Sophie Deram, pesquisadora e
autora do best-seller "O Peso das Dietas",
traz reflexões sobre
o que pode mudar no tratamento contra a doença
Sophie Deram é especialista em
tratamento de Transtornos Alimentares pelo AMBULIM - Programa de Transtornos
Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP. Crédito: Divulgação
Pesquisa feita pelo IBGE
aponta que a obesidade no Brasil atinge um em cada quatro adultos. O estudo
abrange o período de 2002 a 2019. Crédito: Divulgação
É comum encontrar
pessoas obesas ou com excesso de peso que já tenham sofrido algum tipo de
discriminação. As atitudes preconceituosas direcionadas para os que convivem
com essa condição são inúmeras, como um olhar atravessado ao passar na catraca
do ônibus ou comprar roupas novas, ao montar a refeição em um restaurante ou
até mesmo ao ocupar assentos no transporte público.
Julgamentos pré-concebidos podem, muitas vezes, acuar pacientes e impedir que
procurem ajuda especializada. Este cenário resulta em pessoas na busca de se
tratar de forma autônoma, com o uso de medicamentos e dietas restritivas que
não resolvem, mas pioram a condição do indivíduo.
"Muitos pensam que as causas da obesidade dependem exclusivamente de
questões pessoais, como preguiça gula e a falta de força de vontade. São
suposições que estão em desacordo com as evidências científicas", repudia
Sophie Deram, PHD em Nutrição, autora do best seller "O Peso das
Dietas" e especialista em comportamento alimentar.
A partir de diversas pesquisas, o consenso indica que o estigma da obesidade é
uma questão bem difundida na sociedade. A prevalência de discriminação
apresenta taxas mais altas entre aqueles com maior Índice de Massa Corporal
(IMC) e entre as mulheres, quando comparadas com os homens. Um estudo de 2018
citado pelos autores sugere que aproximadamente 40% a 50% de adultos
norte-americanos com excesso de peso e obesidade sofrem internalização do
estigma, e cerca de 20% experimentam isso em níveis elevados
Sophie esclarece que existem quatro mitos relacionados à obesidade. Para a
especialista é necessário mostrar às pessoas os reais motivos por trás desta
condição pode tornar o tratamento desta doença mais humano e efetivo, não
apenas no ponto de vista dos estudiosos da área, como também da população em
geral que convive e, muitas vezes, maltrata quem sofre com o excesso de peso.
Confira abaixo:
1 - Obesidade é uma opção
Esta é uma das declarações mais irresponsáveis que podem ser feitas em relação
ao excesso de peso, pois transfere toda a responsabilidade para a pessoa que já
está vulnerável. "É preciso se atentar que a obesidade é um problema
multifatorial, ou seja, envolve questões genéticas, emocionais, culturais e
fisiológicas", esclarece a especialista.
2 - Consome mais calorias do que gasta
Usar esta expressão é simplificar a complexidade com a qual o corpo humano
trabalha. A conta não é tão simples. "São muitos os fatores que podem
levar um indivíduo a desenvolver esta condição, comer muito não pode ser
considerada uma causa predominante", destaca Sophie.
3 - Obesidade é um estilo de vida
Mais uma vez a desinformação pode levar as pessoas a tirarem conclusões
equivocadas como esta. Dados de estudos realizados em diversos países mostram
que a obesidade é sim um problema de saúde que pode afetar as pessoas em
diferentes momentos da vida. "Considerar a obesidade como opção é
transferir toda a responsabilidade para o indivíduo. Na verdade, é um problema
multifatorial, que envolve questões sociais, culturais, genéticas, emocionais e
fisiológicas", avalia.
4 - Obesidade severa pode ser resolvida com dietas e exercícios físicos
E por último, porém não menos insensata, esta afirmação pode ser refutada pelo
simples fato de não ter apoio científico. Estudos já comprovaram a ineficácia
de tentativas voluntárias de restringir a alimentação e adicionar exercícios
físicos nesta equação ajuda menos ainda. Esta combinação, para aqueles que
sofrem com um quadro severo de excesso de peso, traz resultados modestos que
não se sustentam em longo prazo.
Sophie explica que, quando aderimos às dietas restritivas, acontecem duas
mudanças em nosso corpo: o aumento de apetite e a redução da taxa metabólica
basal - mínimo de energia necessária para manter as funções vitais do
organismo. "Justamente por essa combinação de resultados, nosso corpo
entende que estamos passando pela privação de alimentos e promove a recuperação
de peso", aponta Sophie.
Manifesto sobre a obesidade
Sophie acredita que a falta de informações no tocante à obesidade com base na
ciência é uma das principais responsáveis pela existência desses quatro mitos
sobre o tema. Para desmistificar esses equívocos, a nutricionista realiza no
próximo sábado (21/11) o "Manifesto para um novo olhar sobre a
obesidade" no formato online. O evento debaterá com um time de especialistas
um tratamento mais humano e digno para as pessoas que sofrem com esta condição.
Confira a programação neste link
.
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