A pandemia do Covid-19 trouxe impactos significativos em diversas esferas sociais e econômicas. Pessoas físicas foram fortemente impactadas, tanto sob o ponto de vista da renda quanto sob o ponto de vista dos investimentos. O ano de 2020 vai deixar lições importantes para todos, e ter clareza a respeito dessas questões é fundamental para que possamos nos preparar melhor e garantir um futuro financeiramente mais seguro e próspero.
Nos últimos anos o Brasil vinha em uma trajetória de queda de juros e certo
otimismo no mercado financeiro, capitaneado principalmente pelo Ministro da
Fazenda e as reformas prometidas – destacando-se a reforma previdenciária,
crucial para garantir a saúde fiscal do Governo Federal. Esses fatores levaram
com que parte da população, que dispunha de capacidade de investimento, tomasse
mais risco em sua carteira pessoal e aumentasse sua participação em ativos de
renda variável buscando maiores retornos, impulsionados tanto pelo otimismo e
novas máximas no Ibovespa quanto pela gradual e constante diminuição nos
retornos de renda fixa.
O primeiro impacto financeiro da pandemia nas finanças pessoais foi a
importantíssima lição de possuir recursos em aplicações de baixíssimo risco e
alta liquidez. Esse investimento, chamado de reserva de emergência, serve
justamente para cobrir eventuais necessidades não programadas. Ter uma reserva
subestimada é altamente perigoso porque pode deixar o investidor descoberto em
caso de necessidade. Por outro lado, uma reserva superestimada significa uma
rentabilidade menor da carteira de investimentos em geral, já que a reserva de
emergência tem uma rentabilidade menor se comparada com as aplicações de longo
prazo.
A pandemia tornou claro o importante papel da reserva de emergência na gestão
dos investimentos. A renda dos trabalhadores foi impactada. Mesmo pessoas
saudáveis e que não estavam acostumadas a ter gastos mensais significativos com
saúde foram forçadas a pensar em uma eventual despesa extraordinária consigo
mesmo ou com algum ente próximo em caso de hospitalização por Covid. Aqueles
investidores que possuíam uma reserva de emergência adequada certamente foram e
estão sendo capazes de lidar muito melhor com o impacto financeiro da pandemia.
A segunda lição trazida pelo Covid-19 em finanças pessoais foi forçar os
investidores a reverem a gestão de sua carteira de investimentos sob a ótica do
risco e volatilidade. Os graduais e sucessivos cortes na taxa Selic foram
paulatinamente trazendo cada vez mais investidores ao mercado de renda
variável. Isso levou com que investidores estivessem muito expostos a
volatilidade, desrespeitando seu perfil de risco. Aqueles que não foram capazes
de suportar o bombardeio de notícias ruins e sucessivos circuit-breakers no Ibovespa viram
o valor de sua carteira de investimentos em renda variável derreter e
realizaram prejuízo.
As duas lições destacadas relacionam-se na medida em que uma reserva de
emergência subestimada e investimentos em renda variável que desrespeitaram a
estratégia e o perfil de risco do investidor fizeram com que fosse necessário
vender os ativos de renda variável (mesmo após uma forte queda) para compor a
reserva de emergência que estava aquém do ideal. Na prática isso significou um
enorme impacto negativo no volume e rentabilidade da carteira de investimentos
pessoal.
Sob a ótica dos investidores, aprender as lições trazidas à tona pela pandemia
sobre a importância da reserva de emergência e o respeito ao perfil de risco e
tolerância a volatilidade são tarefas cruciais para garantir um futuro
financeiro com mais segurança e prosperidade.
André von Baumgarten Kalim - planejador financeiro pessoal na GFAI
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