Um abuso velado,
difícil de identificar e com consequências desastrosas na vida da vítima
Embora a violência patrimonial esteja respaldada
pela legislação brasileira em leis como: Lei Maria da Penha; código Penal
Brasileiro; Estatuto do Idoso e Estatuto da Pessoa com Deficiência, ainda é uma
forma de violência das mais praticadas nos lares brasileiros pela dificuldade
de identificação por parte da vítima. Muitas vezes, o crime é confundido com um
ato de excesso de zelo, cuidado, ciúmes, proteção e outra justificativas que
mascaram a real intenção do agente.
Caracterizada principalmente pelo controle
financeiro, as condutas mais comuns são retenção, subtração, destruição parcial
ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades. A violência patrimonial é aquela em que o agressor se
utiliza de dinheiro, documento ou bens (sejam de valor financeiro ou
sentimental) para controlar a pessoa, podando sua individualidade e liberdade.
Na prática, o que acontece na maioria das
residências brasileiras são atos sutis e graduais que começam com a apropriação
de bens como carro, móveis, roupas e afins, seguindo para retenção e controle
de rendimentos e cartão de credito, evoluindo para a exclusão da pessoa do
mercado de trabalho e convívio social, controle do uso de aparelhos celulares,
computadores, e até mesmo a retenção de documentos, objetos de valor
sentimental e destruição de objetos particulares.
De acordo com a advogada Amanda Gimenes,
especialista em direito familiar e sucessório pelo Amanda Gimenes Advocacia,
localizado em Curitiba, esse tipo de violência está presente em diferentes
relações familiares, não apenas as conjugais. “Além de mulheres, idosos,
crianças e adolescentes, pessoas com deficiência são os perfis mais afetados,
já que na maioria das vezes, estão sob cuidados de parentes, amigos ou
cuidadores, que se aproveitam da vulnerabilidade desta pessoa” – explica a
advogada.
Como não há evidências físicas, é difícil de
identificar os casos, principalmente pela vítima, já que as ações vêm sempre
acompanhadas de justificativas coerentes para os atos. Por essa razão é
importante deixar claro que atitudes como as relacionadas abaixo, caracterizam
manipulação e violência e precisam de uma ação corretiva:
- Monitoramento
do celular do parceiro com ou sem permissão;
- Fazer
uso dos bens sem o seu consentimento, como carros, imóveis, investimentos,
etc.;
- Fazer
compras e adquirir dividas em nome da vítima sem autorização;
- Falsificar
a assinatura ou representar a vítima, sem seu consentimento;
- Reter
documentos, chaves, entre outros objetos pessoais;
- Receber
e administrar qualquer tipo de auxilio ou salário;
- Manipular
a pessoa para que ela deixe de trabalhar;
- Controlar
a renda e questionar o uso do dinheiro;
- Não
pagar a pensão alimentícia aos filhos ou à (ao) ex companheira (o) ou
outro parente;
- Reter
fotos e lembranças pessoais para controlar a vítima;
Ainda segundo Amanda, muitos dos motivos citados
acima não deixam de ser violência se há o consentimento, já que em muitos casos
os argumentos apresentados pela outra parte manipulam a realidade da vítima.
“Casos de violência patrimonial são extremamente delicados, pois muitos deles
estão mascarados em boas ações, ou seja, sempre há uma justificativa para o
comportamento apresentado” – explica.
Os atos que envolvem esse tipo de crime devem ser
tratados com muita cautela, pois a vítima sempre terá dificuldade em compreender
a dinâmica familiar como uma forma de violência e nunca sabemos como ela irá
reagir ao se dar conta que está vivendo essa coação, principalmente de alguém
que confia. Um dos principais fatores para essa confusão está na falta de
suporte da rede de apoio, já que muitas vezes, ao longo do tempo, o agressor
consegue afastar outras pessoas do convívio da vítima, dificultando ainda mais
a clareza dos acontecimentos.
Caso alguns destes sinais sejam identificados em
uma relação, seja qual for, o ideal é que a vítima procure ajuda profissional e
uma rede de apoio de confiança. A violência patrimonial afeta profundamente a
confiança e autoestima e pode causar danos inestimáveis.
Dra. Amanda Gimenes - formada em direito da Universidade Estadual de Maringá – UEM, pós-graduada em Direito das Famílias e Sucessões pelo Instituto Brasileiro de Direito das Famílias – IBDFAM e mestre em direitos supraindividuais pela Universidade Estadual de Maringá – UEM e especialista em direito civil e processual pela Universidade Estadual de Londrina – UEL, onde se especializou no direito civil e processual. Faz parte da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/PR. Em suas plataformas digitais, Amanda compartilha com seu público informações importantes sobre divórcios, guarda, alienação parental, partilha de bens, união estável, entre outros casos com o objetivo de auxiliar as pessoas a encontrarem os caminhos legais para seus problemas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário