Quando temos um filho com autismo, nosso intento primeiro é proteger e, ao mesmo tempo, impulsionar as potencialidades. Na idade escolar, estas preocupações guiam a escolha da instituição a quem iremos confiar nosso bem mais precioso. No entanto, podemos não ter informações suficientes para uma boa escolha.
Sobre as instituições particulares, é preciso
começar apontando que elas são muito diferentes entre si. Em algumas podemos
acentuar a presença de processos técnicos de inclusão fabulosos, e há outras,
que são receptivas e dedicadas ao estudante com ou sem deficiência. Assim, a
primeira coisa a se fazer é observar sua região e o que ela pode ter de
especial.
No entanto, esta não me parece ser a regra. A
maioria das escolas particulares não tem espaço para o tempo, por vezes
diferenciado, da pessoa com autismo, para a conscientização da sala de aula e
para o extenso planejamento individualizado que estas crianças precisam (e têm
direito).
Apesar da nota técnica de 2013, que esclarece que a
lei 12.764/12 obriga as instituições de ensino particulares a pagarem pelo
mediador escolar sem cobrar a mais por isso, a verdade é que isso poucas vezes
acontece. E não esqueçamos do efeito mágico do autismo sobre as vagas de
matrícula de muitas delas, que desaparecem instantaneamente tão logo se
comunique o diagnóstico.
Noutra ponta, temos as escolas públicas, que
normalmente não conseguem fazer com que as crianças aprendam tanto quanto nas
particulares (as exceções mais notórias são as escolas mistas com ensino
técnico, como os Institutos Federais). No entanto, quando estamos falando de
inclusão escolar, a verdade é que elas estão muito mais abertas, com maior
disposição de ouvir outros sujeitos (como terapeutas), adaptar processos e
concentrar esforços das crianças com deficiência.
Talvez as diferenças mais expressivas em favor da
escola pública sejam: a) há uma receptividade maior da pessoa com deficiência;
b) há uma maior probabilidade de conseguir o mediador escolar sem
judicialização (e se houver, o processo é contra a prefeitura e não a
diretora); e c) há uma estrutura mínima de inclusão, geralmente com uma
professora de sala de recursos multifuncionais.
Apesar disso, a depender do município ou região em
que a escola pública se encontre, mesmo com toda a disposição, outros fatores
como a violência ou intensa rotatividade docente podem atrapalhar gravemente o
desenvolvimento escolar de uma criança com TEA. Além disso, dificilmente temos
um sistema técnico adequado para a inclusão, com equipe com preparação para
situações de agressividade ou para a adequada avaliação e programação de
ensino.
Sugeriria alguns pontos para que os pais possam
decidir: um Asperger academicamente muito bom e com problemas leves de
socialização pode se beneficiar de um conteúdo mais forte na escola particular,
desde que apoiado com intervenções em habilidades sociais. Uma criança mais
moderada a severa tenderá a não acompanhar um ritmo forte e pode destoar em uma
escola tradicional (pública ou particular). Há casos reiterados de violência
entre os alunos da escola? Se sim, melhor evitar. O dinheiro gasto em escola
particular falta na intervenção adequada? Se sim, talvez não seja boa opção.
Com atenção a este último ponto, devemos lembrar
que a intervenção adequada para autismo infelizmente não é oferecida pelo poder
público e é bastante cara, de modo que arcar com seus custos e mais financiar
uma escola particular é inacessível para a maior parte da população. Assim, se
houver risco de a escola particular ameaçar o financiamento da intervenção,
melhor preferir a escola pública e garantir que haja uma equipe terapêutica
dedicada a seu filho e que inclusive apoie sua inclusão escolar, onde quer que
ele esteja.
Lucelmo
Lacerda - doutor em Educação, com Pós-doutorado em
Psicologia e pesquisador de Autismo e Inclusão, autor do livro “Crítica à
Pseudociência em Educação Especial – Trilhas de uma educação inclusiva baseada
em evidências”.
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