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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Consumidores devem se planejar para pagar as dívidas prorrogadas no início da pandemia

Com perdas nas fontes de renda, ter mais um boleto para pagar nesse momento requer planejamento, definição de prioridades e diálogo; volta do recebimento integral dos salários também pode ser determinante no controle das finanças


Entre as medidas para ajudar os consumidores que tiveram cortes de salário e renda reduzida no início da pandemia, a prorrogação do pagamento de dívidas e impostos pôde proporcionar um alívio momentâneo no bolso. No entanto, no segundo semestre de 2020 essas contas vão voltar para a carteira, exigindo de quem optou pelo adiamento um controle maior das finanças.

A planejadora financeira CFP® pela Planejar, Paula Sauer, afirma sob o viés da economia comportamental que muitas pessoas que optaram pela prorrogação das parcelas acabaram não se preocupando com ela nos últimos meses, o que gera maior atenção ao planejamento financeiro nesse momento. “Nós chamamos isso de ‘Síndrome de Avestruz’, quando a pessoa coloca a cabeça no buraco e não quer nem ouvir falar nisso, esse tipo de atitude é muito prejudicial, pois quando for preciso pagar, o indivíduo terá que encarar as contas”.

Segundo Fábio Bastos, também planejador financeiro certificado (CFP®) pela Planejar, a probabilidade de esquecer uma dívida e ser penalizado por multas e juros é bem maior quando não se tem um bom controle orçamentário. Essa ferramenta de planejamento financeiro irá sinalizar, entre outras coisas, sua capacidade de pagamentos e indicará as melhores alternativas para o retorno do equilíbrio financeiro.  Caso seja identificado a necessidade de uma nova postergação de pagamentos, o planejador financeiro sugere a renegociação: “A melhor opção é buscar renegociar as dívidas antes que o credor venha até você, antes que corra as multas e juros”. O credor, sabendo que o cliente se antecipou e em que condições financeiras ele está, poderá sugerir outras linhas de créditos, menos onerosas, de forma que se adeque melhor ao orçamento do cliente. “Em alguns casos, a portabilidade da dívida poderá ser também uma boa alternativa”, destaca.

Em todos os casos, a importância do planejamento financeiro é enfatizada como forma de conscientização para a tomada de decisões mais benéficas acerca do uso do dinheiro e, com relação às dívidas, “será preciso analisar minuciosamente cada item, quais são as prioridades, destacando um cuidado maior com os itens de necessidade básica e a manutenção de bens, buscando um melhor bem-estar da família e para que não haja perdas de patrimônio, caso o consumidor não tenha renda suficiente para pagar todas as parcelas necessárias”, indica Bastos.

A decisão sobre qual dívida pagar primeiro não é fácil, mas é preciso olhar cuidadosamente para todas as contas devidas e a vencer, e se organizar para efetuar o pagamento. Em alguns casos, há uma recomendação de se priorizar o pagamento das dívidas que possuem juros do maior para o menor, mas não é uma regra. Algumas dívidas com juros menores também podem ter um impacto importante no bem estar da família, como a prestação da casa própria, do carro, a mensalidade escolar, uma dívida contraída com um familiar. “É preciso organizar todas as contas por credor e data de vencimento com a cabeça fria, e, se possível, com a ajuda de alguém que tenha conhecimento técnico e não esteja envolvido emocionalmente, se planejar para colocar todas as contas em dia”, conta o profissional CFP®.

Paula Sauer reforça que “é muito difícil se readaptar a uma redução de renda, e, por isso, as pessoas acabam se endividando pra manter o padrão de vida”. Dessa forma, com o cenário econômico instável, ter o controle das finanças é fundamental, tanto para quem teve que se reinventar para ter uma outra fonte de renda, como para aqueles que tiveram salários reduzidos e que agora vão voltar a receber o pagamento integral. “Para aqueles que perderam o emprego é um cenário ainda mais delicado, e aqueles que conseguiram fazer uma redução das despesas e vão ter o aumento da receita com o salário voltando ao normal, é preciso se programar para utilizar esse dinheiro, essa diferença e se planejar para o pagamento das parcelas adiadas, além de iniciar uma reserva”, ressalta a planejadora. 


Diálogo com os familiares e dependentes

Como se já não bastassem as dívidas existentes e que deverão ser pagas em breve, é necessário que a conscientização sobre atual realidade financeira de cada família seja dialogada entre todos os dependentes da renda para que novas dívidas não sejam contraídas.

“Normalmente, aquele que se sente responsável por prover a família tende a esconder as necessidades pela falta de dinheiro; o diálogo sobre o que está acontecendo com relação às finanças dentro de casa é necessário para a readequação dos hábitos de consumo da família”, afirma Paula Sauer. “Falar sobre dinheiro deve ser algo tão natural quanto falar sobre novela, comentar o que se viu no jornal, e todas as pessoas da família precisam ser ouvidas, inclusive as crianças, para que desde cedo seja incentivada uma educação financeira”, conclui.

O planejador CFP® Fábio Bastos explica que cada pessoa responde à palavra ‘dívida’ de uma forma diferente, e por isso a situação pode afetar todo o contexto familiar caso não haja uma conversa sobre a questão. “Existem pessoas que já estão mais habituadas com as dívidas e que sabem lidar melhor com elas, mas também existe quem está passando por isso pela primeira vez e não sabe o que fazer; a dívida mexe com todo o comportamento das pessoas, e muitas vezes as colocam dentro de um túnel de preocupações, causando desequilíbrios internos que acabam afetando o relacionamento dela com o mundo e principalmente com os familiares”.

Uma forma de estar preparado para eventualidades e situações de endividamento, principalmente em momentos atípicos como o que está sendo vivido com a pandemia, é ter uma reserva de emergência. “Deixar de pagar uma conta para pagar outra é algo que deve ser evitado; quem tem uma reserva de emergência está bem mais preparado para eventualidades como essa e consegue enfrentar melhor os impactos de uma crise como a que estamos vivendo”, diz o planejador.

 



Planejar - Associação Brasileira de Planejadores Financeiros

 

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