Sim, a doença infecciosa Covid-19 parece que
chegou para ficar. De acordo com dados fornecidos pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), ao longo de pouco mais de 6 meses de pandemia, o mundo já acumula
13 milhões de casos confirmados e 570 mil óbitos. No Brasil, a cada 100
indivíduos contaminados, 5 correm o risco de “passarem desta para uma pior”.
Assustador, não é mesmo? Agora, imagine só o que
é receber este tipo sepulcral de notícia durante os 86.400 melindrosos segundos
que compõem um fatídico dia de 24 horas. O cérebro, literalmente, não dá conta
de processar tamanha “onda” de tensão emocional, podendo sofrer o que a
psicanálise clínica denomina de fragmentação ou cisão psíquica.
Esta “quebra” se dá, de acordo com a psicanalista
austríaca Melanie Klein, especialista no desenvolvimento psicossexual referente
à primeira infância, porque o Ego, sede psíquica da consciência, está tão
fragilizado frente à ameaça de uma possível aniquilação que não resta
alternativa senão dividir-se em múltiplos pedaços diminutos como forma de se
defender.
Difícil de assimilar? Imagine, por exemplo, uma
criança que, durante uma nefasta tempestade, quando está com medo do trovão que
ressoa lá fora, põe o travesseirinho no rosto, interpelando, como se dissesse:
“pronto, agora que eu estou escondido, o mundo que desaba e que me amedronta já
não existe mais. Aqui, do lado de dentro, estou seguro de todo o mal”.
Para esta instância mental, a lógica de
funcionamento opera sob o mesmo prisma. Para não ter que lidar com o que ele
não dá conta, a tática, muitas vezes, se dá pelo caminho da autoaniquilação.
Isto é: estilhaçar-se e levar consigo toda a percepção dolorosa da realidade e
tudo que ela representa é, em miúdos, tampar mentalmente os olhos para o
abominável.
O que vêm depois, infelizmente, é uma sequência
putrificada de acontecimentos anímicos que levam o indivíduo à perda
progressiva de contato com o que é real, comportando-se como um bebê ainda
dentro do útero materno que carece do outro para reparar e reconstruir o seu
universo desmantelado. É neste cemitério mental das massas, marqueteiro, que
você entra.
Está preparado? Para auxiliar o feto-consumidor
no seu renascimento, em primeiro lugar, é importante deixar, por um momento, o
advento torto da venda de produtos e serviços a qualquer custo. Agora, é o
momento perfeito para ressignificar a dor que está por trás da passagem
terrificante do mundo aquático para o aéreo e da sofreguidão do primeiro choro.
Para isso, faça uso de substantivos-símbolo de
conotação afetiva e reconfortante nas mensagens publicitárias. As palavras
“cuidado”, “conforto”, “carinho”, “atenção”, “amor” e correlatas tenderão a
amenizar, nem que seja por poucos minutos, o sofrimento dos desalentados,
livrando-os do abismo existencial provocado pela virulência destes tempos.
Irá utilizar imagens nas suas campanhas
publicitárias? Aposte nos arquétipos femininos. Elementos como “água”, “terra”,
“árvore”, “lua” e “círculo” são forças integradoras do psiquismo, atuando como
uma espécie de argamassa que preenche os vazios emocionais. Portanto, podem ser
utilizados para soldar para as rachaduras dos Covid-consumidores.
E o que dizer dos aspectos verbais da
comunicação? Estudos desenvolvidos pela Universidade de Nova York apontam que,
quando estão em situações de perigo, os indivíduos tendem a se sentir mais
relaxados e acolhidos caso ouçam mensagens proferidas por interlocutores que
possuem tom de voz afável e pausado, reforçando suas sensações de estima e
bem-estar.
Para finalizar, lembre-se de ser um bom ouvinte,
mesmo que à dura distância. Se a sua empresa quiser fazer parte do “novo
normal”, coloque-se no lugar da boa mãe e adote canais humanizados de
atendimento ao cliente. Afinal, como diria o filósofo norte-americano Ralph
Emerson, “os homens se tornam aquilo que suas mães fazem deles”. Simples assim.
Renan Cola - psicanalista da É Freud, Viu?
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