Apresentado no ESMO 2025 e publicado no The New England Journal of
Medicine, conta com coautoria do Dr. Ariel Kann, coordenador da Oncologia do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Um exame de sangue, conhecido como biópsia líquida, capaz de detectar fragmentos do DNA do tumor no sangue, pode ajudar médicos a decidir quem realmente precisa receber imunoterapia após a cirurgia de câncer de bexiga, e quem pode apenas ser acompanhado. É o que mostra um estudo internacional de fase 3, publicado no The New England Journal of Medicine e apresentado nesta segunda-feira (20) no Congresso Europeu de Oncologia (ESMO 2025), em Berlim, com coautoria do Dr. Ariel Kann, oncologista e head do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
A bexiga é um órgão muscular e elástico, localizado na pelve, responsável pela retenção e eliminação da urina. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a American Cancer Society, cerca de 614 mil pessoas são diagnosticadas com câncer de bexiga todos os anos, o que o torna o nono tipo mais frequente de câncer no mundo. A doença é quatro vezes mais comum em homens do que em mulheres, e o principal fator de risco é o tabagismo, seguido da exposição ocupacional a determinados produtos químicos.
O estudo, denominado IMvigor011, acompanhou 761 pacientes submetidos à cirurgia para remoção da bexiga. Aqueles que apresentavam vestígios da doença no sangue, identificados por meio do exame de DNA tumoral circulante (ctDNA), forma específica de biópsia liquida ainda restrita a centros de pesquisa, foram divididos em dois grupos: um recebeu o medicamento atezolizumabe, uma imunoterapia que estimula o sistema imunológico a combater o câncer, e o outro recebeu um placebo. Já os pacientes sem sinais da doença permaneceram em acompanhamento clínico.
De acordo com o especialista, após a cirurgia (cistectomia), até metade dos pacientes correm risco de recidiva. “Hoje, decide-se quem precisa de tratamento complementar se baseando em avaliações clínicas e exames de imagem, que nem sempre detectam precocemente o retorno da doença”, conta.
O IMvigor011 é o primeiro estudo a comprovar, de forma prospectiva, que o exame de ctDNA pode guiar essa decisão com maior precisão, definindo quem deve receber imunoterapia e quem pode ser apenas monitorado. “O exame pode detectar o reaparecimento do câncer, em média, 100 dias antes dos exames de imagem, permitindo intervir em uma janela de tempo em que ainda há potencial de cura com o uso da imunoterapia”, destaca.
Entre os 250 pacientes ctDNA-positivos incluídos no ensaio, o uso de atezolizumabe reduziu em 36% o risco de recidiva ou morte e em 41% o risco de óbito em comparação ao grupo placebo.
Já os pacientes com ctDNA negativo persistente permaneceram livres da doença em 95% dos casos após um ano e em 88% após dois anos, sem necessidade de tratamento adicional, o que reforça o potencial do exame em evitar terapias desnecessárias e toxicidade.
Apesar do avanço,
Dr. Ariel Kann ressalta que o uso clínico do exame ainda depende de ampliação
de acesso e validação em diferentes contextos de saúde, especialmente fora de
grandes centros oncológicos.
Medicina de
precisão aplicada à oncologia
“Essa é uma das evidências mais consistentes até agora de que o ctDNA pode orientar o tratamento de forma personalizada, evitando terapias desnecessárias e permitindo intervir mais cedo em quem realmente precisa”, explica Dr. Ariel.
O estudo também demonstrou que o uso do ctDNA como ferramenta de decisão terapêutica antecipa a detecção de recidiva em relação aos exames de imagem e pode reduzir custos e toxicidade ao poupar pacientes sem risco de exposição a imunoterapias de alto custo. “É um avanço que inaugura uma nova era no manejo do câncer de bexiga e reforça o papel da medicina de precisão no cuidado oncológico”, completa.
Segundo ele, a expectativa é que, à medida que esses exames se tornem mais acessíveis e incorporados à prática clínica, possam beneficiar um número crescente de pacientes.
O pesquisador ainda destaca que a abordagem baseada em ctDNA tem potencial de aplicação em outros tipos de câncer, como pulmão, colorretal e mama, nos quais já estão em andamento estudos com desenho semelhante. “É uma tendência que deve transformar o acompanhamento pós-cirúrgico em várias especialidades oncológicas”, complementa.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz é um dos centros participantes do estudo e a coautoria do Dr. Ariel Kann no artigo publicado no New England Journal of Medicine reforça o papel do hospital na produção científica em oncologia de precisão e sua integração a colaborações multicêntricas de ponta.
Hospital Alemão Oswaldo Cruz
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