Opinião
Quando falamos ou escrevemos, deixamos marcas de
nossa subjetividade e compartilhamos com as pessoas a nossa forma de
compreender a realidade da qual fazemos parte. Assim, nossas concepções de ser
humano, de sociedade e de mundo são reveladas de maneira mais intensa quando
atuamos como operadores do conhecimento. Por exemplo, quando um professor
ministra uma aula ou mesmo quando um consultor pedagógico profere uma palestra,
acontece não apenas uma manifestação física do seu potencial vocal, mas
principalmente a manifestação de culturas, ideologias, subjetividades e
intencionalidades provenientes do seu universo simbólico.
No entanto, como pode o enunciador, a partir do seu
universo simbólico, envolver seus interlocutores e estabelecer um diálogo
respeitoso, pleno e profícuo? O que é necessário considerar na inclusão
daqueles que possuem uma visão diferente e que podem até mesmo assumir um
posicionamento contrário ao que defendemos? Muitos partem de supostas
“verdades” construídas no interior do seu círculo pessoal de vida e as defendem
como sendo suas crenças e práticas.
Ora, como saber se o interlocutor gostaria de ouvir
ou ler conteúdos que se distanciam ou não de sua vivência cotidiana para
descobrir novas possibilidades de compreensão da vida tendo como propósito a
busca incessante de mudanças para melhorar o seu núcleo familiar, sua formação
acadêmica ou seu desempenho profissional?
A resposta é simples: precisamos dialogar
permanentemente com todos os nossos interlocutores, sem exceção. A fala, a voz,
o discurso, a palavra pronunciada ou escrita são elementos comunicacionais que
aproximam as pessoas e as envolvem no rico processo da sociabilidade e da
interação humana, favorecendo o processo de transformação da realidade.
Quando trabalhamos na formação de professores,
realizamos trabalhos de consultoria ou nos dedicamos a qualquer outra atividade
que requeira a interação com outros, podemos compreender que a fala de cada
pessoa revela o seu modo de vida, as suas aspirações e os aspectos importantes
de sua realidade social.
Portanto, vale lembrar o legado de Mikhail Bakhtin,
que foi considerado por muitos como sendo o filósofo do diálogo, para quem a
linguagem é vida, está no trabalho e na prática social, constituindo-se como
interação, como efeito de sentidos entre interlocutores que se encontram e
confrontam por meio do signo linguístico, no processo discursivo e no jogo das
interações sociais. Ele defendia a linguagem como um constante processo de
interação mediado pelo diálogo – e não apenas como um sistema autônomo.
Pois bem, aprendi com Bakhtin que, quando assumimos
uma postura dialógica, os atos de ensinar, aprender e empregar a linguagem
passam necessariamente pelo respeito às diferenças de cada ser humano, o qual
utiliza o conhecimento de enunciados anteriores para formular suas falas e
redigir seus textos. Além disso, um enunciado sempre é modulado pelo falante
para o contexto social, histórico, cultural e ideológico.
Enfim, como pode o diálogo contribuir com a
transformação da realidade, principalmente quando lidamos com processos
educacionais? A partir do entendimento de que a história não é apenas uma série
de fatos passados. Ela está em contínua construção e acontece num mundo que
está em constante movimento, mediado pela essencialidade da Educação, que se dá
pela construção dos saberes e práticas e que requer, sobretudo, o diálogo como
instrumento vivo que medeia a ação das pessoas no presente, tendo como
referência o passado e como propósito a constituição de melhores perspectivas
para o futuro.
Antonio
Artequilino da Silva Neto - Historiador, Mestre em Educação, Doutor em
Linguística Aplicada e Consultor Pedagógico da Solução Educacional Conquista.
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