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quinta-feira, 20 de abril de 2017

Adolescentes em risco de suicídio e o jogo da Baleia Azul



Blasting News



Nas últimas semanas há uma difusão de notícias sobre casos de adolescentes que cometeram ou tentaram suicídio ao entrar em um jogo da internet denominado Baleia Azul.

Trata-se de um jogo que supostamente surgiu na Rússia e está sendo difundido para diversos países. O jogo exige o cumprimento de diversas tarefas, sendo a última delas, o suicídio. Os casos de suicídio espalhados no mundo assustam, e aqui no Brasil já há suspeitas de alguns. Não é necessário detalhar o jogo, que já foi explicitado em outras matérias. No entanto, gostaria de chamar a atenção para alguns aspectos:
  1. O suicídio cresce no mundo todo, principalmente entre os jovens na faixa etária de 15 a 29 anos. Segundo a OMS, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio.
  2. As taxas de suicídio são maiores nos países de baixa renda. O Japão é uma exceção, que pode ser explicada pelas altas expectativas profissionais, mas também pelo isolamento tecnológico dos jovens.
  3. As famílias têm muita dificuldade em interpretar os comportamentos dos jovens, costumam achar tudo normal. Por outro lado, os jovens têm dificuldade de pedir ajuda quando estão depressivos ou envolvidos em situações virtuais perigosas.
  4. A geração zappiens não tem aprendido a lidar com frustrações. São hiperestimuladas nos games e vídeos violentos e podem ter dificuldades para adentrarem em uma vida adulta complexa e exigente. A automutilação e a morte seriam uma espécie de saída gloriosa em face dessas dificuldades.
  5. O ideal de vida luxuoso e exótico das celebridades pode estimular excentricidades e ao mesmo tempo intensificar o sentimento de incompetência e solidão no jovem. No jogo eles tentam provar que são fortes.
  6. A educação excessivamente “liberal” pode deixar os jovens sem referenciais. Como os adultos têm medo de exercer qualquer tipo de autoridade, muitos jogos conquistam os jovens por meio de um chefe déspota que impõe missões cruéis. O chefe do jogo da Baleia está no comando da vida do adolescente e não se pode negar o prazer que o jovem sente na submissão.
  7. O sentimento de sermos um “estranho no ninho” é muito comum na adolescência e isso faz com que os jovens busquem um grupo em que se sintam aceitos. Para isso chegam a aceitar regras perigosas. O fato de adentrarem em uma suposta comunidade secreta e de se tornarem celebridades ao morrer, é atraente.
  8. Na sociedade do espetáculo, o prazer de ser diferente e de chocar também mobiliza muitos jovens a aderirem aos grupos exóticos. Nesses casos estão envolvidas as pulsões voyeurístico-exibicionistas e sádico-masoquistas, que também são muito estimuladas nas mídias.
  9. As automutilações e modificações corporais masoquistas também ganharam espaço na juventude, que precisa vivenciar dores e sofrimentos como forma de lidar com um Eu existencial frágil e doloroso, enfim, externalizar no corpo a angústia de existir.
  10. A maior parte dos pais e educadores ignoram os perigos da internet. O jogo da baleia é apenas um deles. Grave sim! Mas, há muitos outros insidiosos e invisíveis, capazes de alterar o funcionamento cognitivo e emocional dos jovens.
  11. A depressão costuma ser tratada como frescura e a tentativa de suicídio como “maneira de chamar a atenção”. É importante reconhecer o sofrimento juvenil, buscar uma psicoterapia e além disso oferecer apoios nos ambientes educacionais.
  12. As famílias e educadores precisam fortalecer os laços dos jovens com as situações concretas da vida, promover situações que favoreçam a autoconfiança e a sociabilidade; refletir sobre os modismos virtuais, e oferecer espaço para conversarem sobre medos, solidão e tristezas.
Enfim, é preciso que os adultos façam o papel de adultos e estejam ao lado dos adolescentes na travessia das angústias da vida.




