Fundadora da Connecting Food,
plataforma de doação de alimentos, aponta caminhos para distribuição mais justa
em meio à crise econômica e inflação crescente
A combinação
entre pandemia, inflação e crise econômica, que resultou em cerca de 120
milhões de brasileiros passando fome ou sem acesso pleno e permanente a
alimentos, torna ainda mais importante os esforços para combater o desperdício
de alimentos no Brasil, alerta Alcione Silva, fundadora da plataforma de doação
de alimentos Connecting Food.
“Com as
grandes transformações nas últimas décadas, chegamos em 2021 produzindo muito mais
alimentos, que já são suficientes para alimentar todo mundo, mas que não chegam
à casa das pessoas mais vulneráveis. É um problema amplo, mas que tem saída. A
primeira revolução deve ser interna, individual, da nossa relação com o
alimento”, avalia Alcione, que é engenheira de alimentos e já realizou
trabalhos de consultoria técnica na área para a FAO e o Ministério da
Cidadania.
Para ela, os
caminhos para reduzir o desperdício de comida passam pelas escolhas dos
consumidores, por políticas públicas para a promoção da segurança alimentar e
nutricional, pela melhoraria das condições de transporte e armazenagem dos
alimentos e pela diminuição do consumo de carne.
O futuro da
produção de alimentos passa obrigatoriamente pela redução do consumo de carne no
mundo. Há um consumo excessivo de proteínas de origem animal em alguns países e
isso causa um grande impacto ambiental e social. Precisamos repensar, reduzir o
consumo de carne e incluir verduras e legumes na alimentação do dia a dia”,
afirma.
Ao abrir espaço
no prato para novas possibilidades, o consumidor também começa a repensar seus
hábitos de compra, passando a desconsiderar a praticidade do alimento
pré-pronto e optando por opções in natura, que são mais saudáveis e
sustentáveis. Para Alcione, é preciso educar o consumidor para um olhar de todo
o sistema.
“Quando nos
deparamos com uma gôndola de mercado cheia de alimentos frescos às nove da
noite, precisamos saber que o que não for vendido será jogado fora. Temos uma
expectativa de oferta abundante, mas isso tem um preço muito caro e quem paga,
no final, somos nós, pois tudo isso entra na precificação da cadeia de
alimentos. O consumidor espera que os alimentos encontrados nas prateleiras
sejam perfeitos, com mesmo tamanho e cor o ano inteiro. A produção de legumes,
verduras e frutas por muitas vezes não respeita a sazonalidade, fator
extremamente importante na sustentabilidade da cadeia produtiva”, comenta.
Hoje, a
startup de impacto social Connecting Food Brasil usa a tecnologia para conectar
alimentos que sobram nas indústrias, mercados e restaurantes, sem valor
comercial mas que ainda estão próprios para o consumo, com Organizações da
Sociedade Civil (OSCs), que utilizam os produtos doados para o preparo de
refeições oferecidas à pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Extremamente
necessário para atender a demanda de alimentos para uma população vulnerável
crescente no país, o trabalho da empresa busca sanar a ineficiência do sistema
de produção e distribuição de alimentos enquanto as outras transformações
citadas por Alcione não se consolidam.
“É claro que
nem todo mundo hoje está em condições de fazer escolhas de alimentos, mas é
muito importante começarmos a buscar informações para uma transformação
cultural e de educação. Só assim vamos provocar mudanças na cadeia de produção
e distribuição”, defende a fundadora da Connecting Food Brasil.
Connecting Food -
startup de impacto social, que faz a gestão da redistribuição de alimentos
excedentes, sem valor comercial, mas bons para consumo, para varejos,
indústrias e restaurantes.
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