Especialista
recomenda acompanhamento médico e adesão a técnicas de relaxamento e gerenciamento
da tensão
Cada vez
mais a população está sentindo o impacto do estresse intenso na saúde. Estudo
publicado no jornal da Associação Europeia para Medicina Preditiva,
Preventiva e Personalizada (EPMA) revela que o estresse mental é
consequência e causa para problemas de visão. Ou seja, além de problemas graves
de visão gerarem um estresse intenso, por causa da perda progressiva, parcial
ou total da capacidade de enxergar, também o alto nível de ansiedade devido aos
desafios do dia a dia tem capacidade de comprometer a visão. Segundo o
coordenador do estudo, doutor Bernard Sabel, o estresse crônico acaba elevando
os níveis de cortisol no organismo e estabelecendo um desequilíbrio no sistema
nervoso autônomo, com impactos negativos ao cérebro e aos olhos.
De
acordo com o oftalmologista Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital
de Olhos, um estado prolongado de tensão pode levar ao desenvolvimento de
várias doenças que comprometem a qualidade de vida das pessoas, principalmente
pela queda da imunidade. Enquanto o estresse intenso pode ser causado pela
perda gradual e progressiva da visão em casos de glaucoma, retinopatia
diabética ou neuropatia óptica (inflamação do nervo óptico que resulta em perda
súbita da visão), ele também pode ser considerado fator de risco em várias
doenças oculares.
“Um dos
sintomas mais comuns é a queixa de movimentação involuntária da pálpebra. O
‘blefaroespasmo’ é um tipo de distonia facial muito comum depois dos 50 anos.
Obviamente, pode estar relacionado a doenças importantes, como a esclerose
múltipla. Mas, na maioria dos casos, costuma ocorrer em razão de fadiga
excessiva e tensão emocional. Os espasmos tendem a desaparecer durante o sono e
diminuem quando a pessoa está emocionalmente mais equilibrada. Se o paciente
não buscar ajuda especializada, o piscar involuntário pode se intensificar de
tal modo que acaba levando à perda de visão funcional”, diz o médico. Como
tratamento coadjuvante, o uso de toxina botulínica costuma bloquear os impulsos
nervosos, agindo diretamente nos músculos responsáveis pela contração das
pálpebras. São injetadas pequenas doses da substância na pálpebra superior,
inferior e supercílios – sendo que os efeitos podem ser percebidos rapidamente
e duram entre quatro e seis meses.
Neves
diz, ainda, que o paciente com estresse crônico deveria receber
acompanhamento psicológico ou adotar tratamentos coadjuvantes, como técnicas de
relaxamento, meditação, ioga e caminhadas. “É importante observar que a
pessoa altamente estressada tem altos níveis de cortisol, o que está
relacionado a baixos níveis de serotonina – o hormônio do bem-estar. Quando em
permanente estado de tensão, os indivíduos tendem a comer mais, a fumar mais e
a ingerir maiores quantidades de álcool. Estudos mostram que o cigarro, por
exemplo, é um importante fator de risco para doenças oculares como glaucoma,
catarata e degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Já o álcool
intensifica episódios de visão dupla e embaçada. Com o tempo, os músculos que
controlam o foco da visão ficam comprometidos, prejudicando grandemente a noção
de distância e profundidade. O ganho excessivo de peso é outra fonte de
preocupação, já que a obesidade está diretamente associada ao diabetes e, por
consequência, à retinopatia diabética – doença ocular causada pelo excesso de
glicose no sangue, que aos poucos danifica os vasos sanguíneos da retina e leva
à perda gradual da visão se não diagnosticada e tratada a tempo”.
Renato
Neves diz, por fim, que a elevação das taxas de cortisol faz ‘despencar’ a
imunidade do organismo. Com isso, aumentam as chances não só de surgir o herpes
labial, como o herpes ocular. “Quando o vírus herpes simplex atinge os
olhos, a doença pode ser mal diagnosticada e tratada indevidamente – aumentando
os riscos, inclusive, de o paciente perder a visão. Ela pode acometer qualquer
camada dos olhos, mas as manifestações mais comuns incluem blefarite (inflamação
das pálpebras), conjuntivite folicular e ceratite (inflamação da córnea). O
tratamento imediato com medicamentos antivirais específicos ou antibióticos
interrompe a multiplicação do vírus e impede que a doença continue destruindo
as células epiteliais. Também neste caso, terapias de controle do estresse são
fundamentais para evitar o gatilho que pode desencadear todas essas doenças
oculares”.
Fonte:
Dr. Renato Neves - cirurgião-oftalmologista e diretor-presidente do Eye Care
Hospital de Olhos, em SP – www.eyecare.com.br