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segunda-feira, 25 de março de 2024

Pequena variação na temperatura do oceano ameaça o equilíbrio marinho

Recife de coral em Porto de Galinhas, no litoral de Pernambuco  
 Foto: Filipe Cadena/Fundação Grupo Boticário


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A temperatura da superfície do oceano alcançou 21,06ºC, em fevereiro, a mais alta já registrada na história, superando o recorde registrado em agosto de 2023, de 20,98°C 

·         O aumento da temperatura é uma das principais ameaças aos corais, dada a sensibilidade desses organismos 

·         Estudo “Oceano sem mistérios - Desvendando os recifes de corais”, realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, mostra que esses organismos geram até R$ 167 bilhões ao Brasil em serviços de proteção costeira e turismo 

·         Apenas com turismo em destinos com recifes de corais no Nordeste, as receitas com atividades de lazer e recreação chegam a R$ 7 bilhões por ano

 

·         Neste Dia Mundial da Água, a Fundação Grupo Boticário inicia a campanha “Termômetros apontam: é hora da mudança”, chamando atenção para o aumento da temperatura do oceano

 

Com mais de 97% de toda a água do planeta, o oceano permanece desconhecido e ainda distante da maioria das pessoas, mesmo quando falamos sobre a importância da água em nossas vidas. Neste Dia Mundial da Água, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza chama a atenção para a conservação dos recifes de corais, um dos ecossistemas marinhos mais ameaçados do mundo. “Eles ocupam só 0,1% do fundo do mar, mas têm funções ecológicas essenciais, oferecendo abrigo e alimentos para cerca de 25% das espécies marinhas”, afirma a bióloga Janaína Bumbeer, gerente de projetos da instituição.

 

Em fevereiro deste ano, a temperatura da superfície do oceano foi a mais alta já registrada na história, com média de 21,06ºC, superando o recorde anterior, de agosto de 2023, quando a média mensal foi de 20,98°C. As altas temperaturas são uma das principais ameaças aos corais. “Os recifes de corais são muito sensíveis ao aquecimento da água do mar. Aparentemente pequenas para nós, variações de temperaturas como essas podem desencadear problemas crônicos no oceano”, frisa Janaína. 

 

A especialista explica ainda que o Acordo de Paris propõe limitar o aquecimento do planeta abaixo de 2°C, provocando esforços globais para que o aumento não ultrapasse 1,5°C. Entretanto, relatório da agência das Nações Unidos para o Meio Ambiente afirma que, no cenário mais otimista, a probabilidade de limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais é de apenas 14%.

 

“Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáricas (IPCC), a diferença de meio grau pode ser o limiar entre a sobrevivência e o colapso total dos recifes de corais do mundo, uma vez que, com o aquecimento de 1,5°C, devemos perder de 70% a 90% dos recifes de corais do planeta, mas o aquecimento de 2°C representaria o fim desse ecossistema”, alerta Janaína. “Além do comprometimento dos países, também precisamos do engajamento da sociedade para reduzir a emissão de gases de efeito estufa - responsável pelo aquecimento dos mares -, e de outros riscos enfrentados pelos corais, como a poluição e a sobrepesca”, completa.

 

A Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) classifica diversas espécies de corais em “risco crítico” devido à crise climática. “Uma das principais ameaças é o branqueamento dos corais, processo causado pelo aquecimento e acidificação do oceano no qual o tecido desses organismos fica translúcido, revelando seu esqueleto de carbonato de cálcio e provocando a diminuição da capacidade reprodutiva, redução das taxas de crescimento e de calcificação, o que pode provocar a morte dos corais”, explica.

 

Para chamar a atenção da sociedade sobre a importância dos recifes de corais para a economia brasileira, a Fundação Grupo Boticário realizou o estudo “Oceano sem mistérios - Desvendando os recifes de corais”, disponível para download neste link.

 

O levantamento - primeiro nessa escala no Brasil a calcular o valor dos serviços ecossistêmicos oferecidos pelos recifes de corais para o turismo e para a proteção costeira, reduzindo danos causados por ressacas, alagamentos e erosões - mostra que esses organismos geram anualmente até R$ 167 bilhões ao País. Apenas com turismo em destinos que contam com recifes de corais no Nordeste, as receitas com atividades de lazer e recreação chegam a R$ 7 bilhões por ano.

 

Além de mostrar a valoração dos corais para o País, o documento apresenta sugestões para o poder público, setor econômico e outros tomadores de decisão para ações de conservação. “É necessário direcionar mais recursos e fomentar o estudo e monitoramento desses ecossistemas, além de implementar rapidamente estratégias que visem à conservação e o uso sustentável, como unidades de conservação e ações de restauração”, afirma Janaína. 

 


Engajamento nas redes sociais


Neste Dia Mundial da Água, a Fundação Grupo Boticário inicia a campanha “Termômetros apontam: é hora da mudança” nas redes sociais (@fundacaogrupoboticario) com ações online e offline realçando os riscos do aumento da temperatura do oceano. A iniciativa convoca as pessoas a fazer parte da mudança. “Queremos mostrar que o cidadão também pode participar dessa transformação, adotando novos hábitos e cobrando medidas das empresas e do poder público que favoreçam a proteção do oceano”, salienta. “Medidas simples, como a destinação correta dos resíduos e a opção pelo transporte coletivo ou não poluente, trazem grande impacto positivo, evitando pressões ainda maiores nos ecossistemas marinhos”, completa a bióloga.


 

Poluição sem fronteiras


Um estudo global coordenado pelo pesquisador brasileiro Hudson Pinheiro, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista Nature em julho de 2023, revelou a extensão da poluição plástica em recifes de corais profundos no mundo. De forma surpreendente, os pesquisadores constataram que os detritos aumentam com a profundidade dos ambientes marinhos investigados e estão localizados principalmente nas proximidades de áreas marinhas protegidas.

 

Por meio de imagens subaquáticas nos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico, a pesquisa expõe a abundância, distribuição e causas da poluição plástica em várias profundidades. “A poluição plástica é um dos problemas mais graves que assolam os ecossistemas oceânicos e os recifes de corais não são exceção”, afirma Pinheiro. “A poluição afeta negativamente todo o ecossistema do recife de coral. Encontramos desde macroplásticos que provocam doenças nos corais até linhas de pesca que danificam a complexidade estrutural do recife, responsável pela diminuição da abundância e da diversidade de peixes”, explica o pesquisador.


 

Condomínios de biodiversidade


Os recifes de corais são considerados os ecossistemas mais diversos da Terra. Estima-se que uma a cada quatro espécies marinhas vive ou passa parte da vida nos recifes e neles são encontrados 65% dos peixes do mar. Esses ecossistemas são verdadeiros condomínios subaquáticos, além de servir de alimento e abrigo para outras espécies que estão de passagem. 

 

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a região Nordeste do Brasil concentra os únicos ambientes de recifes de corais do Atlântico Sul, estendendo-se por cerca de 3 mil quilômetros ao longo da costa. O Brasil possui 24 espécies de corais duros, algumas delas exclusivas do país. Parte desses ecossistemas são protegidos por 21 unidades de conservação (UCs) marinhas, administradas pelo governo federal, estados e municípios.

 

Fundação Grupo Boticário
Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)
www.fundacaogrupoboticario.org.br


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