A morte de uma pessoa querida causa dores e sentimentos imensuráveis e cada pessoa lida de um jeito diferente com essa dor. Perder alguém com o diagnóstico de coronavírus (COVID-19) é ainda mais doloroso, pois não existem as etapas normalmente seguidas para preparação do luto. Com o isolamento social, suspensão de visitas aos pacientes internados, as perdas são ainda mais doloridas, já que o velório e sepultamento são bem restritos.
O luto é um processo
complexo, e o período mais difícil é sempre o primeiro ano, pois as pessoas
enlutadas podem sentir um misto de sentimentos que oscilam como tristeza,
angústia, medo, abandono, entre outros. Além disso, o corpo pode ter
manifestações físicas de doenças psicossomáticas, como problemas de estômago,
alergias, inflamações e até câncer. Além disso, o choque da perda pode trazer
emoções fortes que faz o processo de luto ser vivenciado como um trauma, onde a
pessoa pode ter sintomas semelhantes a Transtorno de Estresse Pós Traumático,
com níveis de ansiedade alto com manifestações físicas e psíquicas que traz a
pessoa sensações de perigo e ameaça eminente como se o evento estivesse acabado
de ocorrer.
É importante que a
pessoa busque apoio da sua da família e amigos para poder apoiar-se
emocionalmente para conseguir manter a rotina do cotidiano. O período de maior
tristeza pode trazer emoções de maior dificuldade de seguir em frente, como uma
paralisia emocional, onde a pessoa sente como se ‘tivesse morrido’ junto com a
pessoa perdida.
No trabalho, a volta
deve ser gradual e que concilie envolver-se com as atividades, mas também com
espaço para cuidar das outras áreas da vida de maneira que o trabalho não sirva
de válvula de escape e mascare ou retarde o processo de luto.
Perdas precoces
A cada morte por
coronavírus, seis a dez pessoas são impactadas pela dor do luto. E a
recuperação emocional depois da perda é delicada, pois a falta dos rituais de
passagens, que são os velórios e enterros, muitos têm sofrem pela falta da
despedida.
Como sabemos, o luto é
um processo único e pessoal, esbarrar em situações dolorosas e aprender a lidar
com elas é imprescindível para o amadurecimento emocional e psíquico. Em geral,
experiências que implicam perda imediata causam sofrimento e frustração, mas
resultam em ganho no desenvolvimento posterior.
A criança
Se a criança nota que
lhe ocultam informações ou percebe desvalorização de seus sentimentos, essa
experiência ficará gravada na memória e será acessada quando vivenciar novos
processos de perda.
Na fase
pré-operacional do desenvolvimento (vai dos 2 aos 6 anos), a criança acredita
na realização de tudo que pensa ou quer e, se alguém próximo morrer, ela pode
imaginar que o fato está relacionado com seu desejo ou pensamento de destruição
e retaliação e, essa ideia pode ser fonte de culpa.
No início do processo
de elaboração do luto, a criança pode manifestar desejo de se unir à pessoa
morta, colocando-se muitas vezes em situações de risco.
Embora cause
sofrimento, a morte de animais de estimação ajuda a criança a compreender os
ciclos da vida e a superar frustrações com as quais terá que lidar durante toda
sua existência.
Os pais
É importante que
adultos próximos, como pais, avós e professores tenham cuidado na maneira de
oferecer informações sobre a morte e sua irreversibilidade, pois as primeiras
experiências costumam deixar marcas profundas.
As tentativas de
ocultar o fato ou diminuir sua importância tendem a dificultar a compreensão, a
comunicação é fundamental e requer uma maneira adequada de escutar a criança
enlutada.
É necessário
esclarecer a criança, que as pessoas mortas não voltarão e que todos um dia
morrerão, inclusive ela própria, ainda que não se saiba quando e como. Explicar
que a morte de alguém querido não significa que a criança ou as pessoas
próximas desaparecerão ao mesmo tempo.
Deve-se convidar a
criança a participar dos rituais e compartilhar sentimentos, pois poupá-la da
vivência e sonegar informações pode causar insegurança e deflagrar
comportamentos autodestrutivos.
Outra dica
interessante é usar desenhos animados infantis que abordem temas como morte e
adoecimento, como ferramenta terapêutica que podem auxiliar os pequenos a se
expressar (algumas histórias despertam o sentimento de identificação com os
personagens). Porém, é importante verificar se, nesses desenhos ou filmes, o
luto é nomeado, se há elaboração da separação, se os personagens têm apoio ou
enfrentam a dor sozinhos. Os livros também costumam ser bons coadjuvantes nesse
processo, mas não substituem o contato pessoal.
Nos casos em que a
família se vê impotente para lidar com a questão da morte e do luto, a psicoterapia
(incluindo atividade lúdica), destaca-se como forma de cuidado, pois a
comunicação das crianças pequenas não se restringe à forma oral.
Dr. Leonard F. Verea - médico, formado pela Faculdade de Medicina e
Cirurgia de Milão, Itália. Especialista em psiquiatria e Medicina
Psicossomática e Hipnose Clínica. É fundador do Instituto Verea e atua também
como médico do trabalho e médico do Trafego.
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