação estava associada a um melhor desempenho em testes de inteligência três décadas depois do nascimento, aumentando a escolaridade e a renda na idade adulta.

 

Bancos de leite

O Brasil lidera a Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH), composta por 24 países da América Latina, Europa e África. Além disso, mantém a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, uma iniciativa do Ministério da Saúde por meio do Instituto Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz). A ação envolve coleta, processamento e distribuição do leite para bebês prematuros ou de baixo peso que não podem ser alimentados pelas próprias mães, e também apoio e orientações para estimular o aleitamento.

O Brasil tem a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo, com distribuição de aproximadamente 160 mil litros anualmente para recém-nascidos de baixo peso internados em unidades neonatais. No total, são 228 bancos de leite humano distribuídos por todos os estados brasileiros, e 240 postos de coleta. Outras informações pelo https://portal.fiocruz.br/banco-de-leite-humano. 

 


Yakult
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Pesquisa revela que 4% dos casos de câncer no Brasil são cerebrais

Maio Cinza tem como intuito conscientizar a população sobre a prevenção da doença. Neurocirurgiã faz um alerta sobre prevenção, sintomas e tratamentos


Neste mês de maio as atenções estão voltadas para a conscientização e combate do câncer cerebral. As ações do Maio Cinza têm como intuito explicar para a população sobre o câncer cerebral, considerado uma doença silenciosa. Vista como uma das doenças mais temidas pela população, o câncer cerebral se desenvolve no cérebro e pode afetar as inúmeras funções do corpo humano. 

 

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a doença representa cerca de 4% dos casos de câncer no Brasil, sendo mais comum em pessoas com idade acima de 50 anos e ocupando o 10º lugar na lista dos tumores que mais causam mortes no Brasil. 

 

De acordo com a neurocirurgiã Danielle de Lara, que atua no Hospital Santa Isabel (Blumenau/SC), os sintomas mais comuns são dores de cabeça, vômitos, tonturas, convulsões, alterações de visão e de comportamento. “A  preocupação dos especialistas é que por ser considerada uma doença silenciosa, onde geralmente as pessoas entendem que os sintomas são fatores comuns e acabam não procurando ajuda médica. Ao descobrir, muitas vezes, o câncer está em estágio avançado”. 

 

O cérebro é o órgão que coordena todas as funções do corpo, como a fala, coordenação motora, memória, raciocínio e atenção. Danielle revela que quando esse órgão é acometido por um tumor, as células anormais passam a crescer de forma desordenada. 

 

A neurocirurgiã explica que o tumor cerebral pode ser tanto benigno, quanto maligno. “A diferença é que o primeiro desenvolve mais lentamente, podendo ser solucionado com uma neurocirurgia para remoção. Já os malignos, têm um crescimento acelerado e necessitam de tratamentos mais complexos”. 

 

“O tratamento do câncer cerebral é complexo e envolve diversas modalidades, como a neurocirurgia, radioterapia e quimioterapia. É importante alertar que o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento, por isso, é importante que as pessoas estejam atentas aos sinais e sintomas da doença”, informa. 

 

Danielle também faz um alerta sobre a prevenção da doença. “A precaução é fundamental para reduzir os casos de câncer cerebral. A adoção de hábitos saudáveis, como a prática de atividades físicas, alimentação equilibrada e o não fazer o uso de drogas ilícitas pode contribuir fortemente para a prevenção”. 

 

Danielle de Lara - Médica Neurocirurgiã em atividade na cidade de Blumenau (SC). Atua principalmente na área de cirurgia endoscópica endonasal e cirurgia de hipófise. Dois anos de Research Fellowship no departamento de "MinimallyInvasiveSkull Base Surgery" em "The Ohio StateUniversityMedicalCenter", Ohio, EUA. Graduada em Medicina pela Universidade Regional de Blumenau. Possui formação em Neurocirurgia pelo serviço de Cirurgia Neurológica do Hospital Santa Isabel.


Dismorfia facial é tão identificada quanto a corporal e é impulsionada por filtros nas redes sociais

Freepik
Exageros de procedimentos na face alertam sobre o transtorno; médico cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) esclarece como identificar e auxiliar pacientes

 

O transtorno dismórfico é frequentemente identificado por cirurgiões plásticos de todo o Brasil no dia a dia dos atendimentos aos pacientes. A denominada “síndrome da feiura imaginária” ganhou holofotes nos últimos dias devido a declaração da atriz Megan Fox, de 37 anos, que reconheceu sua dismorfia corporal durante uma entrevista. A condição de Megan é recorrente e de acordo com o cirurgião plástico da face e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Yuri Moresco, ainda mais fácil de ocorrer no rosto após o início da utilização dos filtros digitais e o fácil acesso aos procedimentos estéticos não invasivos. “Se antes os pacientes chegavam no consultório com a folha da revista que constava uma atriz ou um ator famoso, atualmente eles chegam com uma foto completamente modificada de si mesmos. Até mesmo a assimetria, que é algo natural da face, tem incomodado”, diz.

