O verão chegou e, depois de meses de confinamento por causa da pandemia, todo mundo quer aproveitar os avanços obtidos com a vacinação contra a Covid para realizar atividades de lazer ao ar livre. Mas é preciso ter cuidado com os passeios no parque, as idas à praia e até mesmo com o futebol com os amigos — e não estamos falando do distanciamento recomendado para evitar o coronavírus. É durante a estação mais quente do ano, com exposição solar sem proteção, que aumentam as chances do surgimento do câncer de pele. Por isso, além de não esquecer do filtro solar, uma boa ideia é apostar no autoexame que ajuda a ter um diagnóstico precoce de possíveis lesões, diminuindo as chances de complicações e aumentando a possibilidade de cura. A ferramenta, muito usada para detectar nódulos nas mamas, é ainda deixada de lado nos cuidados com a pele, mas de fundamental importância. É preciso observar a pele! Surgimento de uma nova pinta ou de uma que fuja do padrão das demais, conhecida como sinal do ‘patinho feio’, especialmente em quem já possui muitas, é um sinal de alerta. Feridas que criam casquinha, sangram e não melhoram nunca também merecem atenção", diz a oncologista Flora Lino, do Hospital Marcos Moraes, no Méier, Zona Norte do Rio.
Para facilitar o auto-exame, a médica indica que se recorra às
cinco primeiras letras do alfabeto. O “ABCEDE” pode ajudar a identificar lesões
suspeitas ainda em estágio
inicial, salvando vidas. “O ‘a'
se refere à assimetria, o
'b' mostra a importância de se observar as bordas, que não podem estar
irregulares”, o 'c' é um indicativo de cor, quanto mais tonalidades numa
mancha, pior. Já o 'd' é
de diâmetro. Sugere que
novas pintas com mais de 5 mm sejam examinadas. E, por último, a letra 'e' é de
evolução. O paciente precisa saber se aquela pinta que sempre teve, mudou de
aspecto”.
O uso do protetor solar,
alerta Flora, também é imprescindível. E não só para quem sai de casa. Ele deve
ser aplicado mesmo por quem trabalha em home office, já que a exposição à luz
do computador e do celular também traz danos à pele. E não basta passar o
filtro uma vez e esquecer dele pelo resto do dia. É preciso retocá-lo a cada
duas horas. “Uma opção é usar produtos voltados para esportistas, que têm
fixação maior, mas mesmo estes precisam de reforço”, diz Flora, lembrando que a
exposição direta ao sol requer cuidados extras. “Chapéu, óculos escuros, roupas
com proteção UV são recomendadas, sempre aliadas ao uso do filtro. Muita gente
acha que a vestimenta é suficiente, mas não”. Áreas que geralmente são
esquecidas, como orelhas, pescoço, lábios e asas do nariz também podem ter
tumores, portanto, nunca descuide delas.
Quem não conseguiu se precaver ou, mesmo com cuidado, apresenta
lesões, tem boas notícias. Novas drogas têm ajudado no tratamento do câncer de
pele, responsável por 30% dos tumores malignos diagnosticados no Brasil. Entre
elas, está a terapia-alvo,
voltada para melanomas, o tipo mais agressivo da doença. Segundo Flora, metade
destes tumores possuem mutações no gene BRAF, identificáveis através de análise em material de
biópsia da lesão. Nestes
casos, é possível que remédios combatam uma alteração na proteína que faz com
que as células do melanoma cresçam e se proliferem rapidamente. “Até pouco tempo atrás, não se
tinha o que fazer em relação a um paciente que teve um melanoma ressecado, mas apresentava ainda alto risco de
recidiva. Agora, é possível reduzir bastante ou até evitar o surgimento de
novos tumores”, diz Flora.
A médica acrescenta que grande avanço se deu com a incorporação da
imunoterapia, que anula os mecanismos de defesa das células tumorais, fazendo
com que o sistema imune do paciente consiga combater o melanoma. “Pacientes que
até então viviam meses quando havia metástase agora podem alcançar sobrevidas
de anos e anos quando respondem bem ao tratamento”, diz.
Entre os tipos de câncer de pele existem os não-melanoma, que
podem ser classificados em carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular. O primeiro
é o tipo mais frequente, com crescimento normalmente mais lento. O diagnóstico
se dá, usualmente, pelo aparecimento de uma lesão nodular rosa com aspecto
peroláceo na pele exposta do rosto, pescoço e couro cabeludo. Já no carcinoma
espinocelular, mais comum em homens, ocorre a formação de um nódulo que cresce
rapidamente, com ulceração (ferida) de difícil cicatrização. Já o tipo melanoma
é o mais agressivo. São geralmente os casos que se iniciam com o aparecimento
de pintas escuras na pele, que apresentam modificações ao longo do tempo. Por
ano, devem surgir 185 mil novos casos dos três tipos no país, segundo o
Instituto Nacional do Câncer (Inca).
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