Recife de coral em Porto de Galinhas, no litoral de Pernambuco Foto: Filipe Cadena/Fundação Grupo Boticário |
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A temperatura da superfície do oceano alcançou 21,06ºC, em
fevereiro, a mais alta já registrada na história, superando o recorde
registrado em agosto de 2023, de 20,98°C
· O aumento da temperatura é uma das principais ameaças aos corais, dada a sensibilidade desses organismos
· Estudo “Oceano sem mistérios - Desvendando os recifes de corais”, realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, mostra que esses organismos geram até R$ 167 bilhões ao Brasil em serviços de proteção costeira e turismo
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Apenas com turismo em destinos com
recifes de corais no Nordeste, as receitas com atividades de lazer e recreação
chegam a R$ 7 bilhões por ano
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Neste Dia Mundial da Água, a Fundação
Grupo Boticário inicia a campanha “Termômetros apontam: é hora da mudança”,
chamando atenção para o aumento da temperatura do oceano
Com mais de 97% de
toda a água do planeta, o oceano permanece desconhecido e ainda distante da
maioria das pessoas, mesmo quando falamos sobre a importância da água em nossas
vidas. Neste Dia Mundial da Água, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à
Natureza chama a atenção para a conservação dos recifes de corais, um dos
ecossistemas marinhos mais ameaçados do mundo. “Eles ocupam só 0,1% do fundo do
mar, mas têm funções ecológicas essenciais, oferecendo abrigo e alimentos para
cerca de 25% das espécies marinhas”, afirma a bióloga Janaína Bumbeer, gerente
de projetos da instituição.
Em fevereiro
deste ano, a temperatura da superfície do oceano foi a mais alta já registrada
na história, com média de 21,06ºC, superando o recorde anterior, de agosto de
2023, quando a média mensal foi de 20,98°C.
As altas temperaturas são uma das principais ameaças aos corais. “Os recifes de corais são muito sensíveis ao aquecimento da
água do mar. Aparentemente pequenas para nós, variações de temperaturas como
essas podem desencadear problemas crônicos no oceano”, frisa Janaína.
A especialista
explica ainda que o Acordo de Paris propõe limitar o aquecimento do planeta
abaixo de 2°C, provocando esforços globais para que o aumento não ultrapasse
1,5°C. Entretanto, relatório da agência das Nações Unidos para o Meio Ambiente
afirma que, no cenário mais otimista, a probabilidade de limitar o aquecimento
a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais é de apenas 14%.
“Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáricas (IPCC), a diferença de meio grau pode ser o limiar entre a
sobrevivência e o colapso total dos recifes de corais do mundo, uma vez que,
com o aquecimento de 1,5°C, devemos perder de 70% a 90% dos recifes de corais
do planeta, mas o aquecimento de 2°C representaria o fim desse ecossistema”,
alerta Janaína. “Além do comprometimento dos países, também precisamos do
engajamento da sociedade para reduzir a emissão de gases de efeito estufa -
responsável pelo aquecimento dos mares -, e de outros riscos enfrentados pelos
corais, como a poluição e a sobrepesca”, completa.
A Lista Vermelha
da União Internacional para a
Conservação da Natureza (UICN) classifica diversas espécies de corais em “risco
crítico” devido à crise climática. “Uma
das principais ameaças é o branqueamento dos corais, processo causado pelo
aquecimento e acidificação do oceano no qual o tecido desses organismos fica
translúcido, revelando seu esqueleto de carbonato de cálcio e provocando a
diminuição da capacidade reprodutiva, redução das taxas de crescimento e de
calcificação, o que pode provocar a morte dos corais”, explica.
Para chamar a
atenção da sociedade sobre a importância dos recifes de corais para a economia
brasileira, a Fundação Grupo Boticário realizou o estudo “Oceano sem
mistérios - Desvendando os recifes de corais”, disponível para
download neste link.
O levantamento -
primeiro nessa escala no Brasil a calcular o valor dos serviços ecossistêmicos
oferecidos pelos recifes de corais para o turismo e para a proteção costeira,
reduzindo danos causados por ressacas, alagamentos e erosões - mostra que esses
organismos geram anualmente até R$ 167 bilhões ao País. Apenas
com turismo em destinos que contam com recifes de corais no Nordeste, as
receitas com atividades de lazer e recreação chegam a R$ 7 bilhões por ano.
Além de mostrar a
valoração dos corais para o País, o documento apresenta sugestões para o poder
público, setor econômico e outros tomadores de decisão para ações de
conservação. “É necessário direcionar mais recursos e fomentar o estudo e
monitoramento desses ecossistemas, além de implementar rapidamente estratégias
que visem à conservação e o uso sustentável, como unidades de conservação e
ações de restauração”, afirma Janaína.
Engajamento
nas redes sociais
Neste Dia Mundial
da Água, a Fundação Grupo Boticário inicia a campanha “Termômetros apontam: é
hora da mudança” nas redes sociais (@fundacaogrupoboticario) com ações online e
offline realçando os riscos do aumento da temperatura do oceano. A iniciativa
convoca as pessoas a fazer parte da mudança. “Queremos mostrar que o cidadão
também pode participar dessa transformação, adotando novos hábitos e cobrando medidas
das empresas e do poder público que favoreçam a proteção do oceano”, salienta.
“Medidas simples, como a destinação correta dos resíduos e a opção pelo
transporte coletivo ou não poluente, trazem grande impacto positivo, evitando
pressões ainda maiores nos ecossistemas marinhos”, completa a bióloga.
Poluição
sem fronteiras
Um estudo global coordenado
pelo pesquisador brasileiro Hudson Pinheiro, membro da Rede de Especialistas em
Conservação da Natureza (RECN) e do Centro de Biologia Marinha da Universidade
de São Paulo (USP), publicado na revista Nature em julho de 2023,
revelou a extensão da poluição plástica em recifes de corais
profundos no mundo. De forma surpreendente, os pesquisadores constataram que os
detritos aumentam com a profundidade dos ambientes marinhos investigados e
estão localizados principalmente nas proximidades de áreas marinhas protegidas.
Por meio de imagens
subaquáticas nos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico, a pesquisa expõe a
abundância, distribuição e causas da poluição plástica em várias profundidades.
“A poluição plástica é um dos problemas mais graves que assolam os ecossistemas
oceânicos e os recifes de corais não são exceção”, afirma Pinheiro. “A poluição
afeta negativamente todo o ecossistema do recife de coral. Encontramos desde
macroplásticos que provocam doenças nos corais até linhas de pesca que
danificam a complexidade estrutural do recife, responsável pela diminuição da
abundância e da diversidade de peixes”, explica o pesquisador.
Condomínios
de biodiversidade
Os recifes de
corais são considerados os ecossistemas mais diversos da Terra. Estima-se que
uma a cada quatro espécies marinhas vive ou passa parte da vida nos recifes e
neles são encontrados 65% dos peixes do mar. Esses ecossistemas são verdadeiros
condomínios subaquáticos, além de servir de alimento e abrigo para outras
espécies que estão de passagem.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a região Nordeste do Brasil concentra os únicos ambientes de recifes de corais do Atlântico Sul, estendendo-se por cerca de 3 mil quilômetros ao longo da costa. O Brasil possui 24 espécies de corais duros, algumas delas exclusivas do país. Parte desses ecossistemas são protegidos por 21 unidades de conservação (UCs) marinhas, administradas pelo governo federal, estados e municípios.
Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)
www.fundacaogrupoboticario.org.br
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