Até parece que você nunca quis muito um picolé ou um jogo ou uma boneca ao ponto de insistir ou achar que foi vítima de injustiça por não ter alcançado seu objetivo.
E na época de decorar a tabuada? Aqueles números pareciam impossíveis e a
impressão era que todo mundo aprenderia, menos você!!
Lembra de sentir uma vergonha profunda por não ter saído com o pessoal da
escola que tinham combinado de ir de bike lá pra pracinha?
Essas e outras situações podem ser repetição de uma realidade que todos, que
estão vivos e chegaram a vida adulta, viveram. É preciso ser criança e
adolescente para ser adulto.
Lembra?
Você também vivenciou essas etapas.
Lembrar-se disso é um grande passo para conectar-se melhor com os filhos. Vejo
que, em algumas situações, o desejo de acertar ou a responsabilidade pelos
filhos é tão grande que é difícil conseguir flexibilizar. Fica difícil dar
risadas juntos porque isso pode tirar a autoridade.
Posso afirmar uma coisa: dar risadas com os filhos ou ajudá-los a resolver uma
situação com os amigos, pode aproximar essas duas gerações.
Os pais são guias dos seus filhos. Guias responsáveis por apresentar respeito,
autoestima, educação, maturidade, limites e felicidade. Sempre digo que ter
filhos é viver se educando para conseguir educar a criança. Ensinar
autocontrole é saber controlar as próprias emoções e não ficar gritando em
situações de tensão. Como alguém pode aprender sobre respeito se é desrespeitado
pelos próprios pais?
Ensinar que é possível superar adversidades é, principalmente, mostrar que em
tempos difíceis é possível buscar racionalidade e estratégias pensando nas
alternativas. Assim, as crianças e os adolescentes terão acesso a processos de
flexibilidade, segurança, resiliência.
Quero deixar claro que é importante ensinar e solicitar tarefas. Dar
responsabilidades domésticas, mostrar que existem situações que deverão ser
resolvidas por eles e valorizar as atividades escolares, ensina independência e
compromisso com a própria vida. Ou seja, ter autoridade é assumir o lugar de
Pai, de Mãe, de guias. Ter medo dessa autoridade pode interferir na própria
segurança e mostrar insegurança para os filhos. Não que os pais não possam ser vulneráveis
em alguns momentos. São humanos. Mas estão no papel de Pais e precisam se
apropriar da autoridade, que é diferente de autoritarismo.
A conexão do olho no olho e da possibilidade de ser empático o suficiente para
desenvolver uma verdadeira relação de respeito aproxima Pais e Filhos.
E lembrar de que um dia você já foi criança pode te ajudar a melhor compreender
e se educar e, consequentemente, melhor educar e estar com os filhos. O que é
um investimento a curto, médio e longo prazo.
Elisa Leão - professora doutora de Psicologia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, psicóloga clínica e palestrante.
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