Preocupado com o aumento no número de casos e
o pouco conhecimento sobre a doença, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia
desenvolve projeto para dar acesso à população a informações sobre diagnóstico
e tratamento dessa doença
No Brasil, 50% das
pessoas com diabetes, em especial os que estão na faixa etária de 55 e 74 anos,
não sabem que têm o diagnóstico dessa doença. Esse dado é mais prevalente e
proporcionalmente igual entre homens e mulheres, de acordo com o Estudo
Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa). Para o Conselho Brasileiro de
Oftalmologia (CBO), que promove anualmente, em todo o país, mutirões de
atendimentos às pessoas com diabetes, essa subnotificação é extremamente
preocupante. Isso porque a falta de acompanhamento da doença pode desencadear
complicações graves ao paciente, como problemas oculares, a exemplo da
retinopatia diabética, que leva à cegueira.
"Com 16,8 milhões
de pessoas com diabetes, o Brasil ocupa a quinta posição do ranking mundial,
segundo o Atlas da Federação Internacional do Diabetes (IDF, em inglês). Além
desse dado alarmante, o brasileiro enfrenta a precariedade do sistema de saúde
público e não tem informações sobre prevenção e acesso ao diagnóstico precoce e
ao tratamento. Parte significativa da população ainda vive sem ter conhecimento
da sua condição. Ou seja, só vai saber que tem diabetes quando aparecer alguma
complicação, como lesão da retina", alerta o presidente do CBO, José Beniz
Neto.
Prevalência - Nesse contexto, as
mulheres são as mais acometidas, no entanto, o aumento da prevalência da doença
nos homens tem sido expressivo. Segundo a série histórica do Sistema de
Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico (Vigitel) do Ministério da Saúde, 4,6% dos homens e 6,3% das
mulheres relataram possuir diabetes em 2006. Em 2018, esses percentuais
avançaram para 7,1%, entre os homens, e 8,1%, nas mulheres. Assim, nesse
intervalo, os dados apontam aumento de incidência da doença de 54%, na
população masculina, e de 28%, na feminina.
Os números do IDF,
divulgados em 2019, também indicam crescimento preocupante do diabetes entre
crianças e adolescentes. Nesse caso, quando há surgimento da doença de forma
precoce, o risco de complicações é muito maior. O Brasil é o terceiro país do
mundo na prevalência do diabetes tipo 1, entre crianças e jovens, com 51,5
milhões de casos. Ocupa a mesma posição no que se refere em novos registros,
com 7,3 milhões, somente atrás de Índia e Estados Unidos. O levantamento traz
outro dado preocupante: a elevação de casos relacionados ao tipo 2 da doença
junto aos mais jovens, o que antes era considerado comum entre adultos.
Mortalidade - Atrás apenas das
doenças cardiovasculares e neoplasias, o diabetes é a terceira causa de óbitos
no Brasil. Em 1990, ele ocupava a 11ª causa de morte entre os brasileiros.
Devido ao seu caráter silencioso, o diabetes deveria receber atenção
prioritária dos gestores públicos e privados de saúde, avaliam especialistas.
Na maioria das vezes, ela manifesta sintomas apenas em estágios avançados de
comprometimento, fato que contribui para o aumento de suas taxas de mortalidade
e morbidade.
Na contramão de outras
doenças crônicas não transmissíveis, a taxa de mortalidade do diabetes no
Brasil vem crescendo de forma relevante. Saltou de 12,8 mortes por 100 mil
habitantes, em 1992, para 28,8 mortes, em 2010. O Nordeste (36,6), Sul (30,6) e
Sudeste (28,8) são as regiões com mais casos de óbitos por 100 mil habitantes,
seguidas do Centro-Oeste (22,6) e Norte (21,8).
Custos - Além de impactar
diretamente o dia a dia dos pacientes, o problema também é crucial para os
cofres públicos, em função dos custos associados ao tratamento, que perdura ao
longo de toda a vida do diabético. Entre os dez países com maior número de
pessoas com diabetes e gastos em Saúde, o Brasil figura em segundo lugar,
segundo o Atlas da Federação Internacional de Diabetes. Entre custos diretos e
indiretos, em 2014, foram gastos US﹩ 15,7 bilhões no atendimento de brasileiros com diabetes.
Conforme destaca o
presidente do CBO, o diabetes afeta a vida de milhões em função das várias
complicações que pode desencadear. Nesse sentido, argumenta, o acompanhamento
da saúde ocular tem papel central, visto que as alterações vasculares típicas
da doença são mais facilmente detectadas por meio de exames dos olhos.
"O diabetes causa
retinopatia e catarata, que podem levar à cegueira se não tratadas a tempo.
Além disso, os olhos funcionam como biomarcadores para o diabético. Se há
mudanças nos vasos desses órgãos, há probabilidade elevada do paciente
desenvolver alterações no coração, rins e membros inferiores", explica.
Hábitos - Prevalente em idades
mais avançadas, sobretudo a partir dos 45 anos, e em pessoas com menos
escolaridade, o diabetes também figura entre as dez principais doenças
responsáveis por incapacitar os indivíduos ao longo da vida. Nesse sentido,
tanto a prevenção quanto o tratamento do diabetes passam pela adoção de um
estilo de vida saudável, focado em alimentação balanceada e na prática regular
de exercícios físicos.
"O diabetes não
tem cura e suas complicações são bastante restritivas, como a cegueira e a
insuficiência renal, mas elas podem ser evitadas com o acompanhamento regular
do paciente e a adesão a novos hábitos", complementa o vice-presidente do
CBO, Cristiano Caixeta Umbelino.
Entre os fatores de
risco para adquirir o diabetes, constam principalmente a obesidade, além da
baixa frequência de atividade física, tabagismo, dieta pobre em grãos
integrais, castanhas, sementes e frutas, dieta rica em carnes processadas,
carnes vermelhas e bebidas açucaradas.
24 horas - Para conscientizar a
população sobre a importância de retomar o hábito de fazer exames regularmente
e ajudar a recuperar a produtividade, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia
(CBO) promove em 21 de novembro uma maratona de atividades, de modo virtual,
com foco na prevenção. O projeto se chama 24 horas pelo diabetes.
Serão entrevistas e
palestras com dicas de prevenção. Também serão apresentados depoimentos de
pacientes, de artistas e celebridades que enfrentam o diabetes, além de várias
reportagens sobre o tema. A ação digital contará com a participação dos
usuários das redes sociais, que poderão enviar perguntas, depoimentos e
comentários. Interessados poderão também participar de sessões de
teleorientação com médicos voluntários.
Novembro Azul - A estratégia, adotada
em função da pandemia de Covid-19, respeita os protocolos de segurança para
evitar a contaminação pelo coronavírus e faz alusão ao Novembro Azul, mês que
marca o Dia Mundial da Diabetes, celebrado em 14 de novembro. A programação
completa das atividades de 21 de novembro, com foco nas mídias digitais, ficará
disponível na página do CBO, dedicada ao evento (www.24hpelodiabetes.com.br).
Dentre os pontos
ressaltados, está a repercussão que o diabetes traz para a saúde ocular.
Cristiano Caixeta Umbelino lembra que a retinopatia diabética é uma das
principais causas de cegueira. "O crescimento da prevalência do diabetes
no mundo reforça a urgência de ações efetivas. No Brasil, entre 2006 e 2019, a
prevalência de diabetes passou de 5,5% para 7,4%, segundo dados do Ministério
da Saúde", destaca.
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