O cirurgião explica que grande parte das pessoas de fato não se enxergam como são, já que a grande maioria das fotos de hoje são por celular, que distorcem a imagem, mas que isso, até certo ponto, é natural. Contudo, o dismorfismo ocorre quando a pessoa começa a buscar defeitos onde não existem ou se incomodar demais com características que acabam levando à baixa autoestima e até mesmo ao isolamento. “A face é a região mais exposta do corpo e a que causa mais impacto. Como médico, tento salientar que a beleza está nos aspectos naturais. A cirurgia plástica precisa ser um aprimoramento e não uma mudança exagerada”, argumenta Moresco.

Quando o transtorno dismórfico corporal (TDC) é identificado em consultório, o paciente é encaminhado para um acompanhamento psicológico. “Nesses casos eu acabo optando por não seguir com a cirurgia e solicito ao paciente que primeiro faça um acompanhamento psicológico. Isso porque o paciente com dismorfia dificilmente vai ficar satisfeito com o resultado cirúrgico porque nem ele mesmo sabe o que de fato está incomodando. Já tive casos de solicitação de transplante de face porque o paciente realmente queria ser uma outra pessoa completamente diferente”, revela o cirurgião.  

De acordo com os últimos dados sobre o assunto, o TDC atinge cerca de 4 milhões de brasileiros e aproximadamente 2% da população global. “Os filtros digitais, assim como o acesso aos procedimentos estéticos não invasivos, de menor complexidade, com toda certeza elevaram esse número nos últimos anos. Faz parte do papel do cirurgião plástico conscientizar sobre os parâmetros de perfeição que na verdade não existem”, finaliza Yuri Moresco.

 

Yuri Moresco - médico, cirurgião plástico com atuação em cirurgias estéticas faciais e cirurgias plásticas reparadoras em crianças. Com mais de 800 procedimentos cirúrgicos no histórico profissional, e requisitado por pacientes brasileiros e estrangeiros, é formado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR, com Residência Médica de Cirurgia Geral no Hospital e Maternidade Angelina Caron (PR) e formação em Cirurgia Plástica no Hospital SOBRAPAR – Crânio e Face, em Campinas (SP), que é referência em cirurgias craniofaciais em pacientes adultos e infantis.

 

Você sabe o que é cefaleia? Conheça os tipos e formas de prevenção

Diagnóstico e tratamento específico são fundamentais para prevenir crises 


Poucos sabem, mas existem mais de 150 tipos de dores de cabeça. Elas podem ser classificadas como primárias ou secundárias, sendo a primeira classe o principal ou único sintoma, enquanto a segunda é um sintoma de uma enfermidade.

Dados da Sociedade Brasileira de Cefaleia indicam que a dor de cabeça atinge 140 milhões de brasileiros. O número representa mais de 50% da população nacional, com base em informações da prévia do Censo Demográfico 2022.

A cefaleia pode ser motivada por vários fatores. “A mais comum é a tensional, associada ao estresse e insônia. Já a enxaqueca, conta com a predisposição genética, sendo crônica caso perdure por mais de uma vez por semana”, explica o médico Marco Serodio.

No Dia Nacional de Combate à Cefaleia, lembrado em 19 de maio, o médico e responsável técnico do Centro de Especialidades Timóteo, do Hospital Metropolitano Vale do Aço, Marco Serodio, também alerta para a cefaleia em salvas, termo ainda desconhecido de boa parte da população.

“Diferente da enxaqueca, a cefaleia em salvas atinge, em sua maioria, homens. Com dores fortes e crises diárias, é importante buscar ajuda médica para realizar o diagnóstico e tratamento rapidamente, a fim de prevenir novas crises e amenizar as dores”, orienta o profissional.



Tipos e formas de prevenção


· Cefaleia tensional: considerada a mais comum, a cefaleia tensional pode ter um único episódio ou ser crônica. Causa dor em aperto ou pressão, nos dois lados da cabeça, com intensidade leve à moderada. A dor é o único sintoma, desencadeado por estresse, insônia, jejum ou doenças, como meningite.

Prevenção: evite o estresse com exercícios de relaxamento. A prática de atividades físicas regulares, boa qualidade de sono e estabelecer limites saudáveis no trabalho e nas atividades diárias podem ajudar.



· Enxaqueca: diferente da cefaleia tensional, a enxaqueca tem causa genética e hereditária. A intensidade da dor é de moderada a forte, unilateral e latejante. Pode ser acompanhada de náuseas, enjoo e vômito, além de sensibilidade à luz, odores e barulhos.

Prevenção: identifique os gatilhos, tenha atenção aos alimentos, sono, estresse e outros fatores relacionados. Uma rotina saudável alinhada às técnicas de relaxamento também pode dar suporte.



· Cefaleia em salvas: geralmente a dor é muito forte, de um lado só na região da face, em volta e no fundo de um dos olhos. Obstrução nasal e coriza também podem se manifestar. As crises são diárias, ocorrem à noite e podem repetir-se por dias ou meses.

Prevenção: envolve medicação prescrita pelo médico. Identificar e evitar possíveis desencadeantes, como álcool e tabaco, também pode ser útil.


“Em caso de dores de cabeça frequentes ou que interfiram na qualidade de vida, é fundamental buscar avaliação médica adequada para obter um diagnóstico correto e um plano de tratamento específico”, alerta o médico.


