Não é difícil perceber as imensas dificuldades que
uma pessoa teria se acreditasse que dois mais dois são cinco. Entretanto, se um
erro de soma é fácil de ser percebido, o mesmo não ocorre com outras
informações. E, se elas são relevantes para a tomada de decisão, as
consequências podem ser catastróficas.
Quer seja na vida pessoal, na carreira ou na
liderança executiva e empresarial, a verdade desempenha papel fundamental em
nossas escolhas. Ela é uma alavanca que, se acionada, produz os resultados
esperados, e, se for corrompida, pode causar grandes prejuízos. Portanto, a
busca pela verdade deve ser o foco na conduta de todos e, em particular, dos
líderes.
E as fake news dificultam sobremaneira conhecermos
a verdade. Embora o termo exista há mais de um século, nos últimos anos, o advento
das redes sociais criou um ambiente propício para sua propagação.
Em síntese, fake news, nada mais são que notícias
falsas propagadas deliberadamente para impor um poder, normalmente político.
Contudo, você não precisa de uma rede social para
utilizar fake news. A força devastadora delas pode ser observada na sociedade
alemã das décadas de 1920 e 30, que culminou com a ascensão ao poder do Partido
Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães – Partido Nazista –, que impôs,
com o apoio de outras forças, ideias destruidoras em uma sociedade
reconhecidamente culta. Uma das características das fake news é a inundação da
mente das pessoas com uma quantidade de informação tão grande que elas ficam
suscetíveis a acreditar em qualquer coisa – e é aí que está seu grande perigo:
manipular pessoas fazendo-as aceitar aquilo que um grupo deseja.
Um líder empresarial deve ter grande preocupação
com a mentira empacotada em notícias falsas. Elas são graves para o País, mas
podem ocorrer em menor escala dentro da companhia e causar, também, sérios
danos a ela.
Embora existam muitas orientações a respeito de
como identificar fake news, penso que há um ponto importante, que é rejeitar
certas afirmações que criam o ambiente para que elas se propaguem. A que mais
me preocupa é a famosa "cada um tem a sua verdade".
Quando ouço alguém afirmar isso, eu interrompo e
procuro demonstrar que podemos ter crenças e opiniões diferentes, mas não
verdades diferentes. A verdade é aquilo que não pode ser negado.
Dentro da empresa, ocorre o mesmo que no mundo:
fatos e registros. E a busca por eles é o enorme desafio. Pois, para saber o
que é a verdade, todo gerente, diretor e presidente deve saber o seguinte:
Se a verdade é o que aconteceu, e, portanto, segue
uma linha do tempo, ela somente pode produzir resultados se for conhecida por
alguém. Portanto, a afirmação de que hoje se produz muito conhecimento é
fantasiosa. O que se produz muito é registro de conhecimento, que, se estiver
fora da cabeça de um ser humano, não realiza nada.
Como pessoas morrem e também perdem a memória,
assim como há uma linha do conhecimento, há uma linha do esquecimento. Por
exemplo, recentemente saiu uma notícia de que descobriram mais informações
sobre o concreto usado no império romano, o qual, ao contrário do atual, fica
cada vez mais duro quanto mais exposto ao sol e às intempéries do clima. Ainda
assim, por motivos diversos, são desconhecidos fatores fundamentais para que
seja produzido hoje.
Por último, além das linhas da verdade e do
esquecimento, e paralelamente a ambas, há a linha da mentira. Ela é criada por
pessoas e grupos que desejam o poder a qualquer custo e, para isso, vão se
proteger e atacar a verdade por meio de mentiras que são os tijolos que
constroem as fake news. Afinal, uma notícia fantasiosa deve ser reforçada ao
longo do tempo por mentiras e mais mentiras que devem ser criadas e divulgadas
sistematicamente, criando um complexo sistema de confirmações, todas falsas,
mas que podem se referenciar umas às outras para suportar a mentira principal.
A conclusão é que é uma tarefa muito difícil
descobrir a verdade. Quer seja na história de um país, ou naquilo que ocorre no
interior de uma empresa na interação entre seus funcionários, fornecedores,
gestores e clientes, a verdade pode estar encoberta por uma camada de
informações falsas. E é por isso que um gestor deve ser capaz de selecionar
pessoas de boa índole, corajosas e capazes de dizer a verdade dos fatos.
Sob muitos aspectos, confiar em alguém significa
confiar nos números e nos fatos que relata.
As fake news, portanto, são criações humanas, e,
por isso mesmo, sua origem são pessoas específicas que devem ser identificadas
e retiradas do interior da empresa e afastadas dos círculos de decisões para o
bem da companhia e de seu futuro. E essa é uma tarefa fundamental a que os
gerentes, diretores e presidentes não podem se furtar.
Vamos em frente!
Silvio Celestino - Autor do livro "O Líder
Transformador, como transformar pessoas em líderes", Sílvio Celestino é
sócio fundador da Alliance Coaching. No Twitter: @silviocelestino. Visite: www.alliancecoaching.com.br e www.facebook.com/AllianceCoachingBrasil
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