Segundo
o último estudo do Programa Vigilância Eletrônica Nacional Americano, realizado
entre 2001 a 2009, 12.400 mil crianças, de 0 a 14 anos de idade, foram
atendidas em pronto-socorro por asfixia, o que significa 34 ocorrências por
dia. Balas duras foram responsáveis por 15% dos episódios, seguidos de outros
doces (13%), salsicha (12%) e ossos (12%). De acordo com a pesquisa, 55% dos
casos ocorreram com meninos, e as crianças de 0 a 4 anos apresentaram a maior
taxa de asfixia relacionada a alimentos.
As
crianças são dotadas de reflexos naturais involuntários que as protegem contra
a aspiração de alimentos durante a deglutição. Tosse, fechamento da glote e
reflexo de vômito são exemplos dessa defesa natural. Por volta de 6 a 8 meses
de idade, os primeiros dentes (os
incisivos)
começam a aparecer, e até cerca de 18 meses, os primeiros molares, responsáveis
pela mastigação e moagem dos alimentos, já nasceram.
Apesar
de todo preparo natural, as crianças são mais suscetíveis a engasgos do que os
adultos, porque há algumas limitações que as tornam mais vulneráveis. A força
do ar gerado pela tosse de uma criança é menor do que a força exercida por um
adulto, fazendo com que esse reflexo seja menos eficaz para desalojar uma
obstrução parcial das vias aéreas.
Outro
aspecto diz respeito à maturidade do processo de mastigação e
deglutição:
embora os dentes já estejam presentes, as habilidades mastigatórias maduras levam
mais tempo para estarem plenamente desenvolvidas. Se somarmos esses aspectos ao
reduzido diâmetro das vias aéreas superiores dos pequenos, entendemos melhor
porque as crianças têm risco aumentado de engasgos e asfixia.
Fatores
comportamentais também podem aumentar o risco. Algumas atitudes durante o ato
de comer, como caminhar, correr, conversar, rir, comer rapidamente ou ainda
encher muito a boca com comida elevam as possibilidades de obstrução das vias
aéreas.
Quais
alimentos são mais perigosos?
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Alimentos com formatos ovalados, arredondados ou cilíndricos são os campeões
para o risco de asfixia, por apresentarem o mesmo diâmetro das vias aéreas
superiores de uma criança.
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Alimentos duros que exigem maior trituração e moagem também são mais perigosos,
devido à pouca capacidade de mastigação plena dos pequenos.
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Alimentos pastosos e pegajosos, que “grudam” nas paredes da garganta, também
podem obstruir as vias aéreas e reduzir a passagem de ar.
Sendo
assim, os adultos devem ter muito cuidado ao oferecer alimentos que se encaixam
nessas categorias:
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Salsichas e linguiças;
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Amendoins, sementes, nozes e outras castanhas;
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Pipoca;
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Pasta de amendoim, cream cheese, requeijão ou outros do gênero;
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Balas e chicletes;
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Pedaços grandes de carnes e queijos duros;
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Marshmallows;
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Salgadinhos (principalmente os duros como a batata e similares).
Especialmente
para os menores de 2 anos, além dos alimentos acima, atenção especial aos
abaixo listados:
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Uvas inteiras ou uva passa;
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Casca de fruta e frutas duras cruas (como a maçã e a pera verde);
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Vegetais duros crus e verduras cruas;
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Alimentos em forma de cordão (exemplo: broto de feijão, espaguete, verduras
cortadas em tiras como repolho ou couve).
Como
muitos dos alimentos citados são importantes na dieta alimentar das crianças,
eles não precisam ficar de fora. Basta um cuidado especial na forma de
apresentação para que não haja risco de engasgo. Uvas cortadas na longitudinal
(no sentido do comprimento), vegetais duros (como cenouras), cortadas em
palitos (no formato de batata frita) e picar bem alimentos na forma de cordão
são alternativas para que não haja exclusão de alimentos nutritivos, e tampouco
situações perigosas durante a refeição.
O
que fazer?
Em
caso de obstrução parcial da via aérea, a criança irá chorar ou tossir, o que é
bom sinal, pois pode acabar expelindo o alimento. Só tente tirar algo da boca
da criança se você estiver visualizando o alimento. Caso a tosse não seja
suficiente para expulsar o alimento, procure ajuda médica urgente, devido ao
risco de se tornar uma obstrução completa.
Em
caso de obstrução completa, inicialmente, a criança ainda estará consciente,
mas sem emitir nenhum som e sem conseguir tossir, e pode ter os lábios
arroxeados. Em crianças menores de 1 ano, coloque rapidamente a criança de
barriga para baixo, com a cabeça um pouco mais baixa que o nível do corpo, e
apoie a cabeça. Dê 5 golpes firmes nas costas da criança com a sua mão aberta,
e cheque rapidamente a boca (se o alimento
saiu)
e a respiração. Caso a obstrução continue, vire a criança de barriga para cima
e faça 5 compressões fortes no peito. Se ainda estiver obstruída, vire
novamente de barriga para baixo e repita o processo.
Obstruções
completas em crianças maiores de 1 ano são tratadas como em adultos, com a
manobra de Heimlich. Posicione-se atrás da criança, o corpo dela levemente
inclinado para a frente. Coloque uma mão com o punho fechado pouco acima do
umbigo, na “boca do estômago”, e a outra mão aberta sobre a mão fechada.
Aplique 5 compressões fortes e bruscas no abdômen, e veja se o alimento saiu.
Pode repetir a manobra, se necessário. Lembre-se de pedir ajuda imediata do
SAMU, mesmo que seus esforços pareçam dar resultados.
Dr.
Carlo Crivellaro - Pediatra com Título de Especialista em Pediatria pela
Sociedade Brasileira de Pediatria; Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria;
e Membro da Highway to Health International Healthcare Community