Própolis melhora imunidade, reduz radicais livres e ameniza inflamação crônica em pessoas com HIV

A própolis é uma resina utilizada na entrada das colmeias pelas abelhas.
 Sua ação antimicrobiana é testada para diversos fins terapêuticos
(
foto: Chandlervid85/Freepik)


 Artigo publicado na revista Biomedicine & Pharmacotherapy demonstrou os efeitos benéficos do consumo de 500 miligramas (mg) diários de própolis por pessoas que vivem com o vírus causador da Aids. Os autores identificaram que, diferentemente do grupo que recebeu placebo, aquele que recebeu própolis apresentou uma redução significativa na concentração plasmática de malondialdeído, um marcador de estresse oxidativo. Houve, nesse mesmo grupo, ligeiro aumento na capacidade antioxidante total, o que reflete o combate direto aos radicais livres.

“Apesar de as pessoas que vivem com o HIV apresentarem excelente expectativa de vida com as atuais terapias, um dos problemas ainda enfrentados é a questão do envelhecimento precoce – de aproximadamente dez a 20 anos, em comparação à população não infectada. Há uma deterioração da imunidade [imunossenescência] acelerada nessa população e o desenvolvimento precoce de comorbidades como diabetes, hipertensão e neoplasias”, aponta a bióloga Karen Ingrid Tasca, que desenvolveu seu pós-doutorado no Instituto de Biociências de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (IBB-Unesp), com apoio da FAPESP.

Esse processo de envelhecimento precoce é decorrente da constante ativação do sistema imunológico e da inflamação crônica apresentadas por esses pacientes e, segundo Tasca, o estresse oxidativo “anda de mãos dadas” com essas duas vias, por isso é importante que seja controlado. “O estresse oxidativo causado pelo vírus e pelos próprios antirretrovirais possui grande impacto nesses pacientes. Na tentativa de reduzir esses processos patológicos e melhorar a qualidade de vida e a sobrevida, há necessidade de intervenções que minimizem esses efeitos. Entre os diversos produtos naturais existentes, a própolis, que é uma resina, possui esse potencial, pois apresenta propriedades antioxidante, antiviral e anti-inflamatória reconhecidas”, explica a pesquisadora.

Líder do grupo que publicou o artigo, o biólogo e professor José Maurício Sforcin estuda os efeitos da própolis há quase 30 anos no Instituto de Biociências de Botucatu. “Tenho investigado a ação imunomoduladora da própolis para ampliar o conhecimento sobre seus mecanismos de ação em células envolvidas na imunidade. Muitos trabalhos já foram realizados sobre as ações biológicas desse produto in vitro, em cultura de células, bem como in vivo, em modelos com animais de experimentação, principalmente camundongos. As pesquisas com ensaios clínicos precisam se expandir e revelar o potencial desse produto apícola para a saúde”, destaca Sforcin.

Apesar dos indícios de benefícios para a saúde, os estudos sobre própolis não abrangiam a população de infectados pelo HIV. “Havia achados in vitro que mostravam o potencial de inibição da carga de replicação do vírus por alguns componentes contidos na própolis. E também estudos em pessoas que apresentavam alguma condição crônica, como diabetes, então percebemos a urgência da nossa pesquisa, pois no momento em que delineamos nosso estudo não havia na literatura dados sobre os efeitos da própolis para esse grupo específico”, pondera Tasca.

Além da atenuação no estresse oxidativo, os pesquisadores já haviam demonstrado diminuição de parâmetros inflamatórios nesse mesmo grupo de pacientes. A publicação, também feita na Biomedicine & Pharmacotherapy, evidenciou o aumento na proliferação de linfócitos T CD4+, células que são consideradas alvo principal do vírus. Houve, ainda, maior expressão do fator de transcrição Foxp3, um marcador de células “T regulatórias” (outro tipo de linfócito), responsáveis por modular a inflamação.

“Os resultados indicam que a própolis pode ser uma alternativa para melhorar a resposta imune e reduzir a inflamação nos pacientes assintomáticos. A infecção pelo HIV induz intensa desregulação do sistema imunológico, gerando perda da função celular e inflamação crônica. As persistentes ativação imune e inflamação merecem atenção, pois são fatores potencialmente determinantes de morbidade e mortalidade não associadas à Aids, mesmo nos indivíduos sob tratamento e que apresentam supressão viral adequada”, diz uma das autoras do estudo, a biomédica Fernanda Lopes Conte, cujo doutorado na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, foi realizado com apoio da FAPESP.

Para garantir a fidelidade dos dados obtidos, o grupo acompanhou a dieta e os hábitos de saúde dos 40 participantes (20 que receberam própolis e 20 que receberam placebo) durante os 90 dias da intervenção, para que possíveis mudanças comportamentais não influenciassem os resultados. Esse contexto foi estudado por Ana Claudia de Moura Moreira Alves com auxílio de uma Bolsa de Iniciação Científica. Nessa pesquisa, os autores observaram a ausência de eventos adversos no grupo que recebeu a própolis e o aumento nos níveis séricos de magnésio, um elemento que contribui com a homeostase do organismo. Durante o período, não houve mudanças no perfil nutricional, metabólico ou bioquímico dos participantes, após análises sucessivas de registro alimentar e bioimpedância.

Priorizando a saúde e segurança dos participantes, foram incluídos no estudo apenas aqueles que estavam sob terapia antirretroviral, apresentavam carga viral indetectável e contagem ideal de células imunológicas do tipo T CD4+. Agora, os pesquisadores destacam que novas pesquisas são necessárias para a adoção da própolis como intervenção efetiva também para pacientes com comorbidades ou falha terapêutica.

