Com lucros líquidos que em muitas capitais mal chegam a R$ 2 mil (pouco mais que um salário mínimo) e jornadas de até 60 horas semanais, motoristas de aplicativo enfrentam esgotamento físico e emocional;
Setembro é o mês marcado pela campanha Setembro
Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio e à conscientização
sobre saúde mental. No entanto, os números que retratam a rotina de motoristas
de aplicativo em diferentes capitais brasileiras escancaram uma realidade
preocupante: jornadas de até 60 horas semanais, lucros
líquidos que muitas vezes mal passam de R$ 3 mil e
o peso de um trabalho invisível e pouco reconhecido.
Em São Paulo, onde os motoristas
trabalham em média 60 horas por semana, o lucro
líquido mensal gira em torno de R$ 4.186, após gastos elevados
com combustível e manutenção. A título de comparação, em cidades como Maceió e
São Luís, o lucro mensal não chega a R$ 2 mil,
mesmo com jornadas de 48 a 50 horas semanais.
Os custos de operação — sobretudo a gasolina,
que consome entre R$1,7 mil e R$2,4 mil por mês — corroem
quase metade do faturamento dos trabalhadores, deixando-os em constante
sensação de estarem “correndo atrás do rabo”. Isso sem contar os que precisam alugar
veículos, realidade de quase um terço dos motoristas em
metrópoles como São Paulo e Manaus, o que aumenta ainda mais a pressão
financeira.
“O motorista de aplicativo vive um paradoxo: trabalha mais que a
média da população, mas vê pouco retorno no fim do mês. Essa instabilidade
financeira, somada ao cansaço físico e emocional, cria um ambiente propício
para ansiedade, depressão e até esgotamento psicológico”, analisa Luiz
Gustavo Neves, CEO da GigU, comunidade nacional de apoio a
motoristas e entregadores.
Segundo ele, o reconhecimento é um dos pontos mais dolorosos:
“Esses profissionais são parte essencial da mobilidade urbana e da
economia de entrega no Brasil, mas ainda são tratados como invisíveis. O
impacto disso na autoestima e na saúde mental é profundo e precisa ser debatido
com urgência”.
A comparação entre capitais revela contrastes gritantes. Em Brasília,
por exemplo, a média semanal é de 50 horas trabalhadas para um lucro de
apenas R$ 2,5 mil, enquanto em Curitiba,
mesmo com 56 horas semanais, o ganho líquido não passa
de R$ 3,4 mil. Essa relação direta entre esforço e
retorno baixo reforça a frustração generalizada da categoria.
Para especialistas em saúde mental, a sobrecarga traz riscos
sérios. A jornada excessiva compromete o descanso e o convívio familiar,
aumentando os níveis de estresse e isolamento social —
dois fatores fortemente ligados ao adoecimento psíquico. Além disso, a pressão
por metas diárias para “fechar as contas” cria um ciclo de
ansiedade que afeta diretamente a qualidade de vida.
A campanha Setembro Amarelo ganha, portanto,
um significado ainda mais urgente dentro dessa categoria profissional. “Não
podemos falar em saúde mental sem olhar para as condições estruturais de
trabalho. Apoio emocional é fundamental, mas sem melhorias concretas nas
condições financeiras e sociais desses motoristas, continuaremos enxugando
gelo”, completa Neves.
Em um país onde a mobilidade urbana depende cada vez mais desses
trabalhadores, garantir condições dignas, segurança e suporte psicológico não é
apenas uma questão individual — é um compromisso social.
Se houver interesse na pauta, é só nos informar, e faremos a ponte com o Luiz para entrevistas.
GigU - fintech social focada em apoiar motoristas de aplicativo por meio de ferramentas colaborativas que ajudam esses trabalhadores em seus desafios diários.
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