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No início dos anos 2000, cursar administração era,
de certa forma, um mergulho em um único dogma: o objetivo principal de uma
empresa é gerar lucros para seus sócios ou acionistas. Essa máxima, repetida em
sala de aula e impressa nos livros, soava inquestionável.
Era o mantra que guiava qualquer decisão de
negócios: vender o máximo, para o maior número possível de clientes, pelo maior
preço que o mercado aceitasse. A ideia de que esse objetivo deveria ser
perseguido “a qualquer custo” raramente encontrava resistência, mesmo que esse
custo fosse a saúde das pessoas ou o equilíbrio do meio ambiente.
Pouco se discutia sobre o impacto social ou
ambiental dos produtos e serviços. O raciocínio dominante era simples e linear:
o investidor arriscou seu dinheiro, logo deve ser recompensado,
independentemente dos efeitos colaterais da operação. Mas esse modelo, chamado
de capitalismo shareholder, já não se sustenta no mundo atual.
Como apontam estudiosos como Klaus Schwab, fundador
do Fórum Econômico Mundial, e Peter Vanham, essa mentalidade começou a ganhar
força nos anos 1970, espalhando-se globalmente nas décadas seguintes. No
entanto, a pressão social e as mudanças no acesso à informação tornaram
impossível manter essa lógica intacta.
A popularização da internet e das redes sociais
alterou de forma radical a relação entre empresas e consumidores. Antes, o
fluxo de informações era controlado por poucos canais: TV, rádio, jornais e
sites corporativos. Hoje, qualquer pessoa pode não só acessar dados em tempo
real, mas também produzir e divulgar conteúdo para milhares ou, milhões, de
pessoas.
O empoderamento do consumidor se tornou real e
irreversível. E ele não se restringe apenas aos clientes: comunidades,
funcionários, investidores e até governos são parte ativa desse ecossistema de
fiscalização e cobrança.
O problema, portanto, não está em gerar lucro. O
problema é buscar lucro a qualquer custo, ignorando fronteiras éticas, sociais
e ambientais. É nesse ponto que entram os princípios ESG (ambiental, social e
governança), que funcionam como limites claros para a atuação empresarial.
Ser uma empresa relevante hoje não significa apenas
ter bons produtos ou serviços, mas operar de forma transparente, responsável e
alinhada às expectativas de uma sociedade que observa e reage instantaneamente.
A verdade é que as “empresas do passado” não
sobreviverão no futuro se insistirem nas velhas práticas. A era da impunidade
empresarial está chegando ao fim. A narrativa mudou: não basta vender, é
preciso vender de forma ética. Não basta crescer, é preciso crescer de maneira
sustentável. Não basta comunicar valores, é preciso vivê-los na prática.
Buscar o lucro continua sendo legítimo, desde que não custe a saúde, o planeta e a dignidade das pessoas. Esse é o único caminho possível daqui para frente.
Ricardo Ribeiro Alves - administrador, Doutor em Ciência
Florestal e autor de ESG Marketing (Alta Books)

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