O artigo Propolis consumption by asymptomatic HIV-individuals: Better redox state? A prospective, randomized, double-blind, placebo-controlled trial pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0753332223004146.

  

Ricardo Muniz
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/propolis-melhora-imunidade-reduz-radicais-livres-e-ameniza-inflamacao-cronica-em-pessoas-com-hiv/41392/


Maio Verde: Glaucoma é a maior causa de cegueira irreversível do mundo

Cerca de 2,5 milhões de pessoas podem ter a doença no Brasil. A estimativa é da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG)

 

Maio Verde é o mês de combate e prevenção ao glaucoma, doença causada pelo aumento da pressão intraocular. De acordo com dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), cerca de 2,5 milhões de brasileiros com mais de 40 anos podem sofrer com a doença crônica. O problema na visão, causado é silencioso e pode levar à cegueira. 

A oftalmologista Nubia Vanessa, do CBV-Hospital de Olhos, alerta que a doença começa afetando o campo visual periférico da visão e pode levar alguns  anos para o paciente ter algum sintoma. “É um problema ocular irreversível, mas que tem controle com  tratamento, se descoberto logo no início. Por isso, é muito importante o acompanhamento com um especialista”, afirma.  

Segundo a médica, a doença é uma das principais causas de cegueira em pessoas com mais de 60 anos.  A especialista em glaucoma também ressalta alguns fatores de risco para a condição, que são: histórico familiar, pessoas acima de 40 anos, alta miopia, diabetes, algum tipo de trauma ocular e raça negra. 

A oftalmologista ressalta a importância de consultar um especialista para o diagnóstico na fase inicial. “É imprescindível visitar o oftalmologista anualmente para fazer os exames de rotina, e detectar casos suspeitos, casos iniciais para diagnóstico inicial e realizar os exames de controle. O tratamento e retornos são individuais e de acordo com a necessidade de cada caso. O glaucoma, quando  já está avançado, pode levar à cegueira irreversível”, frisa a médica do CBV-Hospital de Olhos. Ainda segundo ela, a doença pode ser tratada com colírios e em alguns casos é necessária uma intervenção cirúrgica para baixar a pressão ocular.

 

17 de maio: Dia Mundial da Hipertensão Arterial

A doença atinge 35% da população brasileira, mas 50% não têm o diagnóstico 

 

A hipertensão arterial, ou popularmente chamada de ‘pressão alta’, atinge 35% da população brasileira, mas metade desses pacientes não sabem que têm a doença. Por não apresentar sintomas, ou trazer sinais inespecíficos, em muitos casos, as pessoas levam anos até descobrir o problema, e muitas vezes só descobrem quando algo mais grave acontece. 

“Permanecer com a pressão arterial alta eleva os riscos de doenças graves, como o acidente vascular cerebral (AVC) ou o ataque cardíaco”, alerta o Dr. Daniel Lerario, médico endocrinologista, mestre e doutor pela Escola Paulista de Medicina. Isso acontece, pois a doença provoca o estreitamento das artérias e faz com que o coração precise de cada vez mais força para bombear o sangue para o organismo e depois recebê-lo de volta, danificando as artérias e dilatando o coração. 

A hipertensão é caracterizada quando a sua pressão arterial apresenta valores iguais ou superiores a 14 por 9 (140 mmHg x 90 mmHg). “As principais causas são obesidade, sedentarismo, tabagismo, estresse e hábitos alimentares inadequados, incluindo a ingestão excessiva de álcool, sal, alimentos ultraprocessados e gorduras. Há, também, fatores genéticos que predispõem o desenvolvimento da doença, então pessoas com familiares hipertensos devem redobrar os cuidados”, explica Dr. Daniel.  

De acordo com Claudia Mendonça, nutricionista, especialista em Nutrição, Saúde e Alimentação infantil e mestre pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a primeira dica para prevenção e combate à hipertensão arterial é retirar o saleiro da mesa.  

Cerca de 90% do sódio que consumimos está na forma de sal de cozinha, um tempero bastante utilizado na culinária brasileira. No entanto, quando utilizado em excesso, pode ser bastante prejudicial para a nossa saúde. Por isso (ser fonte de sódio, ele) deve ser evitado e, sempre que possível, substituído por outros temperos naturais.  

“Podemos substituir, no preparo dos alimentos, o sal por temperos frescos e naturais, como alho, cebola, ervas aromáticas e especiarias, que dão mais sabor aos alimentos”, sugere a nutricionista.  

É importante lembrar que o sal está presente e em grande quantidade em alimentos processados e ultraprocessados, enlatados, embutidos, em conservas e até mesmo em alimentos como pipoca de microondas, macarrão instantâneo, refrigerantes diet e zero e adoçantes. Por isso, todos estes alimentos devem ser evitados.  

“Sempre que possível, devemos optar por uma alimentação saudável, descascando mais e desembalando menos, ou seja, priorizar a comida caseira, simples, mas saborosa”, sugere Claudia. 

Segundo o Ministério da Saúde, a população brasileira consome, em média, 12g de sal/dia, quando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde e pelo Guia Alimentar do Ministério da Saúde é de 5g de sal/dia, ou o equivalente a uma colher de chá. Esta porção corresponde a aproximadamente 2 gramas de sódio.

 

Principais sintomas 

Os sintomas da hipertensão arterial, quando ocorrem, são bastante inespecíficos, por isso é importante medir regularmente a pressão arterial e seguir corretamente as orientações médicas, em caso de alterações. Em geral, os principais sintomas são: 

  • Tontura
  • Palpitações
  • Dor de cabeça frequente 
  • Alteração na visão 

 

Prevenção e controle 

Em geral, a hipertensão não pode ser curada, mas pode e deve ser tratada e controlada por meio de mudanças nos hábitos de vida, alimentação balanceada e, quando necessário, uso de medicamentos. As principais medidas para a prevenção e controle da hipertensão são: 

  • alimentação balanceada 
  • controlar o peso para evitar o sobrepeso e a obesidade
  • evitar sal e alimentos processados e ultraprocessados
  • praticar atividade física regular
  • evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool
  •  evitar alimentos gordurosos

 

Entenda a diferença entre ronco e apneia do sono

Médico alerta que ronco traz problemas sociais e apneia costuma ser muito mais grave

 



Segundo o Dr. Lucas Sampaio, o ronco em si é o barulho causado pela vibração dos tecidos da faringe e se define como o ar passando imprensado em algum local.

“Quando dormimos, relaxamos a musculatura e, se estivermos com a barriga para cima, a língua cai para trás, diminuindo o espaço para o ar passar e gerando o ronco”, explica Lucas.

Apesar de ser algo ‘normal’, o ronco muitas vezes pode prejudicar a qualidade de vida do paciente, chegando inclusive a ser um problema social tão grave que pode levar a separações em um relacionamento e problemas no dia a dia.

“Eu tenho um paciente que não anda de avião, pois seu ronco é muito alto, gerando, assim, um problema social grave. Este paciente não dorme na casa de ninguém e, até para dormir em hotéis, os hóspedes dos quartos ao lado reclamam. Então vejamos que se trata de uma limitação social gravíssima, chegando mesmo a atrapalhar relacionamentos”, elucida o médico.

Lucas explica que o vilão maior do ronco é o sobrepeso, o acúmulo de gordura cervical e também na base da língua, que estreita a passagem de ar na via aérea.

“Desse modo, o ar irá vibrar mais e, consequentemente, a pessoa irá roncar com mais intensidade. Então, o roncador que tenha ou não apneia deve cuidar para não ter sobrepeso. Outros fatores são a ingestão excessiva de bebidas alcoólicas”, diz.

“Quando a pessoa bebe mais, ela relaxa e, consequentemente, a sua musculatura também. Então o ar vai passar mais turbilhonado, gerando mais ronco, e esse pensamento serve também para qualquer medicação que seda e relaxe”, esclarece.



Diferença entre ronco e apneia do sono

Segundo artigo publicado pela Revista Científica Lancet, cerca de 49,7% da população brasileira apresenta pelo menos uma apneia do sono leve, que é quando acontece uma parada na respiração.

“A pessoa está roncando e aí para de respirar, a saturação cai e acontece aquele conhecido ronco mais alto, quando se volta a respirar. Então, a apneia leva à perda da oxigenação no corpo, gerando, com o tempo, microlesões no sistema nervoso central. Essa parada de respiração pode chegar a minutos e sua classificação é feita de acordo com quantos eventos de apneia o paciente teve em uma noite”, explica.

Segundo Sampaio, nota-se, em trabalhos científicos, que os prejuízos são diferentes em cada indivíduo e acabam aumentando o risco de se desenvolver doenças cardiovasculares, entre outras comorbidades.

“Uma pessoa que ronca deve procurar um médico especializado, de preferência um otorrinolaringologista, para ver se tem alguma alteração estrutural no nariz ou garganta que esteja levando a este quadro de apneia, para assim decidir qual a melhor forma de tratamento, cirúrgico ou clínico”, alerta.

Lucas, que está se especializando em otorrinolaringologia, complementa que o exame de escolha para diagnóstico é a polissonografia respiratória e neurológica e que, em alguns casos, pode-se recorrer ao auxílio de um neurologista se na polissonografia houver alterações neurológicas.

“Para o tratamento, devemos iniciar com uma perda de peso e, depois, individualizar, pois existe mais de uma opção de tratamento, como o aparelho intraoral, o CPAP e as cirurgias”, finaliza o médico.

 

Plano de Saúde: reajustes são necessários para equilíbrio de custos

Entenda quais são os fatores que causam o aumento recorrente nos planos de saúde no Brasil


No Brasil, os planos de saúde de assistência médica já somam mais de 50 milhões de beneficiários, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Até 2019, tais planos permaneceram no topo das reclamações do ranking anual de atendimento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) durante oito anos consecutivos.

Segundo dados do Idec, o principal tema abordado pelos associados sobre planos de saúde são dúvidas e reclamações a respeito de reajustes abusivos (27,4%), predominantemente de planos coletivos. As demais reclamações abrangem principalmente negativa de cobertura, com 16,2%, e problemas relacionados à falta de informação, com 13,1%.

