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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Sete de Setembro, educação e o desenvolvimento do patriotismo crítico

 

O 7 de Setembro vai além de uma simples data cívico-histórica que merece ser lembrada anualmente. É uma oportunidade para reavaliar quem somos como nação. E o que isso significa para nós, cidadãos brasileiros, se relaciona diretamente à importância do tipo de educação oferecido, seja ela pública ou particular, pois é nas escolas onde se cultivam as sementes da reflexão sobre o significado desta data, do nosso compromisso com a pátria e da valorização da cidadania, elementos essenciais para fortalecer a conexão entre a sociedade e sua compreensão sobre sua identidade. 

No início da República, José Veríssimo, o principal idealizador da Academia Brasileira de Letras, defendia mudanças significativas na educação brasileira, porém, de forma gradual, lideradas por um governo democrático. Para ele, melhorar a qualidade do ensino público, por exemplo, era um “serviço patriótico da mais alta relevância”. Para Veríssimo, a função da escola ultrapassa a simples transmissão de conteúdos: é responsabilidade dela cultivar uma consciência coletiva em relação aos valores e símbolos nacionais, fomentando um patriotismo saudável e reflexivo. 

Veríssimo destacava a necessidade de um “[...] entendimento da origem compartilhada, das adversidades comuns enfrentadas e superadas, da trajetória e evolução dos mesmos costumes, das mesmas leis e da mesma estrutura organizacional, dos avanços custosos, lentos, porém seguros, da noção exata da solidariedade nacional, e com ela o amor à pátria que nos foi transmitido por nossos antepassados, assim como o firme compromisso de perpetuá-lo, a fim de legá-lo às futuras gerações de forma progressivamente aprimorada”. 

Osório Duque Estrada, um dos autores do Hino Nacional Brasileiro, questionava a criação de narrativas educacionais que glorificavam certos personagens ou acontecimentos, negligenciando outros atores e perspectivas alternativas da Independência. Na carta que publicou em A Escola Primária (1921), Estrada discute como o currículo e as celebrações do centenário da Independência pretendiam estabelecer uma perspectiva tendenciosa da história, perpetuando fantasias históricas e privilegiando certas interpretações políticas em prejuízo de outras. Desse modo, a Semana da Pátria era percebida, por alguns críticos, como uma maneira de fortalecer uma memória nacional idealizada, enquanto o debate crítico e plural sobre o passado ficava em segundo plano. 

Nesse sentido, o historiador José Murilo de Carvalho afirma que, em períodos de transformação social e política (como o rompimento com Portugal, em 1822), a manipulação do imaginário nacional é fundamental tanto para a legitimação de regimes quanto para a criação de identidades coletivas. Assim, as festas e rituais cívicos desempenham um papel disciplinador e de memória, ajudando a criar um senso de pertencimento e responsabilidade em relação à comunidade. 

Atividades como o hasteamento de bandeiras, canto do hino nacional e desfiles cívicos das escolas durante a Semana da Pátria visam promover o orgulho nacional e a valorização do Brasil por cada cidadão. No entanto, um projeto educacional bem planejado sobre o 7 de Setembro deveria abranger também temas que transcendem o civismo convencional, incluindo, por exemplo, inclusão e sustentabilidade. Patriotismo verdadeiro se fortalece ao valorizar a ética social, a diversidade e riqueza tanto cultural quanto ambiental do Brasil. 

Nesse cenário, é evidente que o fortalecimento do ser patriota depende do papel da educação na formação de cidadãos críticos, conscientes e dedicados, em primeiro lugar, ao seu redor (escola, rua e bairro) e, depois, a projetos de alcance maior (cidade, estado, região e país). 

Apoiar iniciativas educacionais que promovam a valorização dos símbolos nacionais, a reflexão crítica sobre a história nacional e a cidadania ativa é contribuir para a construção de uma nação mais unida e apta a enfrentar os desafios do presente e do futuro.

 

Prof. Sérgio Pereira, professor de História do Colégio Presbiteriano Mackenzie, Tamboré
 

*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.



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