Especialistas do Vera Cruz Hospital destacam
importância de se reconhecer a diversidade da beleza; declaração da cantora
Sandy reacende discussão sobre aceitaçãoStockSnap por Pixabay
Após a declaração da cantora Sandy, em um novo programa de TV comandado pela apresentadora Angélica, de que se sente desconfortável em estar sem maquiagem, até mesmo em casa, o assunto “pressão estética” ganhou repercussão. E, embora muitos tenham ficado surpresos com a revelação, ela não está sozinha. Além disso, a dependência do uso de maquiagem é apenas a ponta do iceberg. Uma pesquisa recente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) revelou que a busca de procedimentos estéticos no país cresceu 390% nos primeiros seis meses de 2022 em comparação com o mesmo período do ano anterior. A pesquisa entrevistou 1,2 mil pessoas e cerca de 80% delas já haviam se submetido a algum procedimento invasivo.
A busca incansável pela imagem considerada “ideal” tem começado cada vez mais cedo, atraindo jovens já na faixa dos 12 ou 13 anos e, muitas vezes, vem com o apoio familiar. O risco é que nem sempre a melhoria visa corrigir uma real imperfeição, mas sim uma impressão distorcida da própria imagem. Assim, o uso de um simples gloss labial na infância evolui para mudanças na cor do cabelo, harmonização facial, procedimentos estéticos e cirurgias rotineiras. O ideal é saber dosar o que é autocuidado e o que pode ser um caminho sem volta.
A psicóloga Roberta Von Zuben, do Vera Cruz Hospital, relembra que o ritual da maquiagem remete aos primeiros hominídeos, que moíam pigmentos e o utilizavam sobre a pele, com o objetivo de homenagear deuses, cultuar a natureza e identificar tribos. Hoje, tem a função de embelezar, sendo utilizada de formas diversas, seja na rotina, como no trabalho, ou em situações especiais, como festas, por exemplo. “A maquiagem deixa de expressar um autocuidado quando assume uma forma patológica relacionada à baixa autoestima, a partir do momento que uma pessoa diz se achar feia e não consegue abrir mão do recurso da maquiagem, por exemplo. Ou seja, não importa o que os outros pensam, interessa o que a própria pessoa vê no espelho, que pode ser uma exacerbação de pontos imperceptíveis aos demais – como achar que o nariz é grande, o olho é caído ou os cílios são pequenos. Assim, passa a usar, em excesso, formas para ‘melhorar’, mesmo sem necessidade. Pode haver por trás algo do ponto de vista psicológico que, se não tratado, evoluirá com o tempo.”
Como dito no início, a maquiagem, portanto, é a pontinha do iceberg, pois é um recurso que pode ser removido com demaquilante. O problema pode se agravar quando as mudanças passam a ser irreversíveis, como as cirurgias plásticas. E a atenção não deve ser exclusiva com o público feminino, mas com o masculino também.
Segundo a psicóloga, pode-se dizer que a juventude vive hoje um surto de copiosidade. “Eles se comparam muito com as personalidades da mídia, que geralmente são vistas sempre bem vestidas, maquiadas, produzidas e têm todo um recurso tecnológico para melhorar o que já é bonito, pois trabalham com a imagem. Quando o jovem se compara a celebridades, influencers ou qualquer outra pessoa, torna-se um ponto negativo; ele deseja ser igual, ter os mesmos cabelo, corpo, boca... Usar o mesmo brinco, a mesma maquiagem... E isso se torna uma busca constante. O aparato tecnológico por trás de uma simples foto, com o uso de Photoshop, por exemplo, é tão esquecido quanto a noção de que é muito difícil se igualar, pois cada pessoa tem características particulares que devem ser valorizadas”, adiciona.