Atuando há mais de 35 anos no mercado brasileiro, como consultor de benefícios, foi possível acompanhar diversos movimentos na oferta de benefícios corporativos. Foram inúmeras regulações no mercado de saúde e previdência. Pude vivenciar as novidades do setor, as entradas e saídas de players no País, entre tantas transformações nesse universo B2B2C.

Dos benefícios que compõem o pacote tradicional que é oferecido pela maior parte das empresas que atuam no Brasil, o plano privado de saúde é o mais desafiador. Seja pela imprevisibilidade de custos futuros, pela judicialização ou pela própria pressão que muitas vezes os participantes da carteira fazem para ter suas necessidades atendidas com prioridade.

Afinal, quando se trata de saúde, o que não é urgente para uns, pode ser extremamente urgente para quem está passando por algum problema de saúde, seja próprio ou de algum familiar.

De acordo com a 7ª Pesquisa Anual de Benefícios, realizada no Brasil, pela maior corretora e consultoria independente de seguros do mundo, a Lockton, Assistência Médica é o único benefício oferecido por 100% das empresas participantes do estudo, seguido por Plano Odontológico e por Seguro de Vida, com 96% e 94%, respectivamente.


Gráfico extraído da Pesquisa Anual de Benefícios da Lockton, apresenta os benefícios mais oferecidos pelas empresas que atuam no País.

Frequentemente, a mídia divulga notícias sobre beneficiários de assistência médica questionando os reajustes dos valores de mensalidades ou, até mesmo, pessoas idosas questionando o motivo pelo qual pagam por valores superiores aos de pessoas mais jovens.

Também é muito comum ler ou ouvir questionamentos do tipo: ‘quase não usei o plano no último ano, então, porque tenho que ter reajuste?’.

Em uma população existem pessoas com muita necessidade de atendimento médico, outras com média necessidade e um grupo grande de pessoas que estão com a saúde em boa condição e que raramente buscam os serviços de saúde.

Esse comportamento fica evidente no gráfico a seguir, extraído do banco de dados da Lockton, que demonstra o comportamento de utilização de uma população de mais de 100.000 vidas nos últimos 12 meses, representando uma despesa total de cerca de R$ 615 milhões.


Gráfico extraído da Pesquisa Anual de Benefícios da Lockton, mostra o percentual de gasto acumulado versus a quantidade de usuários

 

O comportamento visto no estudo pode resumir o que comumente chamamos de mutualismo, ou seja:

  • 10% da população foi responsável por 69% de todo o custo gerado e 20% por 81% do custo total gerado pela massa como um todo.

É esta combinação de fatores que faz com que a mensalidade de um plano de saúde fique, de uma certa forma, adequada para a maioria das pessoas.

Qual seria o custo de um plano de saúde se todas as pessoas cobertas tivessem a mesma necessidade de atendimento e gerassem os mesmos custos dos 10% da população representada no gráfico acima? Seria proibitivo e não existiria produtos no mercado para cobrir todo este risco.


Então o conceito do Mutualismo é:

Em seguros, o mutualismo nada mais é do que a operação pela qual um grupo de indivíduos com interesses semelhantes contribuem individualmente com cotas ou frações para fazer frente aos custos relacionados a determinados riscos. 

No caso da operação de seguro saúde/plano de saúde, o mutualismo é formado pela mensalidade referente ao risco de cada participante, com o objetivo de repor as despesas médicas de determinado grupo de participantes.

Diferente do que ocorre no sistema de previdência complementar, o plano de saúde não segue o modelo de capitalização, ou seja, as despesas (mensalidades) pagas pelos participantes visam cobrir um determinado risco durante um período de tempo (por exemplo, 01 ano) e não o acúmulo de capital. 

Este é o motivo que todos os participantes que usaram ou não usaram o plano em um determinado período recebem reajustes, pois os valores que foram pagos durante o ano já foram utilizados para cobrir as despesas geradas no próprio ano.

Idade do participante e o custo do plano de saúde:

Os participantes idosos normalmente necessitam de maior assistência médica, uma vez que as doenças crônicas e os eventos de maior gravidade são mais prevalentes nestas faixas etárias. Algo inerente ao processo natural do envelhecimento humano.

Com o gráfico abaixo, cedido pela área de business intelligence da Lockton, fica evidente a diferença da frequência de utilização de participantes com 59 anos ou mais versus a frequência de utilização dos usuários com idades inferiores, o que justifica os custos acima de 60 anos serem maiores que os mais jovens.

Note a discrepância da frequência de utilização por beneficiário do plano de saúde durante o ano.



Portanto, o custo em programas de saúde é gerado pela:

  • População exposta ao risco durante o período de cobertura;
  • Pelos procedimentos médicos que necessitam serem cobertos pelo plano, acompanhando da atualização do ROL aprovado pela ANS – Agência Nacional de Saúde;
  • Pela quantidade de eventos realizados (frequência de utilização), por esta população, e;
  • Pelo custo de cada evento realizado: consultas, exames, terapias, pronto socorro, internações, etc.


E o preço do plano de saúde?

O preço é o valor que precisa ser cobrado dos participantes cobertos em planos individuais ou coletivos por adesão ou das empresas que contratam o plano para seus empregados, por meio de contratos coletivos empresariais, para fazer frente ao custo gerado pela população, acrescido das despesas administrativas (estrutura para operar o negócio), mais impostos, e, também, o lucro, já que uma Operadora/Seguradora de Saúde não é uma entidade beneficente e, sim, ela precisa ter lucro para continuar gerando empregos, seguir honrando os compromissos assumidos com os beneficiários dos planos e pagar os devidos impostos ao governo.

