Documento propõe 25 prioridades de pesquisa em áreas estratégicas para a construção de um futuro mais justo, resiliente e sustentável (foto: Rovena Rosa/Agência Brasil) |
A Organização das Nações Unidas (ONU)
mobilizou 250 pesquisadores, dirigentes de agências de fomento de 25 países – a
FAPESP, entre elas –, formuladores de políticas governamentais, entre outros,
para, juntos, definir estratégias nacionais e internacionais de recuperação da
crise socioeconômica que se espalhou pelo planeta na esteira da pandemia da
COVID-19.
Ao longo de dez semanas, estes 250
especialistas elaboraram um roteiro com 25 prioridades de pesquisas,
detalhadamente descrito no United Nations Research Roadmap
for the COVID-19 Recovery e divulgado hoje. “Esse roteiro
é uma ferramenta que pode ser utilizada por pesquisadores, agências de fomento
à pesquisa, organizações da sociedade civil, governos e instituições
internacionais para construir parcerias, alinhar esforços de pesquisa e
demonstrar o poder da ciência global”, afirma Amina Mohammed,
vice-secretária-geral da ONU na mensagem de abertura do documento.
Os 25 temas
de pesquisa estão distribuídos em cinco áreas consideradas prioritárias para a
construção de um futuro mais justo, resiliente e sustentável, alinhados aos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS): proteção de serviços e sistemas
de saúde; garantia de proteção social e serviços básicos; planejamento da
retomada de empregos, de pequenas e médias empresas e de oportunidades para
trabalhadores do setor informal; apoio à resposta macroeconômica e à
colaboração multilateral; e fortalecimento da coesão social e da
resiliência da comunidade.
A ciência,
na visão da ONU, é a “melhor chance” para o planeta se recuperar da COVID-19,
já que é capaz de produzir mudanças transformadoras, que
envolvem engenhosidade, pesquisa em todas as áreas do conhecimento, parcerias
e colaboração. As cinco estratégias e 25 prioridades de pesquisa propostas no
documento têm como objetivo mobilizar a comunidade científica para este
desafio.
A contribuição da FAPESP
Em cinco capítulos e mais de 120
páginas, o documento, coordenado por Steven Hoffman, diretor científico do
Canadian Institutes of Health Research, do Canadá, aponta um conjunto de
recomendações e oferece uma lista de temas de pesquisa – no formato de
perguntas – para cada um dos cinco pilares estratégicos. Adicionalmente, em
cada pilar, são identificadas três subprioridades de pesquisas de impacto
imediato (quick-win), de maior retorno sobre o investimento (best-buy) e de grande poder de transformação (game-changer).
No pilar
Proteção Social e Serviços Básicos, por exemplo, as recomendações têm foco em
políticas em favor das populações mais pobres, nos serviços essenciais de
alimentação, nutrição – especialmente de crianças e mulheres – e saneamento, na
aprendizagem sustentada, em serviços sociais e na implementação de medidas
contra a violência de gênero.
Neste pilar, pesquisas que busquem
definir estratégias de fornecimento de serviços básicos para proteger a saúde
mental de trabalhadores são classificadas como quick-win,
iniciativas para a inclusão digital são apontadas como best-buy e medidas eficazes para a proteção da
renda básica são os game-changer. Essas
sugestões são seguidas de cinco recomendações de pesquisas envolvendo medidas
de proteção social inclusivas, redução da desigualdade, prosperidade, entre
outras.
A FAPESP, representada pelo seu
diretor científico, Luiz Eugênio Mello, e pela pesquisadora Marta Arretche,
ex-coordenadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) – um
Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da Fundação –, contribuiu para a
identificação das perguntas-chave do pilar Proteção Social e Serviços Básicos,
ao lado de representantes de outras dez instituições de pesquisa de todo o
mundo.
“O grande
desafio foi traduzir as questões relevantes para implementação imediata e que,
ao mesmo tempo, ofereçam um desafio de pesquisa a ser trabalhado. Evidentemente
há muito conhecimento já disponível, mas que, por vezes, carece de ajustes
locais para ser adequadamente aplicado em benefício da sociedade”,
afirma Mello.
A FAPESP
teve uma participação importante na inclusão de dois temas relevantes, sublinha
Arretche. “O primeiro diz respeito à importância da inclusão digital. Este é um
grande desafio contemporâneo e a pesquisa ainda tem um espaço muito grande de
contribuição. O segundo diz respeito à importância de estudos sobre
implementação, etapa crucial da produção de políticas e estudos que, neste
campo, podem apresentar resultados muito relevantes para nosso conhecimento
sobre as estratégias de inclusão social.”
Coordenado
por Angela Liberatore, do European Research Council, e por Bhushan Patwardhan,
do Indian Council of Social Science Research, o grupo que elaborou propostas
para o pilar Proteção Social e Serviços Básicos também contou com a
participação de Anita Charlesworth, do Health Foundation, do Reino Unidos;
Isayvani Naicker, da African Academy of Sciences, do Quênia; e Sara Wolfe, do
Grand Challenges Canada, do Canadá.
“Não deixar ninguém para trás”
O documento United Nations Research Roadmap for the COVID-19
Recovery parte do pressuposto da interdependência de
todos os habitantes do planeta para dar suporte aos seus três eixos principais
– equidade, resiliência e sustentabilidade – e à proposta de construção de uma
base sólida de conhecimento a ser apresentada como opção aos governos,
sociedade civil e setor privado com o objetivo de “não deixar ninguém para
trás”. E o fator impulsionador de uma recuperação econômica equitativa é a
pesquisa.
“Fortalecer
a capacidade de pesquisa nacional é crítico para garantir que os pesquisadores
locais possam gerar conhecimento adequado à tomada de decisões”, afirma o
documento. Para tanto, também a empreitada de pesquisa deve ser mais
equitativa, diversa, inclusiva e participativa.
A ONU
recomenda que as agências de fomento “trabalhem juntas” para garantir recursos
para o financiamento das prioridades de pesquisa que buscam solução para a
crise socioeconômica engendrada pela COVID-19, por meio do fortalecimento de
parcerias em âmbito nacional e internacional. “A colaboração é vital para a
implementação desse roteiro”, destaca o documento.
Com base
nesse documento a FAPESP dará início às discussões para o lançamento de
chamadas específicas endereçando as prioridades definidas nesse mapa. “O
protagonismo da FAPESP ao participar dessa iniciativa das Organização das
Nações Unidas dá ao pesquisador do Estado de São Paulo a possibilidade de
inserção em chamadas internacionais na investigação de um tópico cujas soluções
e desafios também tenham uma natureza global”, diz Mello.
A íntegra do documento está
disponível em https://www.un.org/en/pdfs/UNCOVID19ResearchRoadmap.pdf.
Claudia Izique
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/onu-mobiliza-pesquisadores-na-busca-de-solucoes-para-a-crise-socioeconomica-decorrente-da-covid-19/34627/
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