Este comportamento é influenciado, conforme a especialista, principalmente pelas redes sociais, de fácil acesso, 24 horas por dia. “A preocupação começa quando o adolescente não tem a estrutura de personalidade e o emocional embasados e firmados, pois passa a se guiar pelas influências, que nem sempre serão positivas”. Um modismo, por exemplo, que logo deve ser esquecido, mas requer acompanhamento específico, é o de influencers que estimulam a anorexia.
“Quando se percebe que o jovem deixa de lado o convívio social, para de sair às ruas, de conversar com amigos, de participar das atividades da escola e só fica na internet, vivendo a realidade virtual, é preciso acompanhar. O excesso tira o foco do adolescente, que deve ser estudar, fazer amizades, curtir a vida. Os pais são o ponto principal, mas professores, líderes de comunidades e até mesmo os colegas podem ajudar. Essa rede de apoio é fundamental e talvez indique o momento de se buscar ajuda profissional”, sugere.
O tipo de acompanhamento e a duração variam de pessoa para pessoa e dependem do quanto as características emocionais e comportamentais estão sendo afetadas. “Às vezes, o ‘uso excessivo de maquiagem’ não retrata apenas uma aparência. Por isso, é preciso ver no fundo, no interior, pois a ‘maquiagem’ pode estar disfarçando muita coisa, sendo a ‘válvula de escape’ contra traumas, dores, ausências e carências, dentre tantos outros motivos”, afirma.
“É
preciso orientar nossos jovens de que não se pode levar a internet e as redes
sociais 100% a sério, porque muita coisa é fake. A nossa beleza tem que
ser natural e pode ser valorizada de diversas formas, com acessórios e
maquiagem, cultivando hábitos saudáveis – beber água, usar protetor solar,
alimentação correta, sendo um bom exemplo de ser humano. O essencial é
ressaltar que cada pessoa é linda de sua própria maneira”, conclui Roberta.
Como tudo começa – Maquiagem
Antigamente, as meninas pegavam o batom escondido da mãe para passar nos lábios. Logo vinha uma bronca. Com o tempo, isso mudou, e a indústria da beleza descobriu, na infância, um nicho a ser explorado: nasceram as linhas de maquiagem infantis. Hoje em dia, dificilmente uma menina de cinco ou seis anos não tem o próprio estojo de maquiagem e esse pode ser o ponto de partida da preocupação com a vaidade. Mas essa seria a idade ideal para tais cuidados?
A médica dermatologista Ana Paula Giovanetti, também do Vera Cruz Hospital, sugere que alguns itens de maquiagem sejam adotados apenas na fase da adolescência. “É quando surgem as primeiras espinhas e a maquiagem pode ajudar a disfarçar. Nessa fase, também já é possível usar o protetor solar que tenha uma cor, cumprindo tanto a função de proteger, quanto a de base”, orienta.
No caso das meninas entre seis e oito anos que gostam de passar sombra e gloss, a médica explica que não há problema, mas que é preciso ter bom senso; o adulto não deve estimular o uso frequente. “Também é essencial ver a qualidade do produto, se é indicado para a criança, para não ter problemas de irritação”, ressalta.
“O uso excessivo de maquiagem desde muito cedo pode provocar irritação e, em alguns casos, até obstruir os poros. Porém, hoje há uma variedade de produtos de qualidade que reduzem muito este risco. Outro fator importante é ter o hábito de retirar a maquiagem, especialmente antes de dormir. Além de usar uma marca ideal para o tipo de pele. Recomenda-se demaquilantes ou sabonetes líquidos que podem ser aplicados sobre os olhos sem ardência”, pondera.
Os
cuidados com a pele do adolescente são mínimos. “É importante ter um sabonete
próprio para lavar o rosto, um creminho específico para o tipo de pele - pois é
a fase da acne e da pele oleosa – e, de manhã cedo, um protetor solar adequado.
No caso daqueles que usam maquiagem, é necessário zelar pela limpeza. São
cuidados básicos”, aconselha.
Vera Cruz Hospital
Nenhum comentário:
Postar um comentário