De acordo com OMS, 20% das mulheres terão doença mental na gravidez ou pós-parto. Pediatra diferencia baby blues da depressão pós-parto e orienta como o companheiro pode ajudar
Ignorar os sinais de alerta sobre a saúde mental das
mulheres durante a gravidez ou após o parto afeta o bem-estar e a saúde delas,
como também pode comprometer o desenvolvimento físico e emocional dos bebês,
segundo a Organização Mundial de Saúde. Aproveitando o Dia Mundial da Saúde
Mental, comemorado neste 11 de outubro, a médica pediatra do Espaço
Zune, em Goiânia, Giselle Pulice de Barros Lôbo, alerta para
uma das grandes dificuldades das mulheres no puerpério: após terem filhos, se
tornam desapercebidas pelos familiares e amigos.
“O que percebo é que o foco se torna 100% destinado
ao bebê enquanto a mãe está vivendo o
puerpério, que é o período pós-parto e dura em média 45 dias. Da mesma forma
que a mulher sente incômodo com as mudanças da gestação, sente no puerpério
também, já que seu organismo começa a voltar a ser o que era antes da gravidez,
com mudanças hormonais e anatômicas, que influenciam muito no psicológico. É um
momento delicado em que olhar com carinho para ela, e não só para o bebê,
ajudaria a diminuir a tribulação dessa fase”, explica Giselle.
Outra causa da vulnerabilidade emocional das mães é que o
vínculo com o recém-nascido pode não ser imediato, o que gera ainda mais
angústia materna. Apesar de estudos mostrarem que essa
dificuldade é normal, a maioria das pessoas tem vergonha desse sentimento e
conversar com outros pais que estão passando ou passaram por situações
semelhantes pode ajudar. Ações físicas de afeto, como cantar e conversar com o
bebê e fazer contato pele a pele (inclusive com o pai), também ajudam. Para
alguns casos, a pediatra indica até diminuir a frequência de visitas, para que os pais
fiquem mais à vontade para criar vínculos com esse novo integrante da casa.
Mudanças físicas e emocionais
· Útero cicatrizando e
voltando ao tamanho normal, gerando cólicas e sangramentos;
· Seios sensíveis,
dolorosos e mamilos com fissuras e bastante ardência;
· Alças abdominais sofrem
distensão, causada por gases;
· Cicatrização da vagina
e retorno das dimensões e força original da musculatura pélvica, o que pode
gerar dor na região íntima;
· Hormônios com
alteração, com diminuição brusca do estrogênio e da progesterona, causando
alteração no sono, falta de libido, cansaço e alterações de humor.
Nesse cenário, somado à mudança de rotina e adaptações que o
bebê traz com sua chegada, é preciso que o companheiro dedique um olhar
cuidadoso e paciente, porque isso ajuda muito a diminuir as chances de
adoecimento mental da mulher. Além do acolhimento, é preciso
que o pai ajude nos cuidados com o bebê, vá nas consultas pediátricas para
criar vínculos, responsabilidade e para tirar dúvidas que causem insegurança
nos cuidados com o bebê.
“Como médica, procuro normalizar dúvidas, medos e
inseguranças dos pais de primeira viagem, que são normais, pois é no dia a dia
e nas tentativas que se ganha experiência de maternidade e paternidade. O puerpério
é um momento frágil e é comum sentir as emoções à flor da pele, esgotamento e
vontade de chorar. Esse período de humor instável recebeu o
nome de baby blues e, segundo a American Pregnancy Association, ele
acomete em cerca de 70 a 80% das mães.
Os sentimentos negativos ou mudanças de humor podem ser:
irritabilidade, insônia, ansiedade, tristeza excessiva, vontade de chorar com
frequência, falta de libido, falta ou excesso de fome, insegurança (de que não
conseguirá dar conta da criança em alguns momentos) e auto depreciação”, pontua
a pediatra.
Baby blues ou depressão pós-parto?
A
diferença entre o baby blues e a depressão pós-parto é uma linha tênue na
intensidade dos sintomas. Por exemplo, o baby blues pode causar sentimento de
desesperança enquanto a depressão causa a falta da vontade de viver. A mãe com baby blues
normalmente consegue manter sua rotina diária e de cuidados com o bebê,
enquanto a mãe em processo de depressão pós-parto dificilmente conseguirá
seguir a rotina. Outro fator é o tempo, já que mulheres com baby blues
tendem a melhorar após três semanas, enquanto na depressão pós-parto os
sintomas podem prolongar por meses, podendo ser necessário ajuda médica.
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