No Setembro Verde, jurista do CEUB aponta falhas graves e cobra inclusão efetiva em hospitais e consultórios
O
Setembro Verde, mês dedicado à inclusão das pessoas com deficiência, reúne
iniciativas e mobilizações que reforçam a necessidade de olhar com mais atenção
para a realidade de quem possui deficiência no sistema de saúde. Luciana Musse,
professora de Direito do CEUB, ressalta a importância do reconhecimento dos
direitos desse grupo não apenas no papel, mas sua implementação no cotidiano
dos serviços de saúde, garantindo acolhimento, acessibilidade e segurança em
todas as etapas do cuidado.
Segundo
a jurista, os direitos da pessoa e do paciente com deficiência precisam estar
presentes em todas as etapas do cuidado, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS)
quanto nos serviços privados. “Esses pacientes têm direito a um atendimento
digno, integral e seguro. Isso significa ter acompanhamento durante
internações, ambientes fisicamente acessíveis, comunicação por Libras ou
linguagem simples e participação ativa nas decisões sobre o tratamento. Tudo
está assegurado em normas que garantem a dignidade, a autonomia e o
protagonismo da PcD”.
Apesar
dos avanços legais, a realidade ainda é marcada por falhas e omissões.
Familiares e cuidadores frequentemente relatam dificuldades em garantir que os
pacientes recebam o atendimento adequado. Nessas situações, a orientação é
formalizar reclamações, sugestões e denúncias em canais como a Ouvidoria do
SUS, o Ministério Público, a Anvisa ou organizações especializadas, como as
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAEs.
A
Política Nacional de Atenção Integral, a Rede de Cuidados e protocolos de
segurança do paciente oferecem diretrizes para que profissionais adaptem o
atendimento, melhorem a comunicação e previnam riscos. “Mas essas políticas só
funcionam com dois pilares básicos: capacitação e escuta ativa”, ressalta.
Ainda
é comum, segundo a jurista, que profissionais de saúde subestimem a autonomia
do paciente, desconsiderem sintomas relatados ou excluam o paciente e até as
famílias das decisões de tratamento. “Esses problemas se agravam com a falta de
protocolos inclusivos e com a ausência de conteúdos sobre deficiência e
direitos das pessoas com deficiência na formação em saúde”, avalia Luciana
Musse.
Capacitação é chave para uma saúde inclusiva
A
ausência de preparo adequado pode gerar consequências graves, muito além de
falhas pontuais. Problemas simples de comunicação podem resultar em riscos
sérios, como infecções hospitalares, erros na administração de medicamentos e
quedas em ambientes não adaptados. “A falta de capacitação compromete desde o
diagnóstico até o acompanhamento, podendo gerar abandono de tratamento ou até
mesmo levar à morte do paciente”, alerta Musse.
Para
a docente do CEUB, a mensagem do Setembro Verde é clara: a pessoa com
deficiência deve estar no centro das decisões sobre sua vida e, na saúde,
direitos como a segurança do paciente só serão plenos se contarem com a
participação do paciente com deficiência. “Profissionais de saúde precisam
enxergar a pessoa com deficiência como parceira e protagonista de sua própria
história, respeitando suas singularidades, suas escolhas e seus valores. Só
assim construiremos um sistema de saúde verdadeiramente seguro e justo para
todos”, conclui.

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