Mesmo com alto índice de mortalidade, doença ainda é
desconhecido por boa parte dos brasileiros
A analise chamada de “Carcinoma Hepatocelular: Barreiras ao
Acesso, Diagnóstico e Tratamento no Cenário Brasileiro Atual”, feita através de dados do Datasus, revelou
que o carcinoma
hepatocelular, popularmente conhecido como câncer de fígado, é o terceiro que
mais mata no mundo, contabilizando cerca de 700 mil mortes ao ano. No Brasil,
foram registrados 44 mil óbitos no período de 2011 a 2015.
Este trabalho
multidisciplinar que contou com o apoio da Bayer constatou que uma grande
barreira que dificulta o diagnóstico precoce de CHC é o estigma ao redor das
doenças de base, como as hepatites virais e a cirrose alcoólica, que aumentam a
probabilidade do desenvolvimento de CHC. Este fator contribui para o
diagnóstico tardio e na falta de tratamento dessas doenças podendo aumentar o
número de casos de câncer de fígado. O desconhecimento e preconceito da
população sobre os temas geram uma associação da doença com um estilo de vida
promíscuo e o uso de drogas injetáveis, quando na realidade a maioria dos
pacientes adquiriu por transfusões sanguíneas antes de 1993, quando não havia o
controle sorológico das bolsas de sangue ou pela transmissão de mãe para filho,
durante o parto.
Já os
pacientes portadores de cirrose alcóolica se sentem intimidados pela sociedade
uma vez que a doença é fortemente associada ao consumo excessivo de álcool e à
vida desregrada. Em ambos os casos, o paciente se sente culpado e tem sua
autoestima prejudicada, optando pelo isolamento social, e a não adesão ao
tratamento, se tornando cada vez mais propensos ao CHC.
Além de
lidar com os estigmas sociais, os pacientes precisam entrar em uma batalha para
tratar a doença, pois as barreiras de acesso são inúmeras – desde a falta de
centros especializados para o diagnóstico, estadiamento e até a pouca oferta de
terapias para combater o câncer. Embora leis e portarias visem reduzir a
mortalidade, diminuir a incidência de alguns tipos de câncer e contribuir para
a melhoria da qualidade de vida dos usuários com câncer, ainda há demandas
importantes a serem resolvidas para atender a população de maneira eficaz, como
a variação de qualidade e tipo de atendimento entre diferentes estabelecimentos
do sistema público. Em 2011, o INCA realizou um levantamento e estimou a
necessidade de 375 estabelecimentos habilitados para atender integralmente a
todos os pacientes oncológicos no Brasil, porém, nessa época, existiam apenas
264 estabelecimentos no país, revelando uma defasagem na infraestrutura do
sistema público de saúde em relação ao tratamento de câncer1.
O
diagnóstico de CHC para os pacientes avaliados no estudo é feito tardiamente no
Brasil – cerca de 62% daqueles pacientes diagnosticados descobrem a doenças em
estágio muito avançado, tendo somente os cuidados paliativos como opção de
tratamento. Apenas 10% deles são diagnosticados em estágio inicial e outros 12%
na fase intermediária, o que pode ser o diferencial para o paciente na questão
de sobrevida e remissão do CHC.
O
oncologista do INCA (Instituto Nacional de Câncer) Dr. Roberto de Almeida Gil,
comenta que “há opções de tratamento para os diferentes estágios da doença,
mas, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, será possível chegar a
procedimentos potencialmente curativos - como a ressecção cirúrgica e
transplante de fígado – ou a procedimentos que auxiliam na regressão do tumor –
injeção percutânea de etanol e ablação por radiofrequência. Para os casos mais
avançados, com a avaliação médica, pode ser usado a quimioembolização,
quimioterapias e tratamentos paliativos”.
Saiba mais sobre CHC com o estudo
O fígado, maior
órgão sólido interno do corpo, é composto por vários tipos diferentes de
células, principalmente hepatócitos, que podem formar variados tumores malignos
e benignos2. Para o Hepatologista
do Hospital das Clinicas da Faculdade de medicina da USP, Dr. Flair Jose
Carrilho, “o carcinoma hepatocelular é a forma mais comum de câncer de fígado
primário e é responsável por aproximadamente três quartos dos casos. Alguns
começam como um único tumor que se espalha para outras partes do fígado,
enquanto outros começam como vários pequenos nódulos cancerígenos em todo o órgão. Este tipo é frequentemente visto em pessoas
com cirrose. Em todos os tipos de tumores malignos do fígado, a doença pode
sair do órgão e se espalhar para outros locais, o que chamamos de metástase”.
O carcinoma hepatocelular (CHC) é o câncer originado nas
células do fígado, causado pela multiplicação excessiva das células hepáticas
na tentativa de reparar lesões no órgão. Esse mecanismo aumenta a probabilidade
de erro durante a multiplicação celular e pode levar ao surgimento do tumor. É tipo
de câncer é extremamente agressivo, porém silencioso, sendo frequentemente
diagnosticado em estágios mais avançados, quando os sintomas começam a surgir,
decorrentes da perda da função do fígado e também das lesões hepáticas
pré-existentes. Nesta fase, são poucos os tratamentos disponíveis e as taxas de
mortalidade são elevadas2.
O principal fator de risco para o desenvolvimento de CHC é
a agressão crônica às células hepáticas, acontecendo na maioria dos casos
associados à cirrose, que pode ser causada por infeções pelos vírus das
hepatites B e C, álcool e NAFLD (Doença hepática gordurosa não alcoólica, em
tradução livre). Além desses fatores, há a exposição a aflatoxinas, que são
toxinas produzidas por fungos presentes em grãos e cereais mal armazenados,
além de condições genéticas como hepatites autoimunes e hemocromatose
hereditária2,3.
O curso natural da doença e a sobrevida mediana dos
pacientes com este tipo de câncer depende do estágio da doença no momento do
diagnóstico4. O estágio se refere à extensão do câncer no corpo ao
diagnóstico e tem influência direta nos possíveis tratamentos e seus
resultados. Os estágios iniciais ou localizados (sem metástases) apresentam uma
sobrevida significativamente maior do que os tumores diagnosticados nos estágios
avançados ou com metástases5.
Percepção do brasileiro em relação ao CHC
Mesmo com
uma taxa de mortalidade tão elevada, o brasileiro é mal informado sobre a
doença. É o que aponta uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto Oncoguia,
em parceria com a Bayer. Para entender como o brasileiro percebe o câncer de
fígado, a pesquisa ouviu 1.500 pessoas, com idade entre 18 a 65 anos, em cinco
capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Porto Alegre).
Apesar de 53%
dos entrevistados afirmar ter conhecimento sobre a doença, 61% deles não sabe
quais são os principais sintomas e 59% desconhece os fatores de risco. Apesar
do dado que revela que 76% dos entrevistados consideram o consumo excessivo de
álcool como uma das causas do câncer de fígado, o que é verdade, 56% dos
entrevistados não o relacionam com a doença.
O diagnóstico
é dúvida para metade dos entrevistados que disseram não saber como é realizado
– somente 20% deles acertaram, dizendo que os exames de imagem são o principal
meio para descobrir as lesões no órgão. Pelo menos um a cada três entrevistados
conhece alguém com a doença, mas 44% não sabe sobre a existência de tratamentos
disponíveis.
“Estes dados
nos mostram que a população precisa ter mais acesso à informação sobre o que é
o câncer de fígado, como é feito o diagnóstico e quais são as opções de tratamento.
Vemos que a maioria dos tumores são descobertos depois do avanço da doença e
isso tem impacto direto no uso das terapias e na sobrevida dos pacientes”,
ressalta Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia.
Sobre a Bayer
A Bayer é uma empresa global com competências em
Ciências da Vida nas áreas de agricultura e cuidados com a saúde humana e
animal. Seus produtos e serviços são desenvolvidos para beneficiar as pessoas e
melhorar sua qualidade de vida. Além disso, a companhia objetiva criar valor
por meio da inovação. A Bayer é comprometida com os princípios do
desenvolvimento sustentável e com suas responsabilidades sociais e éticas como
uma empresa cidadã. Em 2017, o Grupo empregou cerca de 99 mil pessoas e obteve
vendas de € 35 bilhões. Os investimentos totalizaram € 2.4 bilhões e as
despesas com Pesquisa & Desenvolvimento somaram € 4.5 bilhões. Para mais
informações, acesse www.bayer.com.br.
Referências:
1.
Tribunal de Contas da União. Política Nacional de Atenção Oncológica. Trib
Contas da União. 2011:132.
2.
Gomes MA, Priolli DG, Tralhão JG, Botelho MF. Carcinoma hepatocelular:
epidemiologia, biologia, diagnóstico e terapias. Rev Assoc Med Bras.
2013;59(5):514-524. doi:10.1016/j.ramb.2013.03.005.
3. Llovet JM, Fuster J, Bruix J. The
Barcelona approach: Diagnosis, staging, and treatment of hepatocellular
carcinoma. Liver Transplant. 2004;10(S2):S115-S120. doi:10.1002/lt.20034.
4. Blum HE. Hepatocellular carcinoma:
therapy and prevention. World J Gastroenterology. 2005;11:7391-400.
5. National Cancer Institute. SEER
Stat Fact Sheets: Liver and Intrahepatic Bile Duct
Cancer.http://seer.cancer.gov/statfacts/ html/livibd.html. Acessado em Março de
2017