Poucos temas obtém um consenso tão significativo
entre as pessoas de diferentes opiniões como o que compete a educação. Direito
irrevogável de todos e ferramenta de transformação social, mais do que saber
ler e escrever, a educação é também conectar dados e fatos com um contexto e
uma história, propondo, a partir daí, soluções criativas que levam ao
crescimento pessoal e, mais adiante, ao amadurecimento profissional. Se
defender o acesso à educação de qualidade é chover no molhado, precisamos
entender, então, o que de fato ocorre para essa conta ainda não fechar no
Brasil e como cada um pode, de alguma forma, interferir visando um futuro mais
igualitário.
Há hoje quase 48 milhões de estudantes matriculados
na educação básica, número que, a título de comparação, equivale a totalidade
da população da Espanha. Para atender todo esse contingente, são destinados a
pasta 5,7% do PIB nacional, já considerando as três esferas públicas (federal,
estadual e municipal). É mais do que a Argentina, Colômbia, Chile e até Estados
Unidos destinam as suas respectivas populações. O entrave é: o valor destinado
do PIB não é suficiente para atender todos os estudantes e é nessa relação que
deixamos a desejar. Se é preciso investir mais ou melhorar a gestão desse
dinheiro, focado em projetos sérios e que garantam o retorno a longo prazo, é
também debater uma seara que nós, enquanto cidadãos, não conseguimos alterar de
imediato e individualmente.
O que sabemos é que há uma discrepância entre o
desempenho econômico e social com relação aqueles que avançaram nas etapas do
ensino, principalmente com quem concluiu o Superior. Segundo um documento do
Insper, “Retratos da Educação no Brasil”, publicado no último trimestre de
2018, o brasileiro que completou o Ensino Médio recebe até 32% a mais do que
aquele que completou o Fundamental. E o número avança para 230% se compararmos
este estudante com quem concluiu uma graduação. Significa que o retorno médio
de um ano a mais de escolaridade no Brasil em 2015 era de 8% a mais no salário
deste jovem para o resto da sua vida.
Se o dado acima já começa a dar a dimensão da
responsabilidade que temos frente aos desafios da educação formal, vale mais um
adendo que endossa a importância e urgência de reter os jovens dentro das
escolas: em 2015, época das análises dos dados divulgados pelo Insper, 10,5% da
população economicamente ativa estava desempregada, sendo que, destes, apenas
5,2% tinha o curso superior completo. O que temos diante de nós é uma verdade
que se revela ano após anos: somos o sétimo país mais desigual do mundo,
ficando atrás apenas de nações do continente africano, como demonstrou um
relatório publicado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento) no final do ano passado.
Se o cenário não soa muito animador no que compete
a esfera pública, dentro das escolas nos deparamos com professores
desestimulados, com pouca liderança frente aos jovens, sem um programa de
formação continuada, baixos salários e, em alguns casos, uma infraestrutura
básica ou até precária. Já aos jovens, resta se moldarem a educação
tradicional, que pouco corresponde ao estilo deles. A geração Alpha, crianças
nascidas a partir de 2010, já nasceram inseridas em um cotidiano rodeado por
tecnologia com dinâmicas de interação muito diferentes da anterior.
Em pleno desenvolvimento e com novos hábitos de
relacionamento com o meio, esta geração será muito mais independente que seus
antecessores. Parte daí, portanto, a imprescindibilidade de se criar um
ambiente educacional mais voltado às necessidades e interesses dos alunos, e
menos aos padrões sistematizados e hierárquicos de antes. Colocá-los
enfileirados, em frente a um quadro, passivos diante da apresentação de
conteúdos já deixou, há tempos, de ser o símbolo da educação ideal. O espaço
agora precisa ser rediscutido, repensado e recriado para provocar a
aprendizagem do aluno por meio de experiências e vivências em todos os campos.
Algumas escolas, sobretudo as destinadas ao público
A ou AA, já se reinventaram e passaram a valer-se de inteligência artificial e
da criatividade para propor aos estudantes novas formas de aprendizado, mais
focado em suas habilidades e que são capazes de despertar neles o desejo de
descobrir, sozinhos ou em grupo, as soluções dos problemas. Mais do que
robotizar o ensino, o que estas escolas têm proposto é tirar do professor o
papel centralizador de todo o conteúdo para ser influenciador e fortalecer,
assim, o compromisso do aluno com o seu próprio aprendizado e autonomia, a fim
de construir seu processo de conhecimento.
A proposta da nova escola que vai ao encontro do
perfil do atual jovem parece restrita aos mais privilegiados, que têm poder
aquisitivo para mensalidades que podem ultrapassar R$ 10.000,00. É nesse
momento que nós, cidadãos, podemos influenciar e deixar de alimentar uma
sociedade tão desigual se pararmos para olhar que, num contingente de 48
milhões de estudantes da educação básica, apenas 19% é da rede privada. É
possível oferecer com expertise um conteúdo atualizado, em um espaço
integrativo e otimizado, que estimule o estudante o tempo todo a assumir seu
papel de protagonista na vida e na sociedade, de forma a se tornar, sobretudo,
um agente de transformação social.
Longe de ferramentas caras e inacessíveis ou em um
ambiente que lembre uma matrix, o jovem precisa mesmo é de uma dinâmica em sala
de aula que favoreça a comunicação entre alunos e os incentivem a trocar
experiências e conhecimentos. Instigar investigações e validações os
colocam como desbravadores do saber, dando condições para seguir, ao longo da
vida, testando diferentes formas de mudar seus espaços sociais. O cenário é
favorável e não à toa o número de matrículas nas escolas privadas cresceu
1,55%, passando dos 8.995.249 de 2018 para 9.134.785 em 2019. Se é consenso
entre pais, educadores e sociedade geral que a educação é a chave para mudar o
País, resta a nós investirmos em projetos e negócios que de fato promovam a
mudança que desejamos e sejam, sobretudo, viável para todas as classes sociais.
Nathan
Schmucler -
graduado em administração de empresas pela Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ), MBA Executivo no Coppead-UFRJ, com extensão em novos
negócios na Faculdade Stellenbosh, na África do Sul. O executivo é diretor
geral da rede Luminova, escola inovadora que tem como objetivo democratizar o
acesso à educação de qualidade, promovendo o crescimento humano e ascensão
social no Brasil.
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