Logo, se tem preço é porque tem custo, se há reajuste é porque a conta não fecha. Não é uma questão de lucro. Saúde custa caro. Antes de reclamar é importante estar atento às regras do jogo, afinal, alguém tem que pagar a conta e quando se ingressa num grupo para ter acesso a benefícios e dividir as despesas é importante ter consciência do que usar, quando usar e porque usar.

A sustentabilidade do plano de saúde não é apenas responsabilidade da operadora ou dos planos em si, é também das seguradoras, das corretoras, dos hospitais, clínicas, médicos e usuários. Se cada um fizer a sua parte, educar e usar com moderação, diante de uma necessidade real todo mundo sai ganhando.

Essa história não é do lobo mal. Tem muita chapeuzinho vermelho por aí, passeando pelo bosque e distribuindo maçãs, sem se dar conta de que as maçãs serão divididas e pagas pela vovozinha e por outros moradores do bosque. E isso não é história de conto de fadas, é a vida real.

 

Cesar Lopes - diretor atuarial e de previdência complementar da Lockton Brasil. Graduado em Direito e com certificação pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), o executivo possui trinta e cinco anos de experiência no setor de Benefícios Corporativos. Antes de se juntar à Lockton em 2017, Lopes teve passagens por renomadas Seguradoras e ocupou posições de consultor sênior e de liderança em renomadas consultorias nacionais e internacionais. No decorrer de sua carreira, Lopes esteve dedicado a projetos de consultoria em estruturação de pacotes de benefícios, avaliações atuariais de benefícios pós-emprego, otimização de custos, desenho de programas de benefícios flexíveis, precificação de planos de saúde e análises comparativas (benchmarking).


Pobres brasileiros pobres

Cícero, um dos mais importantes filósofos da Roma antiga, deixou em sua vasta obra uma máxima importantíssima: “Que o bem estar do povo seja a lei suprema”. Lamentavelmente, o ensinamento de Cícero vem sendo ignorado pela maioria dos governantes e políticos brasileiros, em especial nos últimos 20 anos.

Nesse recorte histórico recente, o que se viu foram maus governos e descompromissados líderes políticos, todos mais preocupados em atuar para a manutenção e a ampliação de seus próprios privilégios do que trabalhar em favor da maioria esmagadora da população brasileira, sobretudo a classe média e os mais pobres.

É triste e revoltante ver que os representantes do povo, eleitos pela vontade dele, ignorem as maiores necessidades dos cidadãos, traindo a confiança que lhes foi depositada nas urnas. Nessas duas últimas décadas, enquanto os rendimentos dos políticos só aumentaram, imprimiu-se a asfixia econômica da parcela maior da população. São muitos os exemplos dessa caixa de maldades. A falta de correção da tabela do Imposto de Renda é uma das principais.

De acordo com estudos do Sindifisco Nacional, a defasagem na tabela do IR já é da ordem de 147% a 149%. Se a tabela fosse atualizada de forma a eliminar esse desequilíbrio, o limite de isenção seria elevado dos atuais rendimentos mensais de até R$ 1.903,98 para até R$ 4.702,38. Ou seja, 93% dos trabalhadores com carteira assinada ou que atuam como profissionais autônomos estariam isentos do Imposto de Renda. Esses cidadãos recolhem hoje, compulsoriamente, R$ 273,38 por mês de IR. Por trás do tecnicismo com o qual os governos justificam a não correção está uma verdade nunca dita: com essa prática, o Brasil continua a tributar inflação, fazendo isso sem previsão constitucional e sem lei autorizativa.

Nem mesmo o salário-mínimo tem tido recomposição em índice correspondente à inflação, que segue corroendo o poder de compra do brasileiro. O último exemplo foi o reajuste fixado para 2023, de R$ 1.302,00 para R$ 1.320,00. Isto é: aumentou R$ 18,00, o correspondente a apenas 1,38%, muito pouco para fazer frente à inflação que, em 2022, foi de 5,5%.

Além disso, o brasileiro sofre com a tributação excessiva sobre consumo, incidindo sobre tudo o que é adquirido por cidadãos de todas as classes econômicas. Tudo porque ainda se pratica um sistema tributário injusto e regressivo. Hoje, de 44% a 46% das receitas tributárias dos três entes federativos (União, estados e municípios) advêm do consumo. É o imposto incidente sobre cada produto que se compra no supermercado, na farmácia, no açougue e também sobre o gás de cozinha e a energia elétrica, essenciais a qualquer cidadão.

Por outro lado, as receitas provenientes de tributação do capital e da renda correspondem apenas a 17%-19% do total arrecadado no país. É exatamente o contrário do que acontece nos Estados Unidos e em muitos países do G10, o grupo das nações mais ricas do planeta. Nos EUA, por exemplo, a arrecadação sobre o consumo corresponde a 16%-18% e, sobre renda e capital, soma de 42%-46%.

