Educação é processo – pelo menos nisso, temos um consenso. Para que possamos ter alunos protagonistas no Ensino Médio, por exemplo, temos um longo trabalho desde a Educação Infantil. Sendo assim, para qualquer avanço ou mudança de rumo que se pretenda empreender no futuro da escola, dependemos de hipóteses coerentes, que amparem decisões estratégicas para operar o presente.
Isso passa necessariamente pela construção de
cenários, imaginando futuros possíveis sem perder de vista o contexto
disruptivo que vivemos. Nesse ponto, o que chama atenção é o fato de não termos
conseguido imaginar uma boa parte dos problemas que encontramos em nossas
escolas no retorno ao presencial, após a reclusão pandêmica. Ou seja, temos
muita dificuldade de antever. Pensamos, inicialmente, que haveria muitos
problemas relacionados aos déficits de aprendizagem. Para isso, foram
desenhadas avaliações diagnósticas e planos paralelos para recomposição das
aprendizagens essenciais, ainda em curso. Mas esse foi o máximo que conseguimos
predizer. Vale reconhecer que esse movimento é necessário e terá desdobramentos
para os próximos dois anos, minimamente. Entretanto, isso não é
suficiente.
O que encontramos para além das questões das
aprendizagens escolares? Para sermos honestos ainda estamos mapeando.
Encontramos alunos inquietos em sala de aula, impacientes, desanimados em
relação ao que está sendo proposto, com sobrepeso, ansiedade, uma crescente de
laudos, além de comportamentos agressivos, quase beirando a violência. Isso é
totalmente novo? É certo que não. Já tínhamos indícios suficientes antes da
pandemia de que os nossos alunos aprendiam menos do que a maior parte do mundo,
de que o desinteresse dos estudantes estava crescente, de que a saúde mental
estava comprometida, de que precisávamos compreender melhor as demandas da
educação inclusiva, de que os processos avaliativos estavam centrados em
conteúdos e não em habilidades, de que o tempo escolar não era suficiente, de
que a tecnologia poderia contribuir de forma mais efetiva com o trabalho de
sala de aula, de que a formação dos professores era frágil para dar conta das
necessidades dos estudantes, de que o currículo precisava de revisão e
enxugamento e que a família estava muito distante da escola.
A pandemia acelera tudo, inclusive o que não está
bom! Nossos dados mostram de maneira contundente a necessidade de dar uma
atenção especial a todas essas frentes. Não podemos naturalizar e nem negar os
fatos. Nenhum desses movimentos produz soluções. Da mesma forma, precisaremos
de outras áreas e setores para nos ajudar nessa construção de cenários e
soluções.
Nesse sentido, a Unesco disponibilizou o Relatório
da Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação, intitulado “Reimaginar
nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação”.
O documento considera as contribuições de mais de um milhão de pessoas por todo
o mundo. Suas páginas abrem o diálogo sobre a centralidade da educação em um
mundo de pandemias, guerras, transformações digitais disruptivas, além do risco
à democracia. Também enfatizam a necessidade de revisão dos currículos e das
metodologias. É um documento cheio de esperança em um futuro pacífico,
sustentável e de união – desde que possamos contar com as nossas crianças e
jovens engajados na causa humana e na sua relação com o planeta –, por meio de
um trabalho que promova a criatividade, a criticidade, a colaboração e a
compaixão, alterando os estilos de vida e apostando em uma economia
sustentável. Como bem posicionou o relatório, nenhuma tendência é destino.
Acedriana Vicente Vogel -
diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
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