Pesquisa feita por Insper e Umane avaliou risco de mortalidade materna, cardiovascular e por Diabetes Mellitus em diferentes regiões do município de São Paulo ao longo de dez anos;Foto: Prefeitura de São Paulo
- Taxa de mortalidade por diabetes chega a ser 21
vezes maior entre regiões de menor e maior vulnerabilidade
social;
- O estudo apresenta ainda propostas de ação para os gestores municipais, importante em ano de eleições municipais, como a aproximação entre as UBSs e o sistema de transporte público de São Paulo.
A desigualdade econômica e a segregação residencial presentes na sociedade brasileira são fatores que afetam o acesso à saúde e tratamentos de qualidade no ambiente urbano. Tal cenário é comprovado pelo levantamento “Síntese de evidências sobre saúde no município de São Paulo”, elaborado pelo Insper, uma das principais instituições de ensino superior e pesquisa do Brasil, e pela Umane, associação civil que investe em iniciativas no âmbito da saúde pública.
O relatório busca contribuir para a melhoria na saúde de São Paulo por meio da identificação de áreas de risco mais elevado no município, com foco em três condições de saúde: mortalidade materna, saúde cardio e cerebrovascular e Diabetes Mellitus tipo II. Para tal, foram analisadas evidências de cada um dos 96 distritos administrativos da cidade, no período entre 2010 e 2019.
Foram considerados dados disponíveis para acesso público, como bases cartográficas, dados populacionais, dados epidemiológicos, dados socioeconômicos e de recursos de saúde, em uma avaliação que leva em conta faixa etária e sexo da população.
“Partimos do pressuposto de que não basta ter um banco de dados, ele tem que ser interpretado por gente que trabalha com o tema, sabe onde estão os gargalos e também as dificuldades de implementação”, afirma Paulo Saldiva, médico patologista, coordenador do Observatório de Saúde Urbana do Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro de Cidades do Insper e coordenador da pesquisa.
A disparidade entre distritos ficou clara nos resultados. No caso da Diabetes Mellitus, por exemplo, a taxa de mortalidade pela doença é de 0,21, em Moema, e de 2,02 no Jardim Helena. Há também um crescimento médio anual do risco de mortalidade de 6,7% entre mulheres, e 2,0% entre os homens, na faixa de idade de 30 a 39 anos. Além disso, 38% da variabilidade do risco de mortalidade prematura pela doença entre mulheres com 30 a 69 anos de idade foi explicada por condições socioeconômicas.
No caso das doenças cerebrovasculares, a tendência se mantém. A taxa de mortalidade entre homens fica em 0,1 em Moema e 1,7 em Perus. Nas faixas etárias de 40 a 49 anos e 50 a 59 anos o maior risco encontrado foi no distrito do Grajaú. Em geral, os resultados para a mortalidade prematura por doenças do tipo entre mulheres indicam alto risco em distritos do extremo leste e sul e nos distritos de Brasilândia e Cachoeirinha.
Também foi observado um aumento no risco de mortalidade por doenças isquêmicas do coração em todo o município, entre homens, nas faixas de idade de 30 a 39 anos e de 60 a 69 anos. As condições socioeconômicas explicam 23% da variabilidade deste risco no sexo masculino. Considerando os dois gêneros, a maior taxa padronizada foi registrada na Brasilândia (1,7) e a menor em Alto de Pinheiros (0,2).
No período analisado, foram constatados 845 óbitos maternos no município. Ao contabilizar estes óbitos para cada 100 mil nascidos vivos, chega-se à mortalidade materna – um desafio em países em desenvolvimento, pois seus indicadores não vêm apresentando quedas significativas. “Mesmo sabendo da dificuldade de analisar o indicador em cada distrito – pois o indicador pode ser muito impactado, mesmo que por poucos óbitos, uma vez que é um evento raro perante o seu denominador –, não podemos deixar de notar a desigualdade de um número que variou de zero óbitos a cada 100 mil nascidos vivos, no Alto de Pinheiros, a 102, no distrito da Sé”, afirma Evelyn Santos, gerente de parcerias e novos projetos da Umane. “Isto indica que temos áreas mais vulneráveis, e que se beneficiariam de intervenções direcionadas para avançarmos na equidade em saúde, que é um princípio do SUS. Além do benefício para a saúde da população, analisar e endereçar as causas destas desigualdades nos territórios beneficia também a gestão, que pode alocar recursos escassos de forma mais eficiente no sistema de saúde”, destaca Santos.
O relatório também indica propostas de ação para solucionar os problemas apresentados. Para os autores, “o uso mais eficiente dos recursos públicos contribui para a promoção da equidade ao direcionar os recursos aos distritos prioritários, que são os mais vulneráveis socioeconomicamente. Uma gestão transparente e baseada em evidências aumenta a confiança da população no governo municipal”.
Desta maneira, são sugeridas medidas como a criação de um centro de estudos capaz de produzir inovação em tecnologias em saúde; colaboração na avaliação das áreas onde se deve aprimorar o diagnóstico de neoplasias na cidade de São Paulo; colaboração na implementação de UBSs em pontos estratégicos do sistema de transporte de passageiros, colaboração na utilização de sistemas de telemedicina em áreas identificadas como prioritárias, entre outras listadas no material.
O material completo pode ser encontrado
no Observatório da APS, uma plataforma Umane, no link.
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