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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Estagiários precisam de segurança psicológica

Esse fator é um diferencial para lapidar os talentos brasileiros

 

A segurança psicológica no âmbito corporativo é um conceito fundamental para o bem-estar e o desempenho dos estagiários. Ela se refere à percepção dos jovens de poderem expressar suas opiniões, ideias, preocupações e até mesmo cometer erros sem medo de retaliação, julgamento ou punição. Quando essa prática é cultivada e mantida em uma organização, traz uma série de benefícios tanto para os integrantes quanto para a empresa como um todo.

 

Em locais com essa prioridade, os colaboradores se sentem à vontade para compartilhar seus pensamentos criativos, questionar processos existentes e buscar soluções inteligentes. Isso cria um clima propício à inovação e à resolução de problemas, algo fundamental para a competitividade e o crescimento do negócio. Além disso, esse tema também está diretamente ligado ao aspecto emocional. Quando as pessoas se sentem seguras para expressar seus sentimentos, a pressão e o estresse são reduzidos. Isso contribui para uma atmosfera saudável e para a prevenção de problemas relacionados à saúde mental, como depressão e ansiedade.

 

Dessa forma, a comunicação é melhorada e as equipes tendem a ser mais coesas e eficazes. A confiança mútua se fortalece, criam-se relações profundas e aumenta a produtividade. No entanto, isso não significa a ausência de críticas ou desafios no cotidiano. Pelo contrário, isso acontecerá, mas de maneira construtiva, com o objetivo de otimizar processos e resultados, em vez de prejudicar a autoestima dos companheiros. Para ter sucesso nessa missão, algumas medidas podem ser adotadas:

 

Liderança inclusiva: os líderes devem estabelecer o exemplo ao demonstrar abertura para ouvir e responder às questões do time.

 

Comunicação eficaz: promover um diálogo claro e transparente, com as informações compartilhadas de maneira acessível e compreensível.

 

Feedback construtivo: incentivar o feedback construtivo e incentivar uma cultura de aprendizado contínuo.

 

Treinamento em habilidades interpessoais: oferecer treinamento para desenvolver habilidades em todos os membros.

 

Reconhecimento e celebração: reconhecer e celebrar conquistas individuais e coletivas para fortalecer o senso de pertencimento.

 

Segundo informações fornecidas pelo Tribunal Superior do Trabalho - TST, apenas no ano passado, foram apresentados mais de 52 mil processos relacionados a casos de assédio moral e mais de três mil referentes a assédio sexual em todo o território nacional, evidenciando a ampla ocorrência dessas formas de violência no contexto laboral. Portanto, os comandantes dos empreendimentos devem ligar o alerta para esse assunto.



Os benefícios da segurança psicológica nas corporações

 

O conceito de segurança psicológica nas organizações foi criado pela Dra. Amy Edmondson, professora da Escola de Negócios de Harvard. Interessada em pesquisar sobre como as equipes lidavam com erros, em meados dos anos 90, a acadêmica norte-americana escolheu o ambiente hospitalar para iniciar sua pesquisa por se tratar de um campo desafiador, altamente técnico e onde as falhas podem, muitas vezes, ser fatais. 

 

No âmbito corporativo, em diversas áreas, em times psicologicamente seguros, as pessoas assumem riscos essenciais, podendo levar o rumo de uma decisão para outro caminho, por exemplo, divergir de uma ideia, dialogar sobre temas sensíveis, contribuir com pontos de vistas diferentes sem medo de ser julgado, humilhado ou de sofrer qualquer tipo de retaliação. Quando isso acontece, todos são capazes de aprender junto e, consequentemente, ficam mais fortes para os próximos desafios.

 

Essa discussão chamou a atenção do Google, em 2012, quando a empresa lançou o Projeto Aristóteles, uma iniciativa interna para descobrir quais pontos diferenciavam os núcleos de alto desempenho dos demais, mesmo compartilhando a mesma cultura organizacional. O programa envolveu a análise e cruzamento de uma grande quantidade de dados e revelou uma descoberta surpreendente para a alta cúpula: o fator "quem" não era o principal determinante. A verdadeira chave estava na forma como o grupo interagia e colaborava.

 

Nesse estudo, o Google identificou cinco padrões essenciais:

 

Segurança psicológica: os colaboradores se sentem à vontade para assumir riscos e serem vulneráveis diante de seus colegas.

 

Confiabilidade: envolve o cumprimento de prazos e a entrega de tarefas com o padrão de excelência esperado.

 

Clareza na estrutura: os papéis, planos e metas são bem definidos. 

 

Significado do trabalho: as demandas e atividades do cotidiano possuem um propósito.

 

Impacto na sociedade: as pessoas percebem a relevância de sua atuação e de promover mudanças.

 

Após uma publicação no jornal "New York Times", em 2016, a questão emocional ganhou ainda mais destaque e foi objeto de estudos adicionais realizados por outras empresas e universidades, validando a teoria original da Dra. Amy Edmondson. Desenvolver essa prática é um processo de grande complexidade e requer a adoção de um novo modelo de ação, uma dinâmica diferenciada e uma atitude transformadora. Simplificar esse termo representa um risco e reduzi-lo a meras movimentações relacionadas à saúde e bem-estar é um equívoco.

 

Portanto, é uma responsabilidade compartilhada por todos os integrantes de uma companhia, exigindo um compromisso diário para isso se tornar realidade. Esse compromisso contínuo fará a diferença na qualidade das relações interpessoais, nos resultados entregues e na evolução dos estagiários. Aliás, além da possibilidade de lapidar esses iniciantes, os gestores têm outras vantagens nesse tipo de contratação.

 

As companhias ficam livres de algumas obrigações. Sendo assim, há a isenção de impostos e direitos trabalhistas, tais como FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), 1/3 sobre férias, multa rescisória de 40% e 13º salário. Ademais, existem outras vantagens para o estabelecimento, como a oportunidade ímpar de identificar potenciais talentos para o quadro de funcionários a partir da filosofia própria da organização e sem vícios de experiências anteriores.

 

Entretanto, quem está apto a efetuar esse tipo de contratação? De acordo com a legislação, pessoas jurídicas de direito privado e os órgãos da administração pública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como profissionais liberais devidamente registrados em seus respectivos conselhos de fiscalização, podem oferecer essas admissões. Portanto, médicos, dentistas, engenheiros, arquitetos e advogados, por exemplo, têm essa possibilidade.

 

Portanto, abra as portas do seu negócio para essa juventude motivada, ávida por mostrar seu potencial e contribuir para o desenvolvimento. Dessa forma, além de fortalecer sua equipe, você estará colaborando com a economia e a educação do Brasil. Essa luta é de todos nós. Conte com a Abres!


 

Carlos Henrique Mencaci - presidente da Associação Brasileira de Estágios - Abres



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