Cláudia Prioste - psicóloga, psicanalista e professora doutora do Departamento de Psicologia da Educação da Unesp - Câmpus Araraquara - Contato da pesquisadora: claudiaprioste@fclar.unesp.br



Aprovado em 2ª votação projeto de lei que disciplina exposição



Pública de material erótico e pornográfico em São Paulo

Tema abordado pelo vereador Eduardo Tuma (SP) é questão de saúde pública


O projeto de lei 556/2013, de autoria do vereador Eduardo Tuma (PSDB), foi aprovado em 2ª votação pela Câmara Municipal de São Paulo, disciplinando a exposição pública de material erótico e pornográfico, de conteúdo impróprio para menores de 18 anos, no município de São Paulo.

O projeto propõe a proibição da exposição indiscriminada de periódicos, revistas, jornais, livros, DVDs, CDs e cartazes em bancas, livrarias, locadoras de DVDs, CDs ou estabelecimentos que comercializam produtos os quais envolvam conteúdo erótico, pornográfico ou impróprio para menores de 18 anos.

Esses estabelecimentos, de acordo com o projeto, deverão reservar espaço próprio, de menor visibilidade, para a exibição de material de conteúdo erótico ou pornográfico, bem como ser comercializado em embalagem lacrada, com advertência do seu conteúdo, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Além disso, aqueles que comercializam livros, CDs e DVDs deverão reservar espaço próprio, de menor visibilidade, para disponibilizarem esse material, distante das demais estantes, de forma que dificulte o acesso de menores de idade.

Também fica vedada às empresas fixarem em espaços públicos, como ruas e avenidas, propagandas que induzam ou promovam explicitamente atividades desse porte.

A fiscalização caberá ao Poder Executivo Municipal e o estabelecimento que desrespeitar a Lei será primeiramente autuado e terá multa ainda maior na reincidência, além da lacração do imóvel.

O vereador explica que quer dar maior eficiência ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que já prevê essas ações. “Não é necessário muito esforço para perceber que este preceito legal vem sendo desrespeitado em nossa cidade. Queremos, assim, garantir um ambiente de crescimento saudável para as nossas crianças e adolescentes, pois inúmeras são as pesquisas que apontam para precocidade sexual no Brasil e as mesmas pesquisas mostram a mídia como o maior agente de influência nesse processo”, explica Eduardo Tuma.

"A questão é de saúde pública, de elevado interesse social, vai além de um discurso moral, visto que questões como gravidez infanto-juvenil ou até mesmo a exploração sexual infantil estão direta ou indiretamente associadas a intensa exposição a esses materiais", completa o vereador.




O Simbolismo da Baleia Azul



Jogo tem alarmado famílias, professores e sociedade


 A baleia é a mãe primordial, a fêmea, a caverna. Traz em seu simbolismo a escuridão abissal e misteriosa do mar: o inconsciente. No mito do herói, a baleia é a Grande-Mãe devoradora em cujo ventre o deus-herói se transforma.

E falando em baleia, não podemos deixar de traçar um paralelo com o jogo Baleia Azul que, ultimamente, vem mobilizando nossa sociedade, os pais, as mídias e principalmente nossos jovens. O que estão querendo dizer com o não dito?

O suicídio na adolescência foi o  tema que escolhi como  trabalho de conclusão do curso de psicologia há 24 anos e lembro, perfeitamente, a dificuldade que era encontrar bibliografia que abordasse o tema. Não por que o tema não precisasse ser abordado, mas porque ainda temos um tabu em falar sobre morte e principalmente de suicídio.

Se o suicídio entre adultos já está envolto por silêncios e tabus, é ainda mais silencioso entre crianças e adolescentes. A sociedade, em geral, não aceita a ideia de que eles possam querer se matar. Pais de adolescentes que se mataram tendem à negação, uma reação ao sentimento de culpa. Além disso, é escasso o conhecimento sobre qual lógica rege os suicídios juvenis e sobre como preveni-los – os estudos e a experiência existentes dizem respeito basicamente a pessoas adultas.

Entrentanto, agora o jogo da Baleia Azul convida todos a um debate urgente perante o tema e ao enfrentamento de uma verdade alarmante: crianças e adolescentes também sentem dores emocionais, padecem de depressão, sofrem com o abandono e não se satisfazem com ganhos materiais, colégios excepcionais e viagens anuais à Disney.

Durante muito tempo considerada um peixe, a baleia é um mamífero que pelo    seu tamanho e forma foi considerada uma deusa do mar. Enquanto divindade, a baleia é um símbolo de renascimento associada ao fato de ser também um suporte do mundo. Em muitas tradições, existe um mito iniciático de passagem pelo ventre da baleia como uma espécie de renovação espiritual ou metafísica. Vide a passagem bíblica de Jonas, na qual este é engolido pela baleia e passa três dias dentro do ventre dela e depois renasce como se passasse da morte para um renascimento.

Precisamos parar, pensar e identificar por que a juventude, fase mais exuberante da vida, encontra-se tão vulnerável ao suicídio. O que justificaria uma ausência de satisfação, um desânimo e desinteresse tão grandes que fazem com que a vida e o viver percam o sentido?

A adolescência é a fase da vida na qual passamos pelas maiores mudanças físicas, emocionais e comportamentais. A outra é a terceira idade na qual os índices de suicídio também são bastante elevados.

Todas as mudanças levam a profundos questionamentos, a dor da perda dos que foram para os que se tornarão, a perda do status de criança que pode e deve ser cuidada para uma exigência de maturidade e responsabilidade. Cobranças em torno de uma definição sexual, profissional e a consequente entrada no universo do álcool e das drogas como uma busca de resposta ao desprazer.

Somamos a isso as mudanças na estrutura da família moderna na qual as crianças e os jovens muitas vezes são órfãos de pais e acabam sendo educados pela escola, pelas babás ou pelo mundo digital. Os laços de afeto e de confiança vão sendo estabelecidos por agentes externos e assim jogos, como a Baleia Azul ou processos de bullying vão tomando um vulto muito maior do que tomariam, caso esses jovens se sentissem amparados, monitorados e ouvidos por essas figuras de amor, suporte e proteção que deveriam ser os pais.

Todos esses são fatores de risco e precipitantes de pensamentos e comportamentos suicidas. Porém, o jovem com suas características impulsivas, atemporais e fantasiosas não encaram a morte "como o morrer" e o suicídio também não vem como estratégia para morte. Quase sempre é visto como uma forma de renascer, de exterminar a dor e iniciar uma nova vida. Parece com o processo iniciático do ventre da baleia? A morte do herói? A ilusão de uma vida livre das dores da alma, das dores do crescimento e da dor da solidão mesmo que no meio da multidão?

Acredito que estejamos sendo convidados pela própria tragédia social a rever nossa conduta como pais, professores e diretores de instituições de ensino.

Dados do CIT -Centro de Informações Toxicológicas - foram dissecados em uma dissertação de mestrado defendida na UFRGS em maio. De autoria da psiquiatra da infância e da adolescência, Berenice Rheinheimer, o trabalho trouxe dados alarmantes, indicando uma tendência de forte aumento nas tentativas de suicídio no universo dos oito aos 17 anos (abaixo dessa idade, os casos são automaticamente classificados como acidente). Em 2005, foram 492 episódios. Em 2013, apesar de a população da faixa etária ter recuado consideravelmente, os casos subiram para 626. O que mais assusta é que esses dados estão baseados em denúncias voluntárias, e sabemos,  que a maioria dos casos não é denunciada por culpa, vergonha ou medo.

Precisamos de estratégias específicas de prevenção junto a essa população jovem, a metodologia de prevenção para criança e adolescente tem de ser outra.  Como observa o psiquiatra Ricardo Nogueira, coordenador do Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio: “Para começar, é mais difícil de detectar o risco, porque eles não verbalizam tanto quanto a pessoa mais velha".
Ninguém deseja morrer. O suicidio é muito mais um pedido de ajuda do  que o desejo real de morte.

Até quando teremos que assistir nossos jovens abandonando a vida porque não foram vistos, não foram ouvidos. Cada vez internamos jovens e mais jovens. Cada vez mais jovens se cortam, se calam e se matam.







Ana Café - psicóloga clínica, graduada pela Universidade Estácio de Sá e se formou pela Universidade de Havana para atuar na reinserção social do paciente portador de transtornos mentais e emocionais. Além disso, possui especialização no tratamento e prevenção dos transtornos do impulso e na prevenção do uso de drogas pela Faculdade Federal de Santa Catarina. É presidente da Associação de Familiares Lilian Catão que presta apoio ás famílias de dependentes químicos desde 2015. Ela é membro da Associação de Terapia Cognitiva e recebeu capacitação pela Secretaria Especial de Prevenção às Drogas do Rio de Janeiro para atuar como Agente Multiplicador.



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