Estatísticas da Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) mostram que há mais de uma década,
desde 2010, há mais pessoas nas cidades do que no campo. Segundo a Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a tendência é irreversível – uma
projeção do Banco Mundial mostra que a queda de pessoas no campo entre 2020 e
2050 será de 300 milhões de indivíduos.
No
Brasil, o Censo Demográfico de 2010, divulgado pelo IBGE, indicou que a taxa de
migração campo-cidade era de 1,31%; amostras mais recentes mostraram que a taxa
caiu para 0,65%. Apesar da queda da migração, estima-se que atualmente apenas
17,6% da população brasileira resida em zonas rurais. O novo Censo 2023 a ser
divulgado em breve dará um panorama melhor da situação.
Fato
é que a adoção de novas tecnologias, regras de sustentabilidade para o
agronegócio – sejam elas ambientais, sociais ou econômicas – e a dificuldade em
manter jovens no campo são desafios enfrentados pelo setor nos últimos anos.
Somado a isso, convivemos com a falta de assiduidade do trabalhador, que
reflete o desinteresse pelo trabalho formal no campo, e a baixa qualificação da
mão de obra. Esses aspectos todos espelham uma tendência mundial, cuja
população se mostra nas últimas décadas mais presente nos centros urbanos do
que na área rural.
Na
prática, muitas vezes, ocorre que o trabalhador é enviado para a cidade para se
qualificar, mas acaba não voltando. O trabalho braçal, que antes exigia muitos
homens para ser realizado, hoje é executado com maior precisão e velocidade por
equipamentos automatizados. E, paradoxalmente, uma das grandes dificuldades na
atualidade é encontrar mecânicos para cuidar da manutenção do maquinário.
Então, diante deste cenário, a conta não fecha.
A
FAO estima que em 2050 o mundo tenha mais de 9 bilhões de habitantes, um
indicativo de que devemos não apenas estar preparados para aumentar a produção
de alimentos, como planejar o agronegócio para ser eficiente, sustentável e
produtivo, e, principalmente, atrativo do ponto de vista da retenção de mão de
obra. É preciso considerar todas as questões de tecnologia e novas práticas
agrícolas, que olhem para a regeneração do solo, o uso de bioinsumos e também
despertar nos jovens que vivem no interior e cada vez mais buscam as cidades
como referência de vida a perspectiva de fazer suas vidas ali.
A
diminuição de terras disponíveis na fronteira agrícola, somada à crescente
mecanização no campo, levaram a uma diminuição da mão de obra na produção
familiar, ‘empurrando’ os jovens para a cidade. Há pesquisadores que analisam a
recorrente desvalorização e precarização do meio rural, um ambiente que não os
estimula no que diz respeito a desenvolverem conhecimentos novos e aplicá-los
nas terras de suas famílias, sendo atraídos, cada vez mais, pelos valores urbanos
e o trabalho assalariado.
A
meu ver, é de extrema relevância que haja um investimento dos setores público e
privado para incentivar as escolas agrícolas a ofertar cursos diversificados e
atraentes para esses jovens. As próprias startups, que desenvolvem inúmeras
soluções para o agronegócio, podem se dedicar a pensar em propostas nesse
sentido, estimulando a criação de soluções interessantes para problemas que
enfrentamos nas lavouras e na gestão do agronegócio sob várias perspectivas e
temáticas.
A CNA tem um programa de capacitação – Jovens Líderes do Agro – para conectar a juventude e ser canal de debates sobre possibilidades de trabalho no campo, com temáticas atuais e interessantes como liderança empreendedora, autoconhecimento, proposição de iniciativa de liderança, sucessão no campo entre vários outros. Em Minas, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), por meio da regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Administração Regional Minas Gerais (Senar Minas) estimula e promove a capacitação profissional e promoção social da população rural, por meio de cursos, palestras e seminários gratuitos.
O
projeto Jovem no Campo da Faemg/Senar busca contribuir com a inserção do jovem
no mercado de trabalho rural, oferecendo a ele uma visão empreendedora de
negócio, com foco nas oportunidades locais e regionais. É voltado para pessoas
com idade entre 15 e 24 anos, que já tenham concluído ou estejam regularmente
matriculados no ensino fundamental, médio ou no EJA (Programa de Educação de
Jovens e Adultos), além de ter vínculo e afinidade com o meio rural.
A
meu ver, é urgente a necessidade de se abrir novas frentes de fomento à
permanência de trabalhadores no campo, homens e mulheres, jovens e adultos,
para o desenvolvimento de novas frentes de cultivos, de pesquisa e inovação
para o agronegócio brasileiro.
Bruno Sampaio - gestor do BMG Agro, empresa do Grupo BMG com atuação em Minas Gerais e referência no plantio de soja, milho, e feijão, além da atividade pecuária, por combinar sustentabilidade e produtividade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário