Situação
pode gerar grandes impactos no SUS
Uma equipe formada por 17 pesquisadores de diversas
universidades do Brasil e uma do Chile acabam de divulgar o estudo “A Epidemia
de Obesidade e as DCNT -- Causas, custos e sobrecarga no SUS”, com dados
alarmantes e que requerem muita atenção de toda a sociedade.
O estudo financiado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mostra que, no Brasil, a
prevalência do excesso de peso aumentou de 42,6% em 2006 para 55,4% em 2019. No
mesmo período, a obesidade saltou de 11,8% para 20,3%. E o mais grave: em
20230, a prevalência de excesso de peso pode chegar a 68% (7 em cada 10
brasileiros) e a de obesidade em 26% (1 a cada 4). A estimativa preocupa se
considerado ainda o risco associado de diversas Doenças Crônicas não
Transmissíveis (DCNT), com consequências impactantes para o Sistema Único de
Saúde (SUS).
Segundo o coordenador do estudo, professor e
pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Leandro Rezende,
“por muito tempo, o foco no controle do sobrepeso e da obesidade tem sido
direcionado às escolhas individuais. Contudo, ao entendermos o seu
comportamento de epidemia, podemos ter ações mais assertivas para cuidar da
saúde da população. No Brasil, o número de pessoas vivendo com sobrepeso ou
obesidade tem crescido de modo expressivo”.
As DCNT são doenças multifatoriais, isto é, são
causadas por diversos fatores de risco, apresentam longos períodos de latência
e afetam pessoas por muitos anos, até mesmo décadas, podendo resultar em
incapacidade funcionais. Como exemplos da DCNT temos as doenças
cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, as neoplasias (cânceres) e a
diabetes mellitus.
Somente em 2019 elas foram responsáveis por 55% das
738.371 mortes de adultos no Brasil. Dessas, 173.207 (56,1%) ocorreram com
pessoas entre 30 e 69 anos de idade e, portanto, consideradas prematuras e
evitáveis. “Os principais fatores de risco para DCNT são tabagismo, consumo
abusivo de álcool, alimentação não saudável e inatividade física”, explica
Leandro Rezende. Segundo o coordenador do estudo, além disso, há fatores de
risco metabólicos, como hipertensão (pressão arterial elevada), hiperglicemia
(glicose elevada no sangue) e excesso de peso / obesidade.
Em termos mundiais o estudo revela que no período
entre 1975 e 2016 o excesso de peso e a obesidade triplicaram, chegando
respectivamente a 36% e 13%.
“Mudanças efetivas nesse quadro só podem ser
alcançadas com a melhor compreensão e ação sobre as causas da obesidade. É
nesse ponto que nossa perspectiva deve ser ampliada para que possamos pensar na
prevenção da obesidade na população”, aponta Rezende.
O estudo indica um caminho. Estratégias de
prevenção da obesidade devem priorizar o controle das causas da obesidade em
populações, ou seja, as causas que influenciam e explicam o aumento da
prevalência da obesidade, em detrimento das causas da obesidade em indivíduos.
Nesse contexto, o estudo sugere que políticas públicas e ações voltadas à
redução do consumo de alimentos ultraprocessados são imperativas. São exemplos
dessas ações: tributação desses tipos de alimentos, informação nutricional mais
clara e simples no rótulo dos produtos, restrição para marketing e publicidade
desses produtos.
No que tange à previsão de aumento de custos e
sobrecarga no SUS, somente em 2019 o gasto direto com DCNT no país atingiu R$ 6,8 bilhões. O grupo de
pesquisadores envolvidos no estudo estimou que 22% desse valor (R$ 1,5 bilhão) podem ser
atribuídos ao excesso de peso e obesidade, com custos um pouco mais elevados em
mulheres (R$ 762
milhões) do que nos homens (R$ 730 milhões).
O grupo liderado por Rezende defende a saída do
problema por meio de políticas públicas para a saúde coletiva. “Estratégias de
identificação e controle das causas populacionais que levam à obesidade devem
ser prioridade da ação dos gestores. Se os fatores determinantes do aumento da
prevalência da obesidade são populacionais, a estratégia de prevenção precisa
ser social e coletiva, por meio de políticas públicas eficazes”, ressalta o
pesquisador da Unifesp.
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