Réu em sete ações penais, já
condenado numa delas, e é tudo golpe? Na ponta da língua de todo cidadão há
diversas respostas à pergunta que dá título a este artigo.
·
O
PT é um partido que não aceita ser contrariado, que não sabe perder e que
quando eleitoralmente derrotado dá início imediato à campanha “fora fulano”,
seja lá quem ou o quê tal fulano seja (prefeito, governador, presidente).
·
O
partido se vale de sua tentacular inserção nos circuitos formadores de opinião
para converter os fatos mais comprometedores em arrevesadas e favoráveis
versões.
·
A
visão que a legenda tem da realidade é comandada pelo objetivo final, ao qual
tudo mais se submete, mantendo, com a verdade e com os fatos, em vista disso,
uma relação libertina, alcoviteira.
·
A
politização do julgamento transformando Lula em vítima é uma estratégia que se
não serve à defesa jurídica, serve à defesa política.
· O PT
integra uma rede internacional de solidariedade comunista e/ou revolucionária
esquerdista (o Foro de São Paulo é apenas parte dela) já habituada a dar vazão
às posições aqui proclamadas pelo partido que, no passo seguinte, repercute,
nacionalmente, o noticiário internacional.
Por
isso se instalou a impressão de que, no exterior, a opinião pública julga ter
havido golpe no impeachment de Dilma, malgrado o longo processo parlamentar
dirigido, passo-a-passo, pelo STF. Também por isso o PT aposta em que, aconteça
com Lula o que acontecer, sua imagem esteja sendo preventivamente enxaguada.
Há uma causa maior, porém. Para
entendê-la é necessário ir a documentos partidários disponíveis na Fundação
Perseu Abramo e nos arquivos do Centro Sérgio Buarque de Holanda. Muito
especialmente, recomendo a leitura do documento O
PT e a Constituinte (1985-1988). Ali, à página 181, no subtítulo “A posição
final”, se lê coisas assim:
“O PT, como partido que almeja o
socialismo, é por natureza um partido contrário à ordem burguesa, sustentáculo
do capitalismo. Disso decorre que o PT rejeita a Constituição burguesa que vier
a ser promulgada (...); por extensão, o
PT rejeita a imensa maioria das leis que constituem a institucionalidade que
emana da ordem burguesa capitalista, ordem que o partido justamente procura
destruir e, no seu lugar, construir uma sociedade socialista”.
Por
fim (pag. 184):
“O NÃO DO PT À CONSTITUIÇÃO - ‘O PT, por
entender que a democracia é uma coisa importante – que foi conquistada nas
ruas, nas lutas travadas pela sociedade brasileira –, vem aqui dizer que vai
votar contra este texto, exatamente porque entende que, mesmo havendo avanços
na Constituinte, a essência do poder, a essência da propriedade privada, a
essência do poder dos militares continua intacta nesta Constituição’. Com esta
declaração síntese de seu pronunciamento no Congresso Constituinte, o líder do
PT, Luiz Inácio Lula da Silva, encaminhou o voto não do partido à Constituição
que será promulgada no dia 5 de outubro”.
Penso que esse conjunto de posições
deixa claro que o partido do ex-presidente Lula opera dentro e fora dos limites
da institucionalidade, aos quais, desde a origem, seus líderes não se
submeteram e cujo valor não reconhecem. Opera dentro quando lhe convém e opera
fora quando lhe convém. Contrariamente ao senso comum, o partido considera essa
conduta virtuosa porque a situa, em quaisquer circunstâncias, com mensalão e
Lava Jato ou sem mensalão e Lava Jato, na perspectiva de um ideal socialista
revolucionário que a tudo purifica.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.