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quarta-feira, 15 de julho de 2020

COMO VENDER PRODUTOS E SERVIÇOS EM TEMPOS DE PANDEMIA?



Sim, a doença infecciosa Covid-19 parece que chegou para ficar. De acordo com dados fornecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ao longo de pouco mais de 6 meses de pandemia, o mundo já acumula 13 milhões de casos confirmados e 570 mil óbitos. No Brasil, a cada 100 indivíduos contaminados, 5 correm o risco de “passarem desta para uma pior”.

Assustador, não é mesmo? Agora, imagine só o que é receber este tipo sepulcral de notícia durante os 86.400 melindrosos segundos que compõem um fatídico dia de 24 horas. O cérebro, literalmente, não dá conta de processar tamanha “onda” de tensão emocional, podendo sofrer o que a psicanálise clínica denomina de fragmentação ou cisão psíquica.

Esta “quebra” se dá, de acordo com a psicanalista austríaca Melanie Klein, especialista no desenvolvimento psicossexual referente à primeira infância, porque o Ego, sede psíquica da consciência, está tão fragilizado frente à ameaça de uma possível aniquilação que não resta alternativa senão dividir-se em múltiplos pedaços diminutos como forma de se defender.

Difícil de assimilar? Imagine, por exemplo, uma criança que, durante uma nefasta tempestade, quando está com medo do trovão que ressoa lá fora, põe o travesseirinho no rosto, interpelando, como se dissesse: “pronto, agora que eu estou escondido, o mundo que desaba e que me amedronta já não existe mais. Aqui, do lado de dentro, estou seguro de todo o mal”.

Para esta instância mental, a lógica de funcionamento opera sob o mesmo prisma. Para não ter que lidar com o que ele não dá conta, a tática, muitas vezes, se dá pelo caminho da autoaniquilação. Isto é: estilhaçar-se e levar consigo toda a percepção dolorosa da realidade e tudo que ela representa é, em miúdos, tampar mentalmente os olhos para o abominável.

O que vêm depois, infelizmente, é uma sequência putrificada de acontecimentos anímicos que levam o indivíduo à perda progressiva de contato com o que é real, comportando-se como um bebê ainda dentro do útero materno que carece do outro para reparar e reconstruir o seu universo desmantelado. É neste cemitério mental das massas, marqueteiro, que você entra.

Está preparado? Para auxiliar o feto-consumidor no seu renascimento, em primeiro lugar, é importante deixar, por um momento, o advento torto da venda de produtos e serviços a qualquer custo. Agora, é o momento perfeito para ressignificar a dor que está por trás da passagem terrificante do mundo aquático para o aéreo e da sofreguidão do primeiro choro.

Para isso, faça uso de substantivos-símbolo de conotação afetiva e reconfortante nas mensagens publicitárias. As palavras “cuidado”, “conforto”, “carinho”, “atenção”, “amor” e correlatas tenderão a amenizar, nem que seja por poucos minutos, o sofrimento dos desalentados, livrando-os do abismo existencial provocado pela virulência destes tempos.

Irá utilizar imagens nas suas campanhas publicitárias? Aposte nos arquétipos femininos. Elementos como “água”, “terra”, “árvore”, “lua” e “círculo” são forças integradoras do psiquismo, atuando como uma espécie de argamassa que preenche os vazios emocionais. Portanto, podem ser utilizados para soldar para as rachaduras dos Covid-consumidores.

E o que dizer dos aspectos verbais da comunicação? Estudos desenvolvidos pela Universidade de Nova York apontam que, quando estão em situações de perigo, os indivíduos tendem a se sentir mais relaxados e acolhidos caso ouçam mensagens proferidas por interlocutores que possuem tom de voz afável e pausado, reforçando suas sensações de estima e bem-estar.

Para finalizar, lembre-se de ser um bom ouvinte, mesmo que à dura distância. Se a sua empresa quiser fazer parte do “novo normal”, coloque-se no lugar da boa mãe e adote canais humanizados de atendimento ao cliente. Afinal, como diria o filósofo norte-americano Ralph Emerson, “os homens se tornam aquilo que suas mães fazem deles”. Simples assim.





Renan Cola - psicanalista da É Freud, Viu?

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