Como se não bastasse, há anos os trabalhadores brasileiros vêm subsidiando investimentos dos governos federal e estaduais e até as empresas privadas altamente lucrativas e com ações cotadas na Bolsa de Valores. Pode parecer estranho, porém os números explicam. O governo remunera as contas dos trabalhadores relativas ao saldo do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) mediante aplicação da TR e mais 3% ao ano. A poupança, forma mais popular dos trabalhadores guardarem o pouco que lhes sobra, tem remuneração equivalente à TR mais 4% ao ano. Enquanto isso, os banqueiros são remunerados pela taxa Selic, hoje de 13,75% ao ano. O equivalente ao IPCA mais 7% ao ano, ou seja, 7% ao ano acima da inflação.

Não há dúvidas de que esse tratamento discrepante é extremamente injusto. Afinal, os trabalhadores pagam imposto embutido em tudo aquilo que compram e encontram os preços sempre majorados pela inflação e IPCA, no mínimo. Além disso, os aluguéis – igualmente pagos com sacrifício - são majorados pelo IGP-M.

Portanto, a classe trabalhadora que forma a base da pirâmide (renda mais baixa) tem salário-mínimo reajustado em 1,38%, tem seu saldo de FGTS remunerado por taxa bem abaixo do IGP-M, IPCA e Selic, índices usados para o reajuste dos preços dos produtos da cesta básica e dos aluguéis. E ainda paga imposto de renda sobre inflação, apesar de sabidamente inflação não ser renda.

Não é a falta de recursos o que impede a correção de tais distorções. A verdade é que os governos nunca desistem de fazer caixa às custas dos que têm menos recursos para sobreviver. É uma espécie de disfarçada escravidão moderna, responsável pela criação e manutenção de um ambiente favorável para que políticos, em momentos oportunos, apareçam como amigos do povo anunciando aumentos dos programas de transferência de renda, ou distribuindo vale-gás e outros benefícios no melhor estilo “vale-voto”.

Por outro lado, está sempre aberta a caixa de bondade para as elites e para os políticos, os donatários do Século XXI. Reajustes generosos de suas remunerações – muitas vezes superiores a 30% ou até 40% - são votados e aprovados com muita pressa e sem nenhum pudor, beneficiando parlamentares, governadores, prefeitos, ministros, e diretores e conselheiros de empresas estatais. Parlamentares e membros do Judiciário ainda recebem auxílio-moradia, diárias generosas e gozam de planos de saúde ilimitados e de aposentadorias com valores muito acima do máximo concedido pelo INSS.

Para concorrerem às eleições e se manter no poder, os políticos ainda dispõem dos recursos dos fundos partidários e eleitoral, que totalizam bilhões, num sistema que se retroalimenta.

Legisladores não se envergonham de legislar em causa própria. Agora, passados apenas seis meses das últimas eleições, o país tem um novo exemplo disso com a tramitação de uma PEC no Congresso propondo a maior anistia da história a partidos políticos que tenham praticados irregularidades eleitorais. A proposta torna letra morta legislação anterior aprovada pelo próprio Congresso. Anula condenações e enterra os processos em tramitação na Justiça Eleitoral, inclusive aqueles relativos à utilização irregular dos fundos públicos. E, apesar de legislação mais ou menos recente proibir o financiamento privado de campanhas eleitorais, a PEC possibilita que dívidas de campanha sejam pagas com recursos de empresas privadas. Parece não haver limites.

Logo no início do novo governo, foi alterada a Lei das Estatais reduzindo brutalmente – de 3 anos para 30 dias – a quarentena dos que ocuparam cargos de direção partidária. Mais um jeitinho brasileiro para possibilitar a nomeação de membros e amigos das legendas aliadas como diretores e conselheiros das estatais, agências reguladoras e bancos públicos. Curiosamente, são estes cargos os de maiores remunerações no serviço público, com valores que podem ultrapassar a R$ 100 mil por mês. Mérito, competência, conhecimento e experiência deixaram de ser requisitos para a nomeação de cargos nos primeiros escalões da República.

E não se trata de caso isolado. Mais recentemente, foi modificado o estatuto da Apex (Associação Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos), dispensando a obrigatoriedade do domínio da língua inglesa para os postos mais elevados – e mais bem remunerados - da agência que lida com o comércio exterior.

O fundamento eleitoral parece ter sido adotado pelos governos das últimas décadas. Difícil acreditar que os políticos de fato desejam acabar com a pobreza se os votos dos mais pobres continuam decidindo as eleições.

Vivemos uma espécie de versão moderna das Capitanias Hereditárias que marcaram o período colonial com a distribuição de terras no Brasil pelo rei de Portugal. Aos donatários tudo é permitido, mesmo que seja necessário alterar as leis. Aos vassalos nada é permitido e as negativas são invariavelmente respaldadas pelo velho argumento da falta de recursos.

O povo brasileiro de há muito deixou de ser prioridade para os governantes. O bem estar da população como lei suprema preconizada por Cícero mantém-se preso ao escrito nos livros de filosofia. A preocupação maior continua sendo a arrecadação tributária, por certo necessária, mas que deveria vir acompanhada da devida contrapartida em serviços públicos de qualidade. Não é o que acontece.  E ninguém se lembra do que ensinou Margareth Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990: “Não existe essa coisa de dinheiro público, existe apenas o dinheiro dos pagadores de impostos”.

 

Samuel Hanan - engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças; empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros “Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”. www.samuelhanan.com.br

 

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