No longínquo 2008, quando, em meio a um enorme
debate sobre a obrigatoriedade ou não de se ter um diploma para o exercício da
prática jornalística, comecei a minha graduação, não existia o termo ‘fake news’,
tão popularizado atualmente no Brasil e no mundo.
Vou além: para os professores de jornalismo,
conceitualmente, fake news não existem, pois se é fake, não é news,
afinal ‘news’, do inglês, é ‘notícia’ e notícia é verdade. Mas,
hoje, 12 anos depois, em meio a uma CPI (Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito) que investiga notícias falsas e assédio nas redes sociais, e no
momento em que a maior rede social do planeta é pressionada a tomar medidas
mais consistentes, justamente na luta pelo combate às informações falsas, esse
cenário parece bastante realista.
A democratização da informação trouxe consigo a
facilidade do exercício de uma comunicação inconsequente, irresponsável e
perigosa. E foi aí que se iniciou uma ‘pandemia’ tão devastadora como a que
vivemos no campo da (des)informação em massa.
Foi preciso que mais de 900 empresas, das pequenas
às gigantes, se juntassem em um boicote histórico ao Facebook para que Mark
Zuckerberg tomasse uma atitude. O Stop Hate for Profit (Pare de Dar Lucro
ao Ódio) alega que o Facebook não faz o suficiente para remover conteúdos
racistas e de ódio. E sua resposta à ‘crise’ até agora não foi vista com bons
olhos pelos líderes dessa iniciativa, que se declaram decepcionados com o
posicionamento do fundador.
Adidas, Coca-Cola, Diageo, Ford, Honda, HP,
Starbucks e Unilever são apenas alguns dos muitos exemplos de companhias que
decidiram não mais destinar suas verbas de marketing para anúncios na rede
social de Zuckerberg até que os executivos da empresa adotem práticas firmes de
combate e remoção de fake news e conteúdos racistas e de
ódio.
Especificamente no Brasil, a rede social anunciou,
entre outras medidas, a remoção de mais de 85 perfis, entre contas e páginas no
Facebook e Instagram, suspeitos de formar uma rede de propagação de notícias
falsas sobre política e a pandemia do novo coronavírus, além do incentivo à
propagação dos discursos de ódio. Ao todo, os perfis banidos contavam com mais
de 1,8 milhão de seguidores.
Políticos, empresários, formadores de opinião e até
mesmo, quem diria, jornalistas se veem envolvidos em uma gigante teia de
notícias falsas no Brasil e no mundo, com os mais variados objetivos.
Parte dos acusados justifica seus atos como
‘liberdade de expressão’. Ora, vamos à definição constitucional: “é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”, segundo o Artigo 5º da Constituição Federal.
Sendo assim, não há, por essência, vínculo entre uma inverdade propagada como
notícia (fake news) e a tão mencionada liberdade de expressão.
Como jornalista e profissional de comunicação, luto
veementemente contra qualquer tipo de censura. No Brasil e em qualquer país
democrático, deve-se haver total liberdade de expressão e de imprensa, mas isso
não pode ser justificativa para que indivíduos mal intencionados, seja com
quais objetivos forem, divulguem inverdades sobre pessoas, empresas e instituições.
E quando isso acontecer – como tem se comprovado,
seja na CPI das Fake News ou no movimento Stop Hate for Profit, em pressão ao
Facebook – deve haver a punição adequada aos responsáveis, como um ‘remédio’ a
essa ‘pandemia’, e a conscientização dos demais envolvidos no universo da
comunicação e da informação para que estejamos ‘vacinados’ e possamos, em
breve, nos livrar deste mal.
Cristiano Caporici -diretor
de Comunicação e Marketing da Tecnobank
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