Professora da
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo esclarece dúvidas mais
frequentes sobre a síndrome
Apesar da evolução nas formas de
tratamento e prevenção, a síndrome da imunodeficiência adquirida, mais
conhecida pela sigla AIDS (do inglês “acquired immunodeficiency syndrome”),
continua a ser uma preocupação dos brasileiros. Segundo dados do Programa
Conjunto das Nações Unidas (Unaids), 15 mil pessoas morreram em decorrência do
vírus HIV, o causador da AIDS, em 2015, somente no Brasil.
A Unaids ainda indica que a população
vivendo com a doença no País passou de 700 mil, em 2010, para 830 mil, em 2015,
fazendo com que o Brasil respondesse por mais de 40% das novas infecções na
América Latina. Entre os adultos brasileiros, os novos casos subiram 18,91% em
15 anos. No mundo, em média, 1,9 milhão de adultos a cada ano foram infectados
com HIV desde 2010.
Por conta do Dia Mundial de Luta
Contra a AIDS, celebrado anualmente em 1º de dezembro, o Governo Federal
instituiu recentemente o Dezembro Vermelho, mês que será inteiramente dedicado
ao combate à síndrome, por meio de campanhas de prevenção.
Apesar de ter se tornado mundialmente
conhecida desde que foi descoberta, há 30 anos, a AIDS ainda deixa muitas
dúvidas. A Dra. Maria Amélia de Sousa Mascena Veras, médica e professora do
Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa
de São Paulo (FCMSCSP), esclarece o que é mito e o que é verdade em relação à
síndrome.
- O vírus HIV pode ser transmitido por
beijo, abraço ou aperto de mão?
Mito. O vírus HIV é transmissível apenas
por contato sexual ou pelo sangue.
- É possível contrair o vírus HIV no
sexo oral?
Verdade. Embora o risco seja
significativamente menor se comparado a outras modalidades de sexo (anal e
vaginal), as chances aumentam se houver alguma ferida aberta ou ejaculação na
boca.
- Todo portador de HIV tem AIDS?
Não necessariamente. HIV é o vírus, que pode ou não se
manifestar em sua síndrome (AIDS).
- No Brasil, é possível fazer
prevenção medicamentosa para evitar a contaminação do HIV?
Verdade. O que já existe é a PEP (profilaxia
pós-exposição), um conjunto de medicamentos anti-HIV que pode ser tomado até 72
horas após a situação de risco, durante 28 dias, para diminuir as chances de
uma infecção pelo HIV. Porém, será possível fazer prevenção medicamentosa para
evitar a contaminação deste vírus a partir de 1º de dezembro de 2017, quando
será implementada a PrEP (profilaxia pré-exposição) no Sistema Único de Saúde
(SUS). A PrEP, no entanto, não confere proteção contra nenhuma outra doença
sexualmente transmissível, como sífilis, hepatites ou gonorreia.
-
O diagnóstico é feito
somente por exame de sangue?
Mito.
Além do teste pelo sangue, já existe o teste de fluido oral, que é capaz de
detectar a presença de anticorpos para o HIV na saliva.
- Se o
exame der negativo, posso respirar aliviada?
Mito.
Se o exame der
negativo, existe uma chance muito grande de que a pessoa não esteja infectada.
Porém, se a pessoa tiver tido alguma exposição ao HIV durante o período chamado
janela imunológica – período que o organismo necessita para desenvolver
anticorpos detectáveis nos exames –, pode, sim, haver infecção com resultado
negativo. Vale lembrar que, para os testes disponíveis no sistema público de
saúde, considera-se como janela imunológica o período de 30 dias após situação
de risco. Caso a pessoa acredite ter se exposto durante esse período,
recomenda-se repetir o teste 30 dias depois.
-
É possível contrair vírus HIV em estúdios de tatuagem, manicures e consultórios
de dentista?
Verdade. Além de outras infecções graves como
hepatites. Por isso, é necessário que todos os aparelhos utilizados sejam
descartáveis ou devidamente esterilizados antes de serem utilizados
novamente.
-
Portadores de HIV, mesmo fazendo tratamento correto, morrem mais cedo do que
pessoas que não estão infectadas?
Talvez. Portadores de HIV têm um risco maior
de desenvolver problemas de saúde como infecções oportunistas (tuberculose,
toxoplasmose etc.) e alguns tipos de câncer, especialmente quando sua carga
viral não está zerada. No entanto, pessoas que iniciam o tratamento cedo e o fazem
da maneira correta, diminuem significativamente esses riscos. Atualmente, há
muitas pessoas vivendo com HIV com a mesma expectativa de vida de pessoas
não-infectadas.
- Mulheres
soropositivas podem engravidar sem que o vírus HIV seja transmitido?
Verdade. Se já estiverem em tratamento ou o
iniciarem o quanto antes, o risco de transmissão para o bebê se reduz a quase
zero.
- É
preciso haver penetração para a transmissão do HIV?
Mito. O HIV tem diversas formas de
transmissão, inclusive pelo sangue. No entanto, o sexo com penetração é um dos
que oferecem maior risco, especialmente se houver ejaculação ou feridas abertas
em qualquer um dos órgãos envolvidos (pênis, ânus ou vagina).
- Os novos
coquetéis de drogas fizeram da AIDS uma doença crônica como a hipertensão?
De
certa forma, sim.
Isto significa que a chance de alguém que adere ao tratamento da maneira
correta desenvolver AIDS é mínima. No entanto, é preciso lembrar que
interromper o tratamento vai fazer com que o vírus volte a se multiplicar, além
de favorecer sua mutação em formas mais resistentes aos medicamentos
disponíveis.
- Toda
camisinha é 100% confiável?
Mito. Nenhum método de prevenção é 100%
eficaz. O preservativo, contudo, confere um grau de proteção muito alto,
próximo a 100%, se utilizado da maneira correta. Recomenda-se, especialmente no
sexo anal, que ela seja utilizada junto a um gel lubrificante à base de água,
uma vez que o ânus não possui lubrificação natural e a camisinha pode se romper
com o atrito.
- Quem tem
uma relação estável pode dispensar o preservativo?
Depende. Esta é uma decisão que tem de partir
de cada casal. Se ambos forem soronegativos e mantiverem uma relação
estritamente monogâmica (isto é, sem outros parceiros), não há qualquer chance
de infecção pelo HIV. Se um ou ambos os parceiros possuírem o HIV, recomenda-se
o uso da camisinha para evitar a infecção do parceiro HIV negativo ou a
reinfecção no caso de uma pessoa HIV positivo. Em casais com relacionamentos
abertos, o preservativo também pode estar presente como coadjuvante na redução
de riscos.
Faculdade
de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP