Projeto de Lei, que tramita em regime de urgência na Câmara dos Deputados, teve votação adiada para março. Alvo de amplo debate, propõe entre outras medidas a alteração da carga horária e a reestruturação do currículo eletivo. Segundo especialista, a revisão pode ser oportuna para se discutir como a educação pode diminuir a desigualdade no país
Redigido pelo deputado
e relator da Câmara Federal Mendonça Filho (União-PE), o Projeto de Lei 5230/2023
apresenta uma série de alterações ao texto original, anteriormente enviado pelo
Governo Federal, referente ao Novo Ensino Médio. Ajustes são necessários, uma
vez que o novo formato de ensino, que começou a ser implementado em 2022,
recebeu uma onda de críticas e questionamentos, principalmente pela diminuição
das matérias tradicionais na grade curricular, fundamentais para a formação,
mas especialmente para o acesso ao Ensino Superior por meio do Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem) e vestibulares. A expectativa é que o documento editado
seja votado este ano e, mediante aprovação, as modificações entrarão em vigor a
partir do próximo ano letivo.
Neste contexto,
dentre as principais mudanças propostas estão a redução da carga horária das
disciplinas eletivas – que podem ser selecionadas pelo aluno, a volta da
obrigatoriedade das aulas de espanhol (cobrada no próprio Enem) e a adoção de
uma nova nomenclatura e a reestruturação dos atuais itinerários formativos
(conjunto de disciplinas, projetos e oficinas que os estudantes podem
escolher). O novo texto sugere também maior flexibilização curricular a partir
dos “percursos de aprofundamento e integração de estudos”, e a
implementação de modalidades do ensino de jovens e adultos (EJA) e a educação
escolar quilombola e indígena.
Na visão de
Henrique Braga, coordenador educacional do Sistema Anglo de Ensino, a revisão do Novo Ensino Médio é
uma oportunidade para se discutir como essas novas disciplinas podem diminuir a
desigualdade no país. “O fato de estar havendo uma revisão da reforma é muito
positivo. Os próprios estudantes, quando vão às ruas em protesto, são um
indicador importante de que há elementos que precisam melhorar rapidamente na
Educação Básica. A grande discussão é qual o espaço que essas novas disciplinas
devem ocupar e o que a parte eletiva precisa ter de essencial para garantir
equidade”, destaca.
O que
muda na prática?
Mesmo com a
proposta revisada, o Novo Ensino Médio ainda deve implementar os currículos
integrados, sendo um referente a formação geral básica, comum a todos, e outro
com foco nas disciplinas eletivas. As alterações previstas pelo PL focam,
principalmente, na alteração das horas reservadas para cada uma das frentes
curriculares. Atualmente, a legislação impõe que 1800 das 3000 horas sejam
destinadas ao currículo de base, ou seja, para as disciplinas convencionais
como português, matemática e história. Com o novo texto, o Ministério da
Educação propõe ampliar essa carga para 2400 horas, não necessariamente
limitando as horas reservadas às disciplinas eletivas. Na proposta atual, a
escola não poderia dar mais de 1200 horas de itinerários. A contraproposta do relator,
contudo, prevê um limite de 2100 horas para as disciplinas obrigatórias.
A proposta do MEC
aponta que esses percursos de aprofundamento e integração de estudos devem ser
organizados com componentes curriculares de, no mínimo, três áreas de
conhecimento, enquanto o relator propõe aprofundar a formação das áreas do
conhecimento (matemáticas e suas tecnologias, linguagens e suas tecnologias,
ciências da natureza e suas tecnologias e ciências Humanas e sociais Aplicadas)
e da formação técnica e profissional (FTP). Além disso, ambos impõem que os
sistemas de ensino devem garantir que todas as escolas de Ensino Médio ofereçam
pelo menos duas opções de percursos de aprofundamento.
Para Braga, tal mudança
é essencial para a melhor formação desses alunos. “O documento que rege os
itinerários hoje aponta o aprofundamento da formação geral básica, mas por que
não se detalha exatamente como vai ser a abordagem dessas disciplinas e como
serão trabalhadas as áreas do conhecimento? Isso acabou gerando a possibilidade
de alguns itinerários ficarem soltos, gerando insatisfação entre alunos, pais e
educadores. A principal mudança virá, em um segundo momento, quando, uma vez
definido esse novo modelo, o Conselho Nacional de Educação (CNE) e o MEC
determinarem novos referenciais curriculares para os itinerários formativos,
nos quais deve existir uma preocupação em deixar mais claro como estes vão
dialogar com as disciplinas e com as áreas do conhecimento já convencionais”,
argumenta o professor.
Mas, afinal, qual o melhor formato para os alunos?
A principal
questão sobre a reforma trata de qual o melhor caminho a ser seguido: estudar a
fundo disciplinas que dialoguem com o perfil do estudante ou seguir com a proporção
tradicional visando prepará-los para os vestibulares por meio da grade
curricular convencional?
Diante deste
cenário, Henrique Barra aponta que a nova proposta poderá ser a melhor opção.
“Ao reduzir a carga horária da parte eletiva, atenderia melhor os anseios dos
alunos. Eu diria que, para além da questão quantitativa, é importante levar em
conta o que é possível fazer para trazer avanços. Mudar 40% do currículo para
uma coisa tão nova quanto é a parte eletiva, tal como está concebida, de fato,
foi um pouco ousado. Assim, o resgate da maior participação da educação básica
se mostra mais coerente com a proposta de oferecer um ensino de qualidade para
os alunos”, analisa.
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