O
7 de Setembro vai além de uma simples data cívico-histórica que merece ser
lembrada anualmente. É uma oportunidade para reavaliar quem somos como nação. E
o que isso significa para nós, cidadãos brasileiros, se relaciona diretamente à
importância do tipo de educação oferecido, seja ela pública ou particular, pois
é nas escolas onde se cultivam as sementes da reflexão sobre o significado
desta data, do nosso compromisso com a pátria e da valorização da cidadania,
elementos essenciais para fortalecer a conexão entre a sociedade e sua
compreensão sobre sua identidade.
No
início da República, José Veríssimo, o principal idealizador da Academia
Brasileira de Letras, defendia mudanças significativas na educação brasileira,
porém, de forma gradual, lideradas por um governo democrático. Para ele,
melhorar a qualidade do ensino público, por exemplo, era um “serviço patriótico
da mais alta relevância”. Para Veríssimo, a função da escola ultrapassa a
simples transmissão de conteúdos: é responsabilidade dela cultivar uma
consciência coletiva em relação aos valores e símbolos nacionais, fomentando um
patriotismo saudável e reflexivo.
Veríssimo
destacava a necessidade de um “[...] entendimento da origem compartilhada, das
adversidades comuns enfrentadas e superadas, da trajetória e evolução dos
mesmos costumes, das mesmas leis e da mesma estrutura organizacional, dos
avanços custosos, lentos, porém seguros, da noção exata da solidariedade
nacional, e com ela o amor à pátria que nos foi transmitido por nossos
antepassados, assim como o firme compromisso de perpetuá-lo, a fim de legá-lo
às futuras gerações de forma progressivamente aprimorada”.
Osório
Duque Estrada, um dos autores do Hino Nacional Brasileiro, questionava a
criação de narrativas educacionais que glorificavam certos personagens ou
acontecimentos, negligenciando outros atores e perspectivas alternativas da
Independência. Na carta que publicou em A Escola Primária (1921),
Estrada discute como o currículo e as celebrações do centenário da
Independência pretendiam estabelecer uma perspectiva tendenciosa da história,
perpetuando fantasias históricas e privilegiando certas interpretações
políticas em prejuízo de outras. Desse modo, a Semana da Pátria era percebida,
por alguns críticos, como uma maneira de fortalecer uma memória nacional
idealizada, enquanto o debate crítico e plural sobre o passado ficava em
segundo plano.
Nesse
sentido, o historiador José Murilo de Carvalho afirma que, em períodos de
transformação social e política (como o rompimento com Portugal, em 1822), a
manipulação do imaginário nacional é fundamental tanto para a legitimação de
regimes quanto para a criação de identidades coletivas. Assim, as festas e
rituais cívicos desempenham um papel disciplinador e de memória, ajudando a
criar um senso de pertencimento e responsabilidade em relação à comunidade.
Atividades
como o hasteamento de bandeiras, canto do hino nacional e desfiles cívicos das
escolas durante a Semana da Pátria visam promover o orgulho nacional e a
valorização do Brasil por cada cidadão. No entanto, um projeto educacional bem
planejado sobre o 7 de Setembro deveria abranger também temas que transcendem o
civismo convencional, incluindo, por exemplo, inclusão e sustentabilidade.
Patriotismo verdadeiro se fortalece ao valorizar a ética social, a diversidade
e riqueza tanto cultural quanto ambiental do Brasil.
Nesse
cenário, é evidente que o fortalecimento do ser patriota depende do papel da
educação na formação de cidadãos críticos, conscientes e dedicados, em primeiro
lugar, ao seu redor (escola, rua e bairro) e, depois, a projetos de alcance
maior (cidade, estado, região e país).
Apoiar
iniciativas educacionais que promovam a valorização dos símbolos nacionais, a
reflexão crítica sobre a história nacional e a cidadania ativa é contribuir
para a construção de uma nação mais unida e apta a enfrentar os desafios do
presente e do futuro.
Prof. Sérgio Pereira, professor de História do Colégio
Presbiteriano Mackenzie, Tamboré
Nenhum comentário:
